Prólogo

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Enid chegava de seu trabalho
extremamente animada aquele dia, afinal tinha conseguido o telefone de Ajax, seu companheiro de escritório. Seu terno social feminino cinza moldava sua silhueta de uma forma estonteante para quem a visse; sua saia até um pouco abaixo dos joelhos modelava seu traseiro, dando confiava para quem sabia ser dona das mais belas curvas; nos pés seu salto agulha preto, que combinava com a armação de seus óculos. Seus brincos de ouro combinavam com sua pulseira e relógio, enquanto no pescoço ela levava seu simples colar de coração. O havia ganhado quando era mais nova, de seu pai.

O coração se abria e nele havia o espaço para uma pequena foto. O senhor Sinclair se recusou a deixar a menina colocar uma foto dele ali, disse que seu desejo era que o coração fosse ocupado por quem a garota se apaixonasse e realmente entregasse seu coração, no intuito de formar, um dia, uma família. Enid jamais se apaixonou tão intensamente, portanto, andava com o coração dourado vazio em seu peito, apenas para manter a lembrança de seu falecido pai.

A porta da frente rangeu quando ela a empurrou e, no mesmo instante, seus olhos se esbugalharam, sua boca secou e seu coração se estilhaçou.

Um soluço chamou sua atenção assim que desligou, fazendo-a se virar para a pia, sua boca se amargou e seu coração se acelerou.

— O que... O que você fez? – Enid gritou, vendo a faca encharcada de sangue na mão de sua mãe, que agora se entregara de vez ao choro.

— Ele me chamou de louca... Eu não
sou... Eu não quis... oh céus! – A mulher
tremulava. Enid, tomada pelo ódio, se levantou e o ruído de seu salto pelo
assoalho se destacava no ambiente
silencioso.

— Você o matou? – Enid perguntou, vendo os olhos sem vida da senhora Sinclair se encontrarem com os seus.

— Eu não quis. – A mulher disse,
completamente fora de si.

— Oh, céus! Não, não, não... – Enid repetiu para si, sabendo que sua mãenão estava sob efeito de seus remédios. — Me dê isso. – Enid disse, tentando pegar a faca da mão de sua mãe, porém a mulher esquivou-se de sua filha.

— Eu vou ser presa, não vou? – Perguntou desesperada.

— Você precisa ser internada. Você o matou! – Enid gritou, mesmo sabendo que aquele não era o jeito certo de se agir naquela situação, mas ela não podia se conter: A dor estava lhe corrompendo. — Me dê isso. – Enid pediu, avançando em sua mãe e puxando a faça de sua mão.

— Me devolva, eu vou fazer o mesmo
comigo. – A mulher gritou, sendo segurada por Enid, quem enfiou, a força, as mãos da mulher embaixo da água para lavá-la. Seu corpo foi empurrado, mas Enid foi mais rápida e segurou a faca, impedindo sua mãe de cometer suicídio.

— Não, mamãe! – Gritou. Sua mãe sofria de um distúrbio mental, porém passou os últimos anos de sua vida tomando remédio que uma amiga lhe dava sem receitas, pois jamais aceitou ir para um manicômio. Como tomava os remédios corretamente, a família passou a não se importar em ir atrás de nada, porém como Enid provaria que sua mãe sofria disso tão rapidamente? Tinha certeza que o diagnóstico demoraria e que demorariam longos meses em um tribunal. Oh céus!

Sua mãe seria presa ou internada, caso conseguissem provar seu distúrbio, o que era obvio que conseguiriam, afinal ele existia.

— Enid, pare! – A mulher gritou desesperada desesperada. — Pare! Pare! Pare!

— Mãos para o alto e solte essa faca! –
Enid ouviu de supetão, fazendo-a dar um passo atrás e erguer suas mãos na cabeça.

— Não é o que parece. Não posso soltar essa faca, pois minha mãe pode se matar. Alguém poderia vir pegá-la, por favor? – Enid pediu enquanto tremia pela adrenalina.

— Ela tentou me matar também. Ela nos
odeia! Nos odeia! – Sra. Sinclair gritou. — Graças a Deus vocês chegaram.

— Senhorita, você está presa por flagrante de homicídio e tentativa de homicídio duplo. Tudo o que disser agora será usado contra você no tribunal. – Enid fechou os olhos e suspirou, tendo um único pensamento dominando sua mente:

Puta merda. Fodeu!

[...]

— Todos as testemunhas do bairro
afirmam que a senhorita Enid Sinclair vivía em constantes desentendimentos com seu irmão Joseph Sinclair. – A mulher dizia no tribunal. — Nenhuma prova foi obtida de um possível distúrbio na senhora Sinclair por isso não submeteremos a mesma a um enxame clínico. – Enid tremia, como assim nenhuma prova? Onde estava sua irmã, afinal? Sophia sabia de tudo, ela conhecia a pessoa que costumava dar remédios ilegalmente a sua mãe, porém a Sinclair mais nova sumiu do mapa nos últimos tempos. — Após analisar todos os fatos e todas as provas aqui apresentadas, eu declaro a senhorita Enid Sinclair culpada por homicídio culposo e tentativa de homicídio da senhora Stephany Sinclair, tendo como pena vinte e dois anos de prisão, sem direito à fiança ou à redução de pena por bom comportamento.

O quê? Enid sentiu seu estômago
se revolver e uma enorme vontade de
vomitar. Sua pressão baixou e ela precisou sentar-se novamente para não cair. As vozes se tornaram um som distante e sua vista ficou completamente embaçada. Que
porra estava acontecendo com sua vida? Aquilo só poderia ser um pesadelo. Um dos piores.

Presa Por Acaso - WENCLAIROnde histórias criam vida. Descubra agora