15 - Egoísta

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Fiquei ali, sentada naquela sala, guardando o corpo do Sam, por horas.

Comecei a me preocupar com o Dean, com o que ele pudesse estar fazendo, onde ele pudesse estar... Mas por um lado, eu entendia a dor que ele estava sentindo.

Quando meu pai morrera, eu me senti o mais horrível dos seres, por não ter conseguido proteger ele. Eu me isolei de tudo e todos. Então, era fácil para mim saber pelo que o Dean estava passando com a morte do irmão.

Depois de horas ali, quando eu desistira de estar sentada e fui na janela, olhando o exterior, a porta abriu e Dean entrou, olhando o irmão e depois seus olhos encontraram os meus.

Ele se aproximou do corpo e, quando deu as costas para vir na minha direção, Sam abriu os olhos e sentou na cama, passando a mão pela cabeça e parecendo confuso.

Franzi o cenho.

O que estava acontecendo? Sam estava morto!

Dean abraçou o irmão, apertando forte e com tanta emoção que chegava a ser doloroso de ver.

Eu continuava ali, de pé, chocada, sem entender nada.

Os irmãos se separaram e quando Sam saiu, eu encarei Dean.

- Mas o que aconteceu aqui?

Dean suspirou. - Bekah...

E de repente, percebi o que ele poderia ter feito.

- O que você fez? - Perguntei, encarando.

Dean olhou a porta, depois o chão e depois para mim. - Eu não podia deixar ele assim! É o Sam!

Me aproximei dele. - Dean, o que você fez?!

Ele suspirou, desviou o olhar e depois me olhou de novo. - Só tenho um ano de vida.

Meu mundo caiu.

Fiquei olhando ele, sem reação alguma sem saber o que dizer e nem o que fazer.

Depois, me afastei, passei a mão pelo cabelo e olhei Dean de novo, dessa vez, a fúria me consumindo.

- Seu pai deu a vida por você! Eu ajudei você, eu mantive você vivo e fiz seu espírito regressar no seu corpo! - Gritei.

- Bekah...

Empurrei ele, que nem ofereceu resistência.

- Um ano, Dean!? Uma merda de um ano!? Porque nós batalhamos tanto por você?! Qual o sentido? Você... - Ergui as mãos e deixei cair de novo. - Para você desperdiçar assim?

Dean franziu o cenho. - É o meu irmão!

Neguei com a cabeça, sem saber o que dizer. Eu só queria socar o seu rosto bonito até ele perder os sentidos! Além de que, a ideia de perder o Dean, por algum motivo, era agonizante.

- Sabe, Dean, eu pensei que você fosse inteligente. - Falei. - Ou que pelo menos, soubesse pensar.

- O quê? Sou burro por salvar a vida do meu irmão?!

- Não, eu faria o mesmo. Mas o Sam não é normal, assim como eu não sou e não é isso que está em causa. Mas ele, sendo assim, como você pode ter certeza de que, o que regressou é, realmente, o Sam?

- O... Quê? O acordo era esse!

Assenti. - Sim, mas já sabemos que ele não é como você. Sam não é normal e você não sabe o que a morte pode ter feito com a sua alma.

Me afastei, na direção da porta.

- Rebekah.

Olhei ele, respirando fundo e esperei.

- Eu... Eu não estou dizendo que o seu esforço foi em vão. Eu agradeço por ter me mantido vivo, naquele hospital.

Assenti. - É, deu para perceber.

Abri a porta e saí.

No dia seguinte, Bobby ficou tão chocado, ou mais, do que eu ao ver Sam de pé, falando e andando como se nada tivesse acontecido.

Dean explicou para Sam que ele fora ferido, perdera os sentidos, mas que a gente conseguira tratar.

Eu permanecera calada grande parte da manhã, tomando meu café da manhã, escutando os garotos conversando.

Sentia olhares ocasionais de Bobby e Dean em mim, mas me mantive plena, ignorando.

No final, Sam pegou o laptop e vários livros, tendo Bobby como companhia. Sam descobrira que era vulgar acontecerem tempestades de grande magnitude nos locais onde o demónio de olhos amarelos surgia. Então, o Winchester mais novo andava em busca de tempestades e depois, pesquisava por acontecimentos estranhos dentro da cidade, ou estado, onde elas ocorriam.

Sorri para ele, feliz por ter ele de novo, e Sam me deu aquele sorriso dele, aquele que eu achava imensamente fofo.

Saí para a parte de trás da casa, vendo Dean terminando de arranjar algumas coisas no impala.

Me apoiei no carro, cruzando os braços.

Dean, debruçado sobre a frente do carro, apertando e mexendo, ergueu os olhos, percebendo a minha presença, e se endireitou, limpando as mãos.

- Não fica me olhando assim. - Falou. - Você faria a mesma coisa, que eu sei.

Assenti, sem expressão alguma no rosto.

- Já falou para o Sam?

Dean negou.

- Pensa contar? - Perguntei.

Ele me olhou. - Tenho de contar, né?

Assenti e respirei fundo.

- Dean, você sabe o que vai acontecer ao fim desse tempo? Por acaso você sabe como, as pessoas que fazem esses pactos, são levadas?

Dean franziu o cenho, sem entender.

- Você morre. - Deu de ombros.

Sorri. Ele não sabia.

- É, você acaba por morrer. Eu já assisti a isso, um caçador, amigo do meu pai, fez uma coisa assim. Existe uma espécie de "cachorros do inferno", que vêm pegar você.

- O quê?

- Não é simplesmente morrer. Onde você estiver, nesse dia, eles vão aparecer. E não adianta fugir, porque eles sabem sempre onde você está. Sal não adianta, munição não adianta, nada adianta. Nada funciona. E apenas a pessoa em causa consegue vê-los, na sua verdadeira forma. - Deixei os braços cair ao longo do corpo e me aproximei do Dean. - Eles rasgam você. Eles abrem o seu peito, as suas pernas, onde quer que consigam colocar os dentes ou as garras. - Suspirei. - Você vai sofrer até, finalmente, morrer, Dean. E quem estiver com você, apenas vai ver sangue e seu corpo abrindo, do nada.

Dean olhou o chão e vi seu maxilar retesar. Depois ele olhou para mim.

- Não tem como voltar atrás.

Suspirei. - Você tem noção do que isso vai fazer para o Sam?

- Qual é Bekah? Eu...

- Não, me responde. Você fez isso por você, porque você não conseguia viver sem o Sam. Você não aguentaria. Na verdade, eu acho que você, ainda assim, escolheu o caminho mais fácil.

Dean franziu o cenho. - Mais fácil? Eu vou morrer!

Assenti. - Vai sofrer pra caralho, mas depois, acabou. Quem fica aqui, vivo, tem de aprender a lidar com a sua ausência, com a dor, a perda. Você foi egoísta, na verdade.

Dei as costas e me afastei, entrando na casa e deixando Dean sozinho, olhando para as minhas costas.

BlakeOnde histórias criam vida. Descubra agora