10° capítulo.

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Luke

Mal dormi a noite, pensando em tudo que aconteceu. Nunca imaginei que, após tantos anos, Julie apareceria em minha vida novamente. Pensei se o tratamento por parte de sua mãe era o mesmo. A pior parte de passar por um trauma é que as pessoas te enxergam com fragilidade e te rotulam como se você fosse seu trauma. Como se você fosse sua dor. Fiquei nervoso, remoendo cada minuto do meu passado. Cada palavra, grito e choro.

Foi apenas uma entrevista, mas deu tempo suficiente para que a ansiedade me corroesse por dentro e criasse um cenário catastrófico em minha mente.

Sempre acreditei que a justiça seria feita. Mas, parecia ela não estava a meu favor.

Resolvi levantar da cama e pedi pra ver Steve, eu precisava fazer algo. Aquilo não poderia assombrar minha mente novamente.

- E aí, Luke! Tudo bem?

- Não, Steve... - fui sincero. - preciso ver aquela psicóloga. Tem como marcar um horário?

- Lógico! Daqui a uma hora, ela ficará livre. Pode ser?

- Pode sim, muito obrigado.

Caminhei em direção a minha cela e voltei a repassar cada minuto da minha vida, nos últimos cinco anos. Eu só esperava que Julie não tivesse passado pelo mesmo sofrimento que passei.




Julie

Cheguei cedo no trabalho, a fim de repassar toda entrevista e a papelada. Carrie havia dito que queria uma simulação da matéria até o fim do dia.

- Oi, Julie! - Willie falou entrando no escritório. - Como você tá?

- Tô bem, tenho que terminar umas coisas aqui. Então, tenho que correr contra o tempo.

- E o seu presidiário gostoso? - ele disse sorrindo. - Como ele tá?

No dia anterior, após a conversa com Flynn, mandei mensagem para meu amigo falei sobre toda a situação ocorrida. Como se deu a entrevista e o comportamento do preso. E, logicamente, citei a beleza de Luke.

- Meu Deus, Willie. Como você é sem noção! eu nem conheço ele, o nosso único contato foi para a entrevista e pronto. Eu não pretendo voltar naquele local nunca mais.

- Tem certeza? - Willie arqueou as sobrancelhas. - do jeito que você falou, na mensagem, parecia que já estava apaixonada.

Peguei a tampinha de uma caneta e arremessei nele.

- Eu não. Tá doido? onde já se viu alguém se apaixonar por uma pessoa que só viu uma vez na vida?

- Da maneira como você falou dele, foi a única conclusão que consegui tirar. - ele sorriu novamente. - Você acha que tem como agendar uma visita a ele? Quero saber se ele é bonito mesmo e merece ficar com você.

Dei uma risada e tirei os olhos do computador a minha frente.

- Eu não vou ficar com ele. Ele tá preso! e eu não sei se ele quer algum tipo de visita. - falei na tentativa de mentir para meu amigo. Mas, realmente, estava pensando em fazer isso. Mesmo sem saber se ele iria gostar. - Ele pareceu ser sozinho e do tipo que não gosta de fazer contato com ninguém.

- Você descreveu ele com tantos detalhes e foi uma única visita. No mínimo, deu a entender que se interessou. - Willie disse me provocando e rindo.

- Eu não me interessei por ninguém não. Onde já se viu se apaixonar por um presidiário?

- Julie, não cospe pra cima que o cuspe volta na sua testa...

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