24° capítulo.

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Luke

No dia seguinte, acordei com uma mensagem. Alguém havia ligado para o Steve e perguntado por mim. Mas, eu estava no banho, então, a pessoa achou melhor deixar uma mensagem.

- Ele disse que sabe o que você está fazendo e mandou tomar cuidado. Caso o contrário, ele iria acabar com você. - ele repassou a mensagem.

- Ele? - perguntei, enquanto encostava-me na parede suja e cruzava os braços.

- Sim. Ele. - ele olhou por trás do meu ombro e pediu para que fechasse a porta. - O que é que tá acontecendo, Luke?

- Não sei. Me diga você.

- Luke, é sério. - ele me repreendeu. - Você se meteu em alguma confusão?

Neguei.

- O Michael?

Neguei novamente. Ele tinha pego uma briga, mais uma vez, mas nada que fosse preocupante.

- Quer que eu peça para um guarda ficar de olho em você?

- Qual foi, Steve! - sorri. - Isso deve ser algum trote. Relaxa.

- Luke. É sério. - ele me olhou nos olhos. - vou pedir para o Reggie te vigiar.

- O Reggie e nada, dá no mesmo. - sussurrei sorri, olhando para minhas mãos.

- O que você disse?

- Nada! - levantei meu olhar e dei um leve sorriso para Steve. - vou tomar cuidado, ok?

- Luke. - ele me chamou, novamente. - Se você tiver metido em algo, me avise. Eu preciso estar a par da situação. Sei que não é do seu feitio se meter em confusão, mas me preocupo.

- Você deve tornar-se senhor de si mesmo, senhor também de suas próprias virtudes. Antes eram elas os senhores; mas não podem ser mais que seus instrumentos, ao lado de outros instrumentos. - terminei de fazer a citação e perguntei para Steve: - Sabe quem diz isso?

Ele respondeu que não.

- Friederich Nietzsche. Ele fala isso em Humano demasiado humano. Ele fala logo no prólogo, no ponto 6. Você deveria ler este livro. Ele é muito bom.

- E quais são suas virtudes, Patterson? - ele me interrompeu.

- Quais as suas, Steve?

~

Ao entardecer, enquanto estava em nosso momento de banho de sol, Michael me chamou.

- Luke!

- E aí, Michael. - respondi.

- Soube que você mandou a jornalista embora. - ele riu. - Cansou de mentir?

- Não foi bem assim. Tem todo um contexto por trás.

- E qual o contexto? - ele perguntou, enquanto tirava seu cigarro do bolso. - Quer um? - me ofereceu.

- Quero. Obrigado. - ele me passou um e acende-o com um isqueiro. Demos uma tragada, enquanto olhávamos além das grades.

- Ela perguntou o motivo pelo qual estou aqui. - comecei. - Sempre que me visita, ela pergunta isso. Eu já disse que não irei responder, mas ela continua insistindo.

- Ela tá certa. - olhei na direção de Michael. - Ué. São as perguntas básicas a se fazer para um presidiário: o por quê de sua prisão e quando ele irá sair. Todo mundo pergunta isso.

- Mas, não deveriam. É invasivo.

- Se não quer responder, não responde. Simples. Mas, tratando-se da Julie, você tem que responder sim. Ela tem o direito de saber.

- Não tem não.

- Porra, Luke! - ele deu outra tragada e soprou a fumaça ao longe. - Por que você vai continuar com isso? Por que vai continuar mentindo para ela?

Por que estou me apaixonando por ela, Michael. Estou me apaixonando pela Julie, desde o primeiro dia que a vi entrar aqui.

- Por que não sei se estou pronto para falar. Ela iria embora e eu não estou afim de perder mais alguém.

- Você tem que contar.

- Não é tão simples.

- É sim.

- Recebi uma ligação. - mudei de assunto. - Nesta manhã.

- Dela?

- Não.

- De quem?

- Não sei quem foi. O Steve só falou que era um homem.

- Você tá inscrito naquele site que funciona como um tinder para os penitenciários? - Michael virou-se de costas para as grades e olhou para mim. - Pode ser isso.

- Não, Michael. - respondi. - Eu não me inscrevi. E mesmo que estivesse inscrito, não seria um homem que iria me ligar.

Ele deu uma risada e olhou para o céu, como se estivesse pensando em algo.

- Pode ser algum advogado, querendo de ajudar.

- Michael. - chamei-o. Eu gostava de como ele pensava em varias possibilidades, para uma única coisa. Sempre em busca da solução de algo e sempre com alguma resposta (ou xingamento) pronta. - O problema foi o conteúdo da mensagem.

- O que tinha?

- Ele disse que sabia o que estava fazendo e que eu tinha que tomar cuidado.

- Você tá transando com alguém? Alguma mulher casada ou algo do tipo.

- Não, Tolman. Não estou.

Michael jogou sua cabeça para trás, olhou para o sol e deu uma última tragada. Em seguida, virou seu rosto em minha direção e continuou:

- Não sei o que pode ser. - ele fez uma careta. - Realmente não sei.

- Também não sei. Mas, o Steve acha que estou metido em algo e quer reforçar a segurança da minha cela.

- Você!? - Michael gargalhou. - Você metido em algo? O Steve chapou antes de trabalhar? - meu amigo riu novamente e soltou um suspiro. - Você tá com medo?

- Não.

- Ótimo. Se estiver, me avise. Conheço uns caras.

Joguei a bituca de meu cigarro no lixo e fui para minha cela. Peguei uma muda de roupa e andei até os chuveiros. Liguei o registro e deixei a água gelada bater em minhas costas. Pensei sobre Julie. Sobre Michael me chamar de mentiroso. E sobre a ligação que estive mencionou. Minha mente estava a mil e eu precisava fazer algo para acalma-lá, iria escrever em meu caderno.

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