Capítulo 49

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Demora mais de dois meses até o pai da Nina ser encontrado.

Quando a pessoa tem muito dinheiro, ela consegue ir mais longe, um suborno aqui, um silêncio comprado ali, felizmente, pro pai da Nina, isso teve um limite. E, assim como eu, um dia, confiei nele, ele também confiou nas pessoas erradas.

Ele estava ficando na casa de uma família de amigos, não muito longe de Nova Barreira, as pessoas que tiveram seu silêncio comprado, por muito mais dinheiro do que eu poderia imaginar, viram tudo mudar de rumo, quando o filho mais velho deles, um adolescente de 15 anos, ligou para polícia revelando a localização do homem.

Não sei, se a polícia acreditou de cara, isso não saiu nos jornais, mas, eu diria que não. Eu diria, que eles duvidaram do rapaz até o último minuto, até realmente ir lá descobrir que ele estava falando a verdade. 

O homem está preso, mas, o momento do confronto se aproxima. Afinal, eu ainda não me livrei dele, às vezes, eu sinto, como se nunca fosse me livrar dele realmente, o que é desesperador.

Só de pensar em ter que olhar novamente na cara dele, ainda que na presença do juiz, me deixa com o coração acelerado e as mãos trêmulas. 

Tem tanto que eu preciso pensar, tanto que eu preciso planejar, vestibular chegando, a vida passando diante dos meus olhos, tanta coisa na casa que finalmente nos mudamos para arrumar, mas, eu sigo travada com o medo de encarar aquele cara de novo, não sei simplesmente como não pensar nisso, como não viver nessa agonia até o dia do julgamento.

Os dias parecem se arrastar, as horas se prolongam quando tudo o que faço é pensar e pensar, minha cabeça tão cheia que não para um minuto, minha atenção já não é a mesma, meus amigos, minha mãe, até mesmo o Bryan já percebeu que não estou conseguindo me concentrar, e, apesar de eu estar sendo uma péssima pessoa nesse momento, todos mostram seu apoio incondicional, entendem meu desleixo e minha falta de atenção. Eu definitivamente conheci as melhores pessoas do planeta.

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— Vai ficar tudo bem, ok. Calma, respira, e lembre que vamos estar lá com você. — Minha mãe diz conforme nos aproximamos do tribunal. 

Bryan, Noah e Max estão conosco no carro, Noah no volante, afinal, os nervos a flor da pele meu, do Bryan e da minha mãe, não nos permitiriam dirigir.

— Eu estou bem. — Eu digo, mas, tenho certeza que ninguém naquele carro acredita em minhas palavras.

Os jornalistas estão a postos do lado de fora do fórum onde o julgamento vai acontecer. Eles parecem moscas atrás de comida quando nós saímos do carro. Perco a conta de quantas vezes ouço alguém dizer "uma palavrinha".

A cobertura da mídia nesse nível, é algo incomum, obviamente, mas, por algum motivo, esse caso chamou atenção do público. Muito mais atenção do que eu gostaria, me atrevo a dizer.

Provavelmente toda essa atenção se deva ao fato do réu ser um ex-prefeito, acusado de pedofilia, além de tentativa de homicídio. De toda forma, toda essa plateia só me deixa ainda mais nervosa.

Não demora até que cada um se sente em seu lugar e o juiz adentre o salão. Temos um ótimo advogado ao nosso favor, mas tenho certeza que ele também tem.

Eu, como vítima, sou a primeira a depor. Eu me sento ao lado do juiz, e conto tudo exatamente como aconteceu. Desde que eu tinha 7 anos, o assédio, a perseguição, o bulling, as ameaças, até a eventual noite em que tudo realmente aconteceu. Quando eu termino de contar, o advogado de acusação começa a fazer perguntas que eu respondo prontamente.

O advogado de defesa, no que lhe concerne, vem em seguida, me fazendo perguntas para me deixar confusa e me desestabilizar emocionalmente. Eu tento ao máximo não fraquejar, mas, é difícil.

Todos precisam depor, Bryan, minha mãe, meus amigos, James, Nina, até mesmo meu pai vem para o tribunal prestar seu depoimento, infelizmente, do lado do homem que tentou me matar e não do meu. Eu vejo sua nova esposa com a sua nova filha na plateia, me olhando com olhos acusatórios e isso me desce amargo pela garganta. Eu sei que minha mãe já havia dito que o sequestro era mentira, mas, ver meu pai ali, do lado daquele monstro, o homem que deveria me amar, contra mim, sem até mesmo uma boa desculpa como um sequestro para usar, é no mínimo revoltante.

Depois que todos contam suas versões da história, os jurados se retiram para conversar. Cada minuto que passa, parecem horas, estou tão nervosa, meu coração está tão acelerado, tenho tanto medo de ser novamente desacreditada, de ser novamente vista como a errada da história, de tudo ruir e dar errado, mesmo com as testemunhas, mesmo com as provas, mesmo que os advogados tenham dito que vai dar tudo certo, eu sei o quanto esse homem é manipulador, eu sei o quanto ele é perigoso e mais do que isso, eu sei como a justiça é falha. Nem sempre as pessoas que merecem ir para cadeia vão, nem sempre as pessoas que merecem apodrecer na prisão ficam lá por tempo o suficiente, infelizmente esse é o mundo que vivemos, e não é justo.

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Horas passam até que o juiz e os jurados voltem com a decisão que pode decidir o futuro da minha vida. O homem sentado na cadeira de réu, tem um sorriso no rosto, convencido, ele parece ter certeza de que vai ser inocentado e isso me da mais aflição ainda, que ela esteja tramando algo, que ele saiba algo que eu não sei. Estou tão nervosa que quase perco o grande momento.

No momento em que o juiz bate o martelo e o declara culpado, eu posso respirar finalmente aliviada, mesmo que ele tenha pegado uma pena infinitas vezes menor que qualquer outro cara que tivesse cometido o mesmo crime pegaria, só o fato de ver o sorriso morrendo no rosto dele e saber que depois de tantos anos a justiça foi finalmente feita eu me sinto em paz.

Estou literalmente chorando quando saio do tribunal, lágrimas pesadas, de felicidade. Tenho vontade de gritar, de dançar, de comemorar finalmente esse momento glorioso. 

Já estou do lado de fora quando ouço meu nome sendo chamado, por duas pessoas diferentes em simultâneo, e não sei qual alternativa seria pior nesse momento.

James ou meu pai? 

Rockstar - Um músico na minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora