23° capítulo.

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Julie

Era fim de semana. Sábado, para ser mais exata. Também conhecido como: dia de visitar o Luke - para mim, um dos melhores dias da semana.
Nos últimos tempos, nós estávamos começando a ficarmos mais próximos e sentia que nossa ligação estava ficando cada vez mais forte.

- Oi, Julie! - ele me chamou, acenando. Ele tinha contado que as visitas iriam aumentar e, por causa disso, teriam algumas mudanças. Alguns dias, ele poderia estar em uma mesa e sem as algemas. Em outros, ele poderia estar na cabine telefônica. Tudo dependeria do humor dos guardas. Eu também estava começando a me aproximar do porteiro! seu nome era Reggie, ele era casado com Carolynn e tinham dois cachorros. Tínhamos trocado nossos números; e, sempre que possível, ele me mandava uma foto do Luke e falava como ele estava.

- Oi, Luke! - disse ao me sentar em uma cadeira de plástico.

- O que teve de bom na sua semana? - ele sorriu. Seu cabelo estava cortado e sua barba estava começando a crescer.

- Eu comecei a estudar para uma matéria nova e consegui passar, todos os dias após o trabalho, na cafeteria ao lado da Wilson's! eu já te contei que o café de lá é maravilhoso?

- Já.

- Quando você for solto, nós poderíamos passar lá! o que você acha?

Ele sorriu e abaixou o olhar.

- Acho incrível.

- E você? - continuei. - O que teve de bom a sua semana?

- Terminei de ler um livro e cortei os cabelos! - ele riu enquanto passava a mão pelos fios escuros. - percebeu o quanto estou gostoso?

Sim. - pensei. - Foi a primeira coisa que reparei: no quanto você ficou gostoso.

- Percebi! - respondi-o. - ficou bonzinho.

- Bonzinho? - ele deu uma risada. - Isso é uma ofensa! eu estou um puta de um gato.

- Ah, Luke! para de ser convencido. - ri, enquanto dava uma batidinha em seu ombro. - Nem é pra tanto.

- Julie. - ele me chamou. - Assume que você tem uma quedinha por mim.

Senti minhas bochechas queimarem e olhei para os lados. Meu Deus.

- Para de ser boba, porra! - ele deu uma gargalhada. - eu tô tirando uma com a sua cara.

Ufa.

- Ah, - forcei uma risada. - eu percebi, só estava indo no clima.

Mentira.

- Mas, - mudei de assunto. - e aí? qual livro você leu?

- Temor e Tremor. Do Kierkegaard.

- É bom?

- Incrível. - ele sorriu. Luke conseguia ficar mais bonito, a cada sorriso que dava. - Ele fala sobre Abraão. Quando mandou matar Isaac. O Kierkegaard aproveitou para pensar sobre a nossa fé. E eu também comecei a pensar sobre isso. Sobre como nós somos capazes de fazer algo, só por que alguém mandou.

- Você é religioso, Luke?

- Não. - ele respondeu.

- E por que você está aqui? - sim. Eu iria entrar nesse assunto, novamente. O Alex me falou que não tinha encontrado nada. Então, eu teria que voltar a perguntar para ele.

- De novo essa porra?

- De novo. - sorri.

- Não se deve indagar sobre tudo: é melhor que muitas coisas permaneçam ocultas.

Eu sabia que sua resposta seria alguma citação. Mas, não custava nada arriscar.

- Quem fala isso?

- Sófocles. - ele respondeu.

- Você nunca vai me contar o motivo da sua prisão?

- Nunca. - ele respondeu secamente. - Não adianta continuar tentando.

- Você sabe que eu posso pesquisar, não é?

Por um momento, vi Luke abaixar seu olhar e seus lábios perderem a cor.

- Sei. - ele sussurrou. - Eu tô meio cansado hoje. Acho que já vou voltar para a cela.

Eu sabia que isso tinha relação com minha pergunta. Ele sempre mudava de postura, quando entrávamos nesse assunto. A Flynn me falou que eu tinha de respeitar isso e não forçar nada. Quando ele estivesse pronto, iria me contar.

- Luke...

- Até mais, Julie.

Ele se levantou de sua cadeira e desapareceu entre a multidão de presidiários e visitantes.

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