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Os olhos escuros fitaram Enid por
longos minutos, vendo que a mesma sequer se movia. Wednesday decidiu se aproximar dela, se deitando sobre a cama, ao seu lado, antes de tentar a comunicação.

— Hey... – A voz rouca soou docemente
atrás de Enid e um braço circulando sua cintura. — Não fique chateada comigo. – Wednesday pediu e Enid torceu a boca, se virando para ela lentamente.

— Não estou. – Ela disse, fitando as orbes escuras.

— Então por que ficou assim? – Wednesday indagou e Enid a abraçou, se encostando mais em seu corpo.

— É que havíamos compartilhado algo... nosso. – Enid disse envergonhada. — E eu me senti tão bem, mas aí a realidade dos segredos e mistérios bateu em minha porta cedo demais. – Confessou e Wednesday  assentiu, decidida a ceder mais um pouco.

— Se eu te contar a segunda vez que
nossas vidas se cruzaram eu ainda poderei dormir abraçadinha com você? – Wednesday  perguntou e os olhos curiosos de Sinclair encontraram os seus.

— Sim. – Enid respondeu, se aconchegando nos braços da morena antes de sentir a mesma puxar o cobertor para cobri-las.

— Desta vez precisarei ir mais a fundo em alguns detalhes.

— Quanto mais fundo melhor. – Enid disse, ouvindo Wednesday rir alto ao ouvir aquilo, só então caiu em percepção do que havia dito. — Hey, eu não disse com malícia! – Falou rindo e Wednesday assentiu.

— Certo, desculpe. – Ela disse iniciando
uma carícia leve e mansa no braço de
Enid. — Dessa vez tudo começou em um funeral. – Wednesday disse, fazendo Enid erguer o rosto para ela com preocupação.

— Já não sei se quero ouvir. – Enid disse e Wednesday depositou um beijo na ponta de seu nariz.

— Então eu não falo. – Wednesday disse e Enid negou rapidamente.

— Não, por favor... – Ela insistiu e a Wednesday riu, assentindo.

— Bem, eu tinha uns dezessete anos e
ainda precisava muito, muito, muito
mesmo de dinheiro... Um dia vi na
televisão que um empresário muito
conhecido e importante havia falecido... – Wednesday começou. — Eu sequer me importei em gravar o nome dele, o que havia chamado a minha atenção era o local do enterro. Era perto de onde eu estava e era aberto ao público.

— O enterro do meu pai foi assim. – Enid cortou e Wednesday a fitou, levando uma mão até seu rosto para acariciar a região.

— Naquele dia eu decidi investir todo o
dinheiro que eu tinha em flores. – Wednesday confessou. — Comprei de todos os tipos e passei horas fazendo arranjos e buquês. Peguei todas as flores e as embrulhei em um enorme tapete, com cuidado para não danificá-las e as levei para o enterro do homem para vendê-las. – Disse, analisando a expressão que se formava no rosto de Enid. — Chegando lá eu te vi. — Enid paralisou, ligando os pontos.

— Era... você estava... você... – Enid estava atônita e Wednesday apenas a abraçou mais forte, fitando-a.

— Sim, era o enterro do seu pai. –
Informou e Enid sentiu seu corpo
fraquejar e uma antiga dor se reacender em seu peito. — Você me salvou aquele dia também.

— Como? – A voz vacilante perguntou
curiosa. — Eu mal podia me salvar.

— Eu te vi lá, sozinha, sentada no
gramado, mais afastada de todos,
chorando. Tão frágil... – Wednesday disse em um suspiro. — Você estava com o corpo mais desenvolvido desde a última vez que havia te visto, tão linda como sempre, só que chorava incessantemente. Eu já disse... Ver você chorar me quebra.

— Você foi falar comigo? – Enid
perguntou e Wednesday assentiu. — Mas eu não lembro. – A morena riu baixinho ao ouvir aquilo.

— É porque nunca cheguei até você. – Falou. — Não diretamente.

— Covarde. – Enid brincou e Wednesday riu, selando-lhe os lábios com os seus.

— Eu posso me defender? – Wednesday indagou contra os lábios da loira e Enid sorriu, assentindo. — Bem, eu peguei o ramo de flores mais bonito que havia entre os meus e deixei as outras flores lá, unicamente para me aproximar de você, mas antes eu escrevi um bilhete. Eu queria agradecer sabe? Me sentia em débito, porém também queria te consolar... — Ela disse.

— Eu não acredito... – Enid proferiu
boquiabierta.

— Deixei as flores ao seu lado junto com meu bilhete e estava pronta para me sentar ao seu lado e te tomar em meus braços ainda que você não quisesse. – Falou veemente. — Céus, você sequer havia me visto, estava chorando tanto... – Wednesday umedeceu seus lábios antes de continuar. — Mas aí o grito de um dos
seguranças do local chamou a minha
atenção. Quando olhei ele queria jogar
fora minhas flores. Eu... precisei ir, sabe? Era todo o meu dinheiro ali. – Confessou tristemente.

— Foi você... – Enid disse surpresa e Wednesday projetou um meio sorriso.

— Você gostou das flores?

— Amei, mas o bilhete... – Enid disse sorrindo bobamente.

— Fico feliz. – Wednesday disse rindo junto. — Bem, o segurança queria jogar tudo fora e me expulsar dali, dizendo que eu não tinha licença e eu tive que me humilhar implorando para ele, por
favor, não me expulsar. Ficamos longos
minutos debatendo, mas aí você chegou perguntando o que estava acontecendo ali. – Wednesday disse rindo nostálgica. — Novamente mostrando o quão destemida e incrível você era. – Disse sorrindo, deslizando a vértice de seu nariz ao longo do rosto de Enid, fazendo a mesma ter suas batidas cardíacas irregulares.

— Não acredito que estive do seu lado... – Enid disse ainda incrédula.

— Ele te disse que eu não tinha
autorização e você o disse para calar a
boca antes que fosse despedido, que seu pai havia falecido enquanto ele pensava naquela estupidez e então ele se calou e me deixou ficar. Vendi todas as flores aquele dia.

— Não lembro do seu rosto... – Enid disse e Wednesday sorriu.

— Não poderia lembrar mesmo...

— Wednesday, mas você disse que você me conheceu só por nome dessa vez, não por rosto.

— Não foi dessa vez que te conheci por
nome... Dessa vez ainda não sabia que
você era Enid Sinclair, mas já descobri que tinha dinheiro por ser filha do empresário que havia partido.

— Oh...

— Mais uma vez você foi um rosto sem
nome para mim, porém salvou novamente a minha pele. Eu realmente precisava daquele dinheiro.

— Eu ainda guardo o seu bilhete até hoje... Ele significou muito para mim, mesmo nunca sabendo quem havia me dado.

— Ainda lembra o que dizia? – Wednesday indagou e Enid sorriu.

— Como esquecer? – Perguntou nostálgica. — Ele foi a razão para eu conseguir continuar.

— Jura? – Wednesday perguntou incrédula.

— U-hum. – Ela disse assentindo e logo
afundou o rosto do pescoço da morena. — Não deveria ter me dito que foi você a dona daquele bilhete.

— Por quê? – Wednesday indagou e Enid mordeu o lábio inferior.

— Porque faz eu ficar ainda mais... – Não, não deveria dizer. E se Wednesday desse o famoso surto de proteção e decidisse se afastar dela para protegê-la? Não queria ficar longe dela.

— Mais o quê? – Wednesday indagou e Enid suspirou, negando com a cabeça.

— Ainda mais grata. – Falou, decidida
a jamais dizer em voz alta o quão
apaixonada pela Addams ela ficava a cada dia que passava.

Presa Por Acaso - WENCLAIROnde histórias criam vida. Descubra agora