Obesidade?

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Depois que a reunião do Hugo começou, fui embora para a minha casa levando os carrinhos quebrados e assim que cheguei, os coloquei no lugar em que o meu pai me pediu. Como ainda era cedo e o ensaio acontecerá somente mais tarde, resolvi colocar uma roupa de treino e fui até a minha academia para me exercitar um pouco. Me alonguei e depois comecei a fazer uns agachamentos segurando um peso, fiz uns trinta agachamentos e já estava ótimo, depois resolvi engatar na esteira em uma velocidade razoável.

Sabe quando você está muito empolgado para fazer algo mas sente que o seu corpo não está reagindo do jeito que deveria estar, mas mesmo assim você insiste em fazer?, pois então, estou sentindo o meu corpo fraco desde que saí da empresa e de cinco em cinco minutos sinto que o ar me abandona. Tento ficar na esteira por mais alguns minutos, mas acabo tendo que sair quando sinto a minha cabeça rodar em uma tontura terrível me fazendo cambalear e por fim apagar de vez.

•••
Não sei ao certo o que aconteceu, só sei que quando acordei, Luísa me chacoalhava desesperada e quando viu que eu estava reagindo, soltou um suspiro aliviado. Me sentei lentamente e passei as minhas mãos pelo o meu rosto, vi Luísa se levantar e pegar um copo de água para mim, bebi tudo de forma afobada e quando me vi mais calma, tentei me levantar, porém, uma nova tontura me atingiu me fazendo sentar novamente.

Luísa: Ei ei, devagar — Ela leva as mãos até o meu cabelo e faz um coque no mesmo — O que aconteceu?, você me deixou desesperada, amiga!.

Eu: Foi só um mal-estar, nada demais — Ela franze o cenho — Preciso de mais água — Ela levanta e busca mais água para mim — Obrigada!.

Luísa: Cheguei aqui e você estava estirada nesse chão, você está mais branca do que papel, Carla — Reviro os olhos — Isso não foi um mal-estar qualquer, isso é falta de uma alimentação decente, saudável!.

Eu: Não tem nada de errado com a minha alimentação, relaxa — Ela nega com a cabeça — Me ajuda a levantar, por favor!.

Luísa: Okay, mas você vai tomar um banho, vai sentar a sua bunda na mesa e só vai sair de lá depois de comer tudinho — Tento protestar, mas ela me cala — E eu não estou brincando com você — Bufo irritada e ela me ajuda a levantar.

Luísa ficou me vigiando durante o banho para ter certeza de que eu estava bem e quando acabei, ela me ajuda a me vestir já que eu estava fraca ainda. Ela me arrastou até a mesa e pediu a Silvia para me servir uma comida caprichada, reclamei por não ser hora de almoço e ela simplesmente me ignorou e me forçou a comer, Luísa não me deixou largar nada e me ameaçou com o olhar cada vez que eu tentava enrolar ela.

Quando terminei, Luísa me acompanhou até o banheiro e ficou me vigiando para não vomitar, escovei o meu dente tentando ao máximo não colocar tudo o que comi para fora.

Luísa: Cancelei o ensaio — Se joga na minha cama — E nem adianta me olhar com essa cara, você não está bem!.

Eu: Não precisava ter cancelado, Luísa. Você poderia treinar eles muito bem, vocês estão muito parados e não podem ficar sem se exercitar!.

Luísa: Eu não vou treinar ninguém, vou ficar aqui cuidando de você — Reviro os olhos — Ao invés de reclamar, você deveria me agradecer, vai me ter pelo o resto do dia!.

Ouvimos batidas na porta e assim que abri, dei de cara com a minha mãe com cara de poucos amigos, ela me deu um beijo na testa e entrou no quarto se jogando na minha cama ao lado da Luísa.

Eu: Que invasão é essa? — Cruzo os braços.

Helena: Preciso de paz e sossego, demiti três funcionários hoje!.

Eu: Que chato, mas isso não é assunto meu, não me interessa saber dos seus problemas — Ela ergue a cabeça para me olhar indignada.

Luísa: Ei, fala direito com a sua mãe. O que é isso?, é o poste que mija no cachorro agora? — Ela me repreende.

Helena: Minha filha, você está pálida. Está se sentindo bem? — Digo que sim e ela desconfia, mas assente — Aqueles três patetas estavam tentando sabotar os nossos brinquedos, acredita?.

Eu: Acredito — Respondo sem vontade e escuto o celular da Luísa tocar, ela atende e sai do quarto para falar melhor — Mãe, você acha que eu estou engordando? — Pergunto com receio.

Helena: Engordando?, ah eu não sei, filha. As roupas que você costumava usar ainda cabem em você?, se estão apertada é porque está na hora de você começar a se preocupar — Olho para o meu corpo no espelho e depois analiso a minha mãe.

Eu: Você sempre foi tão bonita, não é, mãe?, sempre foi tão magrinha — Ela assente.

Helena: Sim filha, não suporto obesidade. Gosto nem de pensar que posso engordar, amo demais o meu corpinho — Suspiro chateada comigo mesmo — Inclusive eu quase não vejo você usando a academia aqui de casa, minha filha, precisa cuidar do seu corpinho para não virar uma bola, já pensou?.

Eu: Mas eu sempre uso ela, eu cuido do meu corpo. Sempre faço jejum, e só me alimento com coisas saudáveis — Ela assente.

Helena: Se tiver fazendo do jeito certo, não vejo problema nenhum — Ela se levanta e vejo a Luísa retornando — Vou tomar um banho — Ela beija a minha testa e depois faz o mesmo com a Luísa — Olha a Luísa, ela tem o corpinho perfeito igual ao meu, se espelha nela — Veja ela passar as mãos no cabelo da Luísa — Na verdade você se parece muito comigo, Luísa, dá até para se passar como minha filha — Diz e sai do quarto nos deixando sem entender.

Luísa: O que rolou aqui? — Digo que nada — Carla?.

Eu: Papo de mãe para filha, esquenta não — Ela me encara desconfiada — Preciso ir ao banheiro — Antes que ela fale alguma coisa, corro até o banheiro e me tranco lá.

Na minha opinião, a minha mãe é a mulher mais linda do mundo e tudo o que eu mais desejo na vida é ser igual a ela, ter o corpo igual ao dela. Ela é magra e desejada, minha mãe foi feita na medida certa e eu não sou nem a metade dela. Apesar das desavenças, a minha maior inspiração é ela. A alimentação da minha mãe é controlada, mas não exagerada como a minha, ela vai ao nutricionista e segue tudo o que ele diz a ela, sem dúvidas, ela é de boa com o corpo que tem.

Ouvir ela dizer que tem pavor a obesidade e praticamente comparar o corpo da Luísa com o meu, me entristeceu e embrulhou o meu estômago. Eu batalho para ter o corpo perfeito, fico sem comer direito por dias e praticamente vivo dentro da academia, eu deveria ser uma deusa. Já a Luísa, é acompanhada pelo nutricionista da minha mãe, porém, nem sempre segue o que ele manda. Ela come o que quer, as vezes faz dietas e quase nunca vai a academia, mas mesmo assim tem o corpo perfeito, isso é justo?, para mim não parece ser justo.

•••
Estou a mais de meia hora trancada nesse banheiro, já vomitei e agora estou olhando para o meu reflexo no espelho.

Eu: Mas que saco, eu estou obesa — Seco a lágrima que insistia em cair — Deus, por que o senhor não me fez com o corpo da Luísa ou o da minha mãe?, por me fez tão gorda?, que inferno — Escuto a Luísa bater na porta dizendo que iria arrombar se eu não sair do banheiro de uma vez — Já estou saindo — Bufo, seco o meu rosto e saio do banheiro.

O Fruto ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora