18° capítulo.

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Luke

Soren Kierkegaard fala que a vida só pode ser compreendida quando existe um retorno ao passado, no entanto, ela só é vivida indo em frente. Eu penso que isso é uma bonita filosofia que deveríamos buscar exercer em nossa vida. Que deveríamos visitar nosso passado, entender nossos medos; e, assim, tocarmos nossa vivência aqui na Terra. E foi nisso em que pensei, quando aceitei as visitas da Julie.

- Oi, Luke! - ela falou sorrindo.

- Oi, Julie! - respondi, enquanto me sentava diante a enorme divisória de acrílico e colocava o telefone ao ouvido. - Fiquei a semana inteira, esperando por sua visita.

- Sério?

- Sério. - sorri. - Mas, nem se empolgue muito. As coisas aqui são tensas, então, quando recebemos uma visita é um dos poucos momentos de relaxamento que temos.

Ela riu e abaixou o olhar.

- Eu não estava tão empolgada.

- Jura?

Ela riu novamente.

- O que teve de bom na sua semana? - perguntei, querendo mudar o clima.

Julie olhou para cima e deu um leve sorriso. Como se estivesse recordando-se de algo.

- Tive uma ótima conversa com meus amigos e, acho, que me reconciliei com uma pessoa. - ela sorriu novamente e olhou em meus olhos. - E na sua?

- Tive uma ótima conversa com meu amigo e consegui me livrar de uma facada.

- Luke!? - ela me olhou espantada. - Como você fala isso com tanta naturalidade? Tá tudo bem?

Eu estava começando a achar incrível o fato de nós tínhamos tido pouco contato, mas agíamos como se fôssemos velhos amigos.

- Tá sim, relaxa. - ri de sua reação. - É brincadeira! não me livrei de nenhuma facada não. Mas, tive uma ótima conversa, assim como você.

- Ah, - ela soltou o ar que prendia em seus pulmões e olhou para a mesa. - acho bom. Eu não gosto muito dessas coisas.

- Que coisas?

- Não gosto de ver as pessoas machucadas. Tenho recordações ruins, em relação à isso.

Eu sabia exatamente sobre o que ela estava falando e aquilo apertou meu coração. Eu não costumava ter compaixão para com a pessoas que conhecia pouco, mas cada palavra que ela falava remetendo a tudo que ocorreu, me deixava chateado. E, saber que eu tinha parte da culpa, tornava tudo pior.

- Eu também não gosto. Mas, tive que aprender a lidar com isso.

- Como faz pra ter um amigo aqui?

- Amigo?

- Sim, - ela sorriu. - um amigo. Você falou que teve uma conversa legal com seu amigo. Mas, na entrevista, você falou que as pessoas daqui eram uns pedaços de merda. Achei que você tivesse relação com ninguém.

- Eu não falei isso. Não falei que as pessoas era uns pedaços de merda.

- Você deu a subentender isso.

- Você é burra, porra? - falei olhando em seus olhos, fazendo com que ela inclina-se o corpo para trás. - Eu falei que não podia confiar em ninguém. E que qualquer deslize pode fazer com que você morra. São coisas diferentes. - bufei. Eu tinha tido uma noite de sono péssima, devido a ansiedade em vê-la. E ficava de mal humor, quando dormia pouco. Eu não tinha percebido isso, ainda, mas Julie sempre me deixava ansioso. - Foi mal. Eu não quis me expressar assim.

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