Julie
- E aí, Jules! - Flynn me chamou, entrando na sala. - Como você está?
Fiquei muito tensa, após a entrevista e pedi para Flynn ir a minha casa, por que estava precisando desabafar. No entanto, ela não conseguiu e foi me ver no outro dia, no intervalo entre o período da tarde e da noite.
-Péssima né, amiga. - suspirei. - Aquele lugar exala uma energia tão ruim! e o entrevistado foi super grosso comigo, no início, mas depois ele cedeu.
- Você sentiu dificuldade pra conduzir a entrevista? Organizar seus pensamentos?
Neguei.
- O que houve, então?
- Não sei, ele pareceu não se importar com as perguntas. Era como se ele tivesse sido forçado, sabe?
- Sei....
- Ele me respondia com desdém e parecia não se importar com a entrevista. Todas suas respostas tinham um ataque disfarçado.
- Mas, Jules, - Flynn falou se inclinando um pouco. - ele está preso. Certeza que deve ser uma situação estressante. Ele praticamente fica isolado, sem contato com o resto da sociedade! você esperava que ele fosse como?
A Flynn sempre fazia isso. Ela sempre me fazia perguntas reflexivas e que mudavam todas minhas opiniões.
- E ele se balançava o tempo inteiro, fiquei esperando a hora dele pegar uma faca e você sabe o resto. - conclui dando uma risadinha.
Flynn riu.
- Você tá tendo pensamentos catastróficos, Julie. Tenho certeza que teve algum momento bom.
- Teve sim. - concordei. - Ele fez uma citação a um filósofo e aquilo me pegou de jeito.
- O que ele disse?
- Ele falou sobre amor.
Ela suspirou.
- Citou Rochefoucauld.
- Eu amo esse filósofo! - Flynn gritou.
Sorri.
- E ele era bem lindo. - confessei fazendo com que minha amiga arqueasse as sobrancelhas.
- Lindo como?
- Lindo, ué. Qual é o seu conceito de lindo?
A psicóloga deu uma risada que ecoou na sala.
- Ri baixo, Flynn! - reclamei. - a Carrie tá pegando no meu pé, capaz dela chegar aqui e perguntar por que estou conversando.
- Desculpa! - ela falou sussurrando. - mas, voltando a parte do prisioneiro ser lindo.... Você se apaixonou?
- Lógico que não! Como é possível ver alguém uma única vez e já se apaixonar?
- Você fez uma expressão como estivesse pensando nele, com carinho.
- Eu não fiz, não.
- Fez sim! eu vi. - ela exclamou rindo.
- Você deve ter imaginado algo. Por que eu não estou apaixonada. Nem conheço ele.
- Tudo bem, acredito em você! - Flynn me olhou rindo e fazendo uma expressão de quem não acreditava em nada.
- Você está parecendo uma adolescente! - falei, revirando os olhos. - Eu vou te explicar tudo, calma!
Expliquei a situação a ela e o como Luke havia me desnorteado. Não no sentido de paixão, mas senti como se ele soubesse algo sobre mim. Algum segredo. Foi apenas uma visita, mas teve tempo o suficiente para mexer comigo.
- Como assim um segredo?
- Não sei, ele evitava contato visual e só olhava para as mãos. O único momento que ele olhou para mim, foi quando falou sobre o local. Ele falou com tanto nojo.
- Talvez, ele fosse tímido. Ou não gostou da maneira como você conversou com ele, não sei....
- Também só sei, mas foi tudo muito estranho.
- Eu acho que você está assim, por que teve resistência em fazer a entrevista, no começo. - minha amiga continuou. - Por causa implicância da Carrie. Ou por causa do local.
Bufei.
- Não sei. - falei com dificuldade de listar alguns de meus sentimentos e pensamentos. - Eu não sei como explicar, foi um sentimento estranho.
- Pode ter sido ansiedade, em fazer a entrevista. Ou medo por que você não sabia o tipo de presidiário que iria encontrar.
- É, realmente, pode ter sido isso. Eu imaginava que fosse encontrar algum homem enorme, careca e que tivesse uma cicatriz gigantesca no rosto. Acho que por causa do que vejo na televisão.
- Pode ser. Ele era diferente disso, né?
- Muito. Até demais.
~
Terminei meu expediente, arrumei minhas coisas, peguei minha bicicleta e parti em direção a minha casa. Fiquei pensando em minha conversa com a Flynn e cogitei a ideia de realmente ter gostado da entrevista. E até pensei em começar a visitar Luke, já que ele comentou que não as recebia há tempos.
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Journalist
FanfictionOnde Julie precisa fazer uma reportagem sobre o sistema carcerário e marca uma visita, ela só não sabia que tal ato deixaria seu psicológico tão abalado.