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— Wednesday? – Enid chamou no meio da madrugada, fazendo a morena abrir os olhos imediatamente.

— O que foi? – Ela perguntou meio
sonolenta e Enid se virou na cama,
enterrando o rosto em seu pescoço.

— Tive um pesadelo. – Ela disse baixinho e Wednesday nada disse, apenas envolveu um de seus braços em torno de Enid e iniciou uma carícia mansa.

— Quer compartilhar? – Wednesday indagou e Enid assentiu.

— Eu saía daqui e você ficava... E eu nunca mais te via. Você não queria me deixar te visitar, nessa droga de pesadelo. – Enid disse e o silêncio se propagou pelo ambiente.

— Shh... – Wednesday falou, depositando um beijo nos cabelos loiros. Enid a abraçou fortemente antes de voltar a falar algo.

— É exatamente o que fará, não é? – Enid perguntou e Wednesday a fitou. Apesar do escuro ela conseguia ver com clareza os olhos azuis e tristes.

— Eu sou pobre fora daqui. – Wednesday disse por fim. — E fodida. Eu não tenho ninguém lá fora. Sequer tenho aonde ficar. – Confessou. — Nunca fiz uma faculdade e terei a ficha manchada, o que dificultará minhas chances de arrumar um emprego.
– Sua mão foi até o rosto de Enid unicamente para enxugar uma lágrima
solitária. — É isso o que quer para a sua
vida?

— Eu quero você para a minha vida e não importa o resto, Wednesday. – Enid falou e a morena umedeceu os lábios.

— Você merece coisa melhor, Enid. Alguém que possa...

— Não! – Enid a cortou. — Eu não preciso de alguém rico, eu já sou e sei que o dinheiro não pode comprar amor. – Falou firmemente. — Não preciso de
alguém formado em nada, Wed. Olha, você pode não ter um lugar na alta sociedade, mas cuidou de mim melhor do que qualquer pessoa antes.

— Quando você sair faltará um ano e
meio ainda para eu sair, Enid. – Wednesday disse tristemente. — Você pode encontrar alguém lá fora e...

— Não! – A cortou novamente. —
Um ano e meio não é nada perto do resto de nossas vidas. — Wednesday sentiu seus olhos arderem, ninguém nunca havia insistido nela daquela forma.

— Você só me conhece há dois meses, Nid.

— Mas já percebi que o coração da garota que me deu um bilhete anos atrás não mudou e eu gosto disso em você.

— Podemos... Não falar disso agora? – Wednesday pediu e Enid assentiu tristemente.

— Tudo bem. – Enid disse e se inclinou,
aplicando um beijo nos lábios da morena antes de se virar, puxando o braço de Wednesday junto com ela, fazendo-a abraçá-la. Fazia semanas que Wednesday dormia na própria cama, Enid sempre queria ela ali com ela.

— A terceira vez que nossas vidas se
cruzaram foi em um hospital. – Wednesday disse do nada, a abraçando mais forte. — E é por essa vez que eu sei que você merece mais do que eu. – Enid se virou para ela rapidamente, analisando minuciosamente suas feições.

— Não pode me dizer só isso. – Alegou e
Wednesday riu.

— Eu posso sim, na verdade, mas não farei isso. – Ela disse. — Meu avô tinha uma doença rara no pulmão e por isso vivia internado. Ela começou, não vendo o porquê de esconder aquilo de Enid. — Ele precisava de duas cirurgias, mas era um valor exorbitante e não tínhamos condições, por isso eu trabalhava de qualquer coisa que aparecesse.

— Eram da Florida? – Enid indagou e
Wednesday assentiu.

— Mudamos para cá porque conseguimos uma vaga num hospital melhor para ele. – Wednesday explicou. — Ele estava prestes a morrer e eu sentia meu mundo inteiro desmoronando, porém fui contemplada
com a notícia de que o número do quarto do meu avô foi sorteado por uma doadora e com esse dinheiro conseguimos pagar uma das cirurgias que passamos anos adiando. — Era você, Nid... – Enid viu o lábio inferior de Wednesday tremer e levou uma mão ao rosto da morena, espantando as lágrimas com o polegar.

— Eu sempre faço doações em hospitais, só não tinha a noção da dimensão da minha ajuda. – Enid confessou e Wednesday sorriu tristemente.

— Você me deu de presente sete meses a mais com meu avô e eu nunca, nunca irei esquecer isso. – Ela disse, abraçando Enid. — Sempre desejei te agradecer, mas nunca tive oportunidade, então obrigada, Enid.

— Sete meses? – Enid perguntou
confusa e Wednesday assentiu.

— Como eu disse, ele precisava de duas
cirurgias. Só realizamos uma. – Sinclair sentiu seu coração se comprimir em seu peito e sua boca secar.

— Como... Por que você não... Deveria ter me contatado. Eu poderia... – Maldito planeta onde sem dinheiro permitiam alguém morrer. Que tipo de crueldade era aquela? — Me desculpa, Wednesday. Me perdoa, eu poderia...

— Não. Não faça isso com você, meu amor. – Wednesday pediu ao ver que Enid havia começado a chorar. — Você não poderia saber de nada. Sem você ele morreria em semanas. Você me deu o melhor presente do mundo, sete meses a mais com ele. – Disse, vendo Enid ainda desolada. — Eu só te conheci ali por Enid Sinclair, sem rosto, apenas um nome. Quando vi você entrar aqui e ser anunciada como Enid Sinclair eu não pude crer que as duas pessoas que mais admirei na vida eram a mesma pessoa.

— Wed, você não tentou me contatar por quê?

— Você era rica e importante, nunca
deixariam uma pobre falar com você.
Te procurei em redes sociais, mas não
achei. – Wednesday confessou. — E eu sequer te conhecia para pedir tudo aquilo de dinheiro.

— Eu daria. Céus, eu teria dado sem
pensar duas vezes. – Falou com firmeza. — Por favor, me perdoa.

— Eu sei que você teria dado. – Wednesday disse sorrindo fraco. — Você é a pessoa dona de um coração gigantesco.

— Eu estou me sentindo impotente e vazia. – Enid falou e Wednesday a beijou docemente nos lábios.

— Você é a pessoa mais importante no mundo pra mim, não deveria se sentir assim.

— Então por que ainda me sinto? – Enid perguntou sentindo um buraco em seu peito e Wednesday suspirou.

— Porque essa é você. Tende a sentir a
necessidade de melhorar o mundo e odeia injustiças. Essa é você, Nid. — Enid umedeceu os lábios, ainda frustrada.

— Se eu pudesse ter salvado o meu pai eu teria feito, Wednesday. Não posso acreditar que eu poderia ter te ajudado. Eu não...

— Sei como se sente. –Wednesday disse. — Eu também tentei salvar meu avô, mas olha só a diferença de uma rica para uma pobre... Eu precisei acabar presa para isso. – Enid ergueu o rosto e a fitou.

— O que quer dizer, Wednesday? – A morena suspirou. Diria o motivo de ter ido presa para ela sem remorso, diria porque Enid a tinha por completo; diria porque finalmente sentia-se pronta para isso.

Presa Por Acaso - WENCLAIROnde histórias criam vida. Descubra agora