O jantar

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Márcio: Não começa com esse assunto de novo não, Carla, isso não é hora — Ele volta a olhar para o celular me deixando com mais raiva ainda.

Eu: Ah não?, e quando é a hora?, nunca? — Ele me ignora — OLHA PRA MIM, PAI — Bato os pés esbravejando e vejo a fúria no olhar dele — Consegui a sua atenção agora?.

Márcio: Quando é que você vai parar com essas pirraças, Carla?.

Eu: Incrível como tudo pra você é pirraça, por acaso você já pensou em mim como sua filha alguma vez da sua vida?, ou você só preferia que eu tivesse morrido no lugar do meu irmão mesmo?.

Márcio: Você é impossível mesmo, já chega dessa conversa — Ele tenta sair, mas eu continuo falando.

Eu: Por que?, POR QUÊ? — Seguro o braço dele — Por que me evita?, por que não conversa comigo?, por que insiste em me tratar com indiferença?, o que eu significo para você?, hein pai, qual é a minha importância na sua vida? — Ele puxa os braços — Pai?.

Márcio: O seu problema é que você se importa demais, você é carente, Carla. Você implora por atenção e isso embrulha o meu estômago!.

Eu: Então esse é o problema?, eu implorar pela sua atenção, coisa que nem deveria ser cobrada porque é o seu dever me dar atenção, esse é o problema? — Ele se cala — Que bosta, Márcio López — Mordo o meu lábio em busca de não chorar para não demonstrar fraqueza — Mas isso não é tudo, não é?, você me acha uma assassina, acha que eu sou a culpada por não proteger o meu irmão!.

Márcio: Você vive falando isso, mas a real é que eu nunca te culpei por essa tragédia!.

Eu: Não mente, pai, não é justo. Não precisa tentar me convencer do contrário, eu vejo nos seus olhos a dor que carrega, mas sabe?, eu não tive culpa do que aconteceu!.

Márcio: Encerra o assunto, Carla!.

Eu: Não quer falar sobre o Marco então tudo bem, vou respeitar a sua escolha de não falar sobre a morte dele, eu sei que você nunca vai gostar de mim como gostava dele mesmo — Digo e saio dali.

•••
Entro no meu quarto batendo a porta, parece que tiraram o dia para me dar broncas. Pelo visto mostrar que ainda me importo não está adiantando, talvez o desprezo realmente seja a solução, mas me diz, como vou fingir que ele não existe morando debaixo do mesmo teto que ele?. Emoções atrapalham o nosso julgamento. Mas caramba, eu não sei ser totalmente fria, eu não sei fingir que não me afeta quando claramente está me destruindo.

Como seria se o meu irmão estivesse aqui?, eu seria a princesinha do papai ou ele me trataria dessa mesma forma?.

Eu: Eu não matei você, Marco...não matei — Seco a lágrima que escorreu e escuto batidas na porta — Entra — Vejo a minha mãe entrar e automaticamente reviro os olhos — Não quero discutir, mãe!.

Helena: Não vim discutir, vim saber com que roupa você vai ao jantar — Bufo entediada — Quer ajuda para escolher?.

Eu: Dispenso, sei me vestir sozinha — Me levanto me esquivando dos carinhos dela.

Helena: Estou tentando passar um tempo com você, filha — Forço uma risada sem graça.

Eu: Para mãe, não me venha querer bancar a mãe do ano comigo não. Você até que é legal e tudo mais, diferente do meu pai você demonstra amor, mas você nunca foi de gastar o seu tempo comigo, então só para!.

O Fruto ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora