13° capítulo.

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Luke

- Oi, Lukitinho! como você está? - Michael sorriu vindo em minha direção. Ele havia entrado em outra briga e teve que ir para as alas de cima, novamente. Então, quase não tínhamos contato. Só durante o banho de sol e, raras vezes, nas refeições.

- Oi, Michael... quanto tempo, né!?

- É. - ele sorriu e sentou no banco de concreto. - Me contaram que você fez uma entrevista e depois recebeu uma visita. Você nunca mais tinha recebido visitas! Quem era?

Sorri diante sua curiosidade. O Tolman sabia o motivo pelo qual eu estava lá. Inclusive, na minha primeira noite, soltaram um boato de havia matado uma criança e fizeram um plano para me matarem também! minha sorte foi que Michael estava na cela e me ajudou. Ele afastou os outros presidiários e gritou por Steve. Me levaram para outro local e passei uns dias lá. Só me deixaram em paz, quando chegou um verdadeiro assassino de crianças.

- Quem te contou?

- Não sei quem era, estava trocando de cela e ouvi um cochicho na 15. Fingi que estava passando mal e pedi aos guardas para respirar um pouco. Fiquei encostado na parede o tempo suficiente para ouvir tudo. - ele abriu um sorriso. - Como foi a entrevista? A jornalista era gostosa?

Soltei uma gargalhada.

- Não, Tolman. Ela não era gostosa e a entrevista foi bem. Eu odiei, no início, mas acabei falando umas coisas.

- Você contou sua história? Pra ver se te tiram daqui? Você sabe que, quando colocam reportagem sobre preso todo mundo se solidariza. Eu sei que o incidente passou na televisão; mas, sei lá, vai que ela não viu, né? - ele sorriu.

- Não falei nada sobre mim. Até porque, ela não podia saber de nada.

- De nada o quê?

Olhei no fundo de seus olhos e dei levemente de ombros, fazendo uma expressão séria.

- Meu Deus! É ela!? - ele gritou, fazendo com que algumas pessoas olhassem em nossa direção.

- É sim... - suspirei. - E ela é super gente boa. Prometeu que iria me visitar novamente.

- Mas, você contou a ela?

- Não né, porra. Tá maluco? - falei dando um empurrãozinho em seu ombro. - Se ela soubesse era capaz de me enforcar ali mesmo, no meio da entrevista. E eu nem sei nada sobre ela. Só o básico.

- Se ela vai continuar com as visitas. Ela tem o direito de saber, não é?

- Também acho. Mas, nem sei se isso vai durar muito tempo. Lembra que uma vez uma mulher fez isso também? Me viu na televisão e começou a me visitar, depois de um mês, sumiu...

- Não é pra tanto, Lukitinho! Ela conversava sozinha e você nem dava um sorriso. Eu também iria embora. - ele riu e sobrou a fumaça de seu cigarro ao longe. - Falando em televisão... você acha que ela te reconheceu?

- Acho que não, ela agia normalmente.

- Será que ela está fingindo? Pra ver se arranca algo de você?

Sorri e fui sentar em outro banco, a procura de mais sol. Michael me seguiu.

- Você acha que ela vai descobrir? - ele continuou. - Descobrir sobre você e por que você está aqui e tudo o que você fez nos anos iniciais?

- Não sei. Sinceramente, não sei. Mas, da minha boca é que não vai ser.

- Você acha mesmo que ela não vai pesquisar? Ela é jornalista e jornalista pesquisam coisas!

- Eu sei, Michael. Eu sei. Mas, não quero me preocupar com isso agora. Quem sabe, não dê sorte e ela suma. Aí não vou ter com que me preocupar.

- Se quiser que eu acelere o processo, tenho uns contatos. - ele sorriu esfregando as mãos. - Só uma ligação e puff! seus problemas acabam.

- Caralho, Tolman! você é doente. Eu não falei nesse sentido não!

- Você que sabe. - ele me passou seu maço e soprou a fumaça ao longe. - Se mudar de ideia. Faço tudo rapidinho.

- Você realmente acha que ela pode descobrir? - indaguei curioso e nervoso. - Lembrar de mim?

- Talvez sim. Talvez não. Se fosse pra ela te reconhecer, isso já teria acontecido. Até por que essa sua expressão carrancuda é inesquecível! - ele riu e me deu um soquinho no ombro.

Uma vez, li em um artigo que quando passamos por um trauma, nosso cérebro bloqueia algumas memórias. Com a intenção de evitar que fiquemos recordando e em sofrimento recorrente. Quem sabe isso não tivesse acontecido com a Julie? Quem sabe eu não tivesse dado sorte e ela realmente não lembrasse de mim?

- É, Tolman. Acho que você tem razão.

Nosso horário terminou e seguimos em direção a nossas celas. Cheguei a pensar na proposta de Michael, mas não fui pra frente. Acho que seria bom manter esse contato com Julie e, quem sabe algum dia, contar sobre tudo.

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