Capítulo 23

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Luna

     Não sinto nada, desde que meu irmão me trouxe contra minha vontade. Eu não sinto nada, além de apatia – Acaricio a cicatriz na coxa que adquiri na noite em que fui levada – Quando foi a última vez que eu sorri de verdade? Na última noite em que eu estava com o Adrian. Eu acho. Há quanto tempo foi isso?

     Quatro meses atrás.

     Eu não sei se consigo mais sorrir. O coringa estava certo, afinal de contas.

     Bryan tenta todos os dias comprar minha alegria com algo, e sinto que cada vez que ele se frustra em suas tentativas ele perde um pouco de sua paciência. Assim como eu perco minha esperança de que Adrian irá me encontrar a cada novo amanhecer.

     Meu irmão está parado me encarando depois de mais um dia me forçando a comer. Ele mandou que fizessem frango à parmegiana, uma de minhas comidas preferidas, mas nem isso alegrou meu estômago que se recusa a sentir fome ou qualquer necessidade de ingerir o mínimo para sobreviver.

     – Por favor.

     – Já disse que não consigo, Bryan.

     – Você já perdeu quatro quilos desde que chegou aqui.

     – E de quem é a culpa? – Ele me olha como se concordasse com meus pensamentos, mas ambos sabíamos que sua opinião de me manter com ele não mudaria – Isso nem é muito, ainda estou no limite do meu peso ideal.

     – Mas logo não estará se continuar assim. Estou ficando preocupado com você. 

      – Preocupado? Você está preocupado? – Dei uma risada irônica – Dispenso qualquer tipo de preocupação que você diz ter comigo.

     – Luna...

     – Não, Bryan. Não comece, por favor – Encaro seus olhos verdes – Se estivesse mesmo preocupado comigo, pararia agora tudo que está fazendo. Não travaria uma guerra com as pessoas as quais me importo e muito menos me manteria em cativeiro em um lugar que eu não quero estar. Tudo isso poderia ser diferente e você sabe disso, mas seu egoísmo não deixa você se preocupar de verdade comigo.

     – Você não consegue mesmo enxergar que o melhor pra você é estar comigo? Com sua família de verdade.

     – É mesmo o melhor pra mim? Ou é apenas o melhor pra você? Adrian também é minha família.

     – Ele não ama você, mais do que eu te amo.

     – Você não sabe nada sobre ele.

     – Ele é um criminoso. Um cara agressivo e perigoso. Você não faz ideia das coisas que ele já fez e quantas pessoas ele já matou. Ele não é o anjo que você pensa que ele é.

     – Engraçado, eu poderia dizer o mesmo de você.

     – Eu sou seu irmão.

     – Você matou minha família. A nossa irmã. Mandou me sequestrar. Me deixou em um lugar onde fui abusada e torturada, irmão.

     – Não era pra ter sido assim. Nunca quis que isso acontecesse. Eu amo você.

     – Isso não é amor.

     – Caralho, Luna.

– Eu estou traumatizada, Bryan. Me machucaram por sua culpa, e Adrian cuidou de mim. Ele me salvou. Ele estava lá por mim, sempre que eu precisei, me dizendo que eu ia ficar bem, que eu estava protegida. Ele cuidou de mim depois de cada pesadelo. Ele me devolveu a vontade de viver e de ser feliz. Ele sempre esteve lá, e vai estar, porque me ama, assim como eu o amo. É isso que é o amor de verdade.

O anjo vendidoOnde histórias criam vida. Descubra agora