Lados que pendem

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Blake 8:40 PM

Dou a milésima olhada no espelho, conferindo da cabeça aos pés o meu look da noite, meu quarto estava uma tremenda bagunça após eu revirar meu armário em busca de uma roupa e acessórios para ocasião. Alyssa insistiu muito para irmos juntas e eu não poderia cancelar (apesar de querer muito). Decidi me vestir mais ousadamente essa noite, escolhi um vestido camurça da cor vinho com um decote em V que revelava parte dos meus seios e ficava bem justo deixando em evidência minhas curvas.

Sorrio para mim mesma apreciando minha imagem no espelho e checando se tudo estava ok

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Sorrio para mim mesma apreciando minha imagem no espelho e checando se tudo estava ok. Nostalgicamente isso me fez lembrar de minha adolescência quando eu passava meu tempo fora da escola com meu irmão, pois era impossível ficar em casa, minha família era uma merda, pessoas de difícil convivência. Não era seguro ficar em casa, então eu seguia meu irmão mais velho para onde quer que ele fosse, e infelizmente isso me fez ser cúmplice das más escolhas dele. Ele vivia com as pessoas erradas, nos lugares errados mexendo com coisas ruins. Sempre estava em festas regadas a álcool e drogas, vivia se metendo em brigas e como não tínhamos um adulto decente para nos orientar ou nos impor algo, fazíamos o que quiséssemos. Dormíamos em garagens e em outros lugares, tudo para ficar longe de casa, longe dos piores seres humanos que tinham a nossa guarda. Viver lá era abusivo demais, meu tio era um alcoólatra violento que sentia prazer em causar dor e destruição em nossas vidas, através do medo, da violência, das mentiras, era incrível como ele conseguia manipular todos para acreditarem que eu e meu irmãos éramos delinquentes simplesmente para desviar a atenção do fato dele ser um pedófilo de merda.
Uma onda de tristeza me invade ao lembrar disso. Talvez, se estivéssemos com as pessoas certas, meu irmão estivesse aqui comigo.
Ainda de frente ao espelho percebo a corrente em meu pescoço que eu ganhei de Jordan no dia do meu aniversário de 16 anos. O colar em forma de bússola era muito importante para mim, mesmo que fosse de uma loja de penhores o presente tinha um valor sentimental inestimável. Sorrio ao constatar que não combina com a minha roupa. De certa forma é estranho, mas tô me fudendo, não tiro ele por nada, mesmo que não combine. A campainha toca, e já sabendo de quem se trata me dirijo a porta.

— Haaaaaa você está tão linda Blake! Hoje nós vamos arrasar!

Alyssa estava animada como de costume, e vestindo uma roupa preta extremamente sensual, e um salto alto enorme que ainda sim não deixava sua estatura mais alta que a minha. Ela logo me puxa para o lado de fora do meu apartamento com uma empolgação típica dela.

— Vamos Blake!

— Ok ok ok só espera eu trancar a porta digo sorrindo em resposta a sua inquietação.

— Vamos

Meu celular toca fazendo Alyssa me lançar um olhar impaciente.

— Só um segundo lys.

Olho na tela e rapidamente ignoro a ligação, nada mais é do que o velho problema para incomodar.

— Quem era? Ela indaga curiosa pois eu nunca ignoro ligações.

— Ninguém importante.


Sean 8:55 PM

Conseguir entrar na balada mais top de Chicago não é tão fácil, mas com os contatos certos, tudo é possível. O ambiente era como todos os outros, agitado, barulhento e claustrofóbico. Mas ali eu podia faturar em uma noite mais do que eu faturo o mês inteiro nas ruas, graças aos riquinhos da alta society. As pessoas desses lugares eram sempre as mesmas: playboys em busca de sexo, loiras ricas e mimadas abusando dos drinks, empresários casados traindo suas esposas, menores com suas identidades falsas e todo tipo de pessoas fúteis e inertes que você possa imaginar. Esse é o último lugar que eu queria estar no mundo. Frequentei tantas vezes esse tipo de zona para criar certa repulsa. Um breve resumo da minha personalidade é que eu sou basicamente um antissocial, odeio contato com as pessoas, não tenho um pingo de confiança nelas, desde cedo aprendi que se pessoas do seu sangue tem a coragem necessária de te vender pro mundo do crime imagine só quem não tem responsabilidade afetiva alguma, o que não seriam capazes de fazer? Com o tempo fui me tornando paranóico, agindo com frieza sempre, usando uma máscara de indiferença até mesmo com as garotas com quem já fiquei. Era impossível para mim se permitir ser vulnerável, contar sobre meu passado ou simplesmente criar pequenos vínculos mesmo que de amizades. Eu consegui meus contatos e minha posição dentro desse mundo através do meu esforço e de mostrar em como posso ser bom em me esquivar da polícia e esconder o que deve ser escondido.
A única coisa que me impede de enlouquecer nesse boate lotada é a música, que apesar de ser alta me faz relaxar e pensar em coisas mais importantes. Como se houvesse algo importante em minha vida. Me permito relaxar ao timbre incessante da música eletrônica. As pessoas iam até mim para pegar as drogas, algumas discretamente, outras, sem nenhum pudor, eu estava por todo lugar, nos cantos, nos banheiros e até no meio da pista.
Aquele ambiente estava me sufocando lentamente, eu estava dando voltas e mais voltas, a fumaça e os corpos suados estavam me deixando agoniado, louco para sair dali o mais rapidamente. Pelo menos estava conseguindo muita grana esta noite, e o melhor de tudo é que não precisava ser tão cuidadoso, apesar de terem vários seguranças profissionais por todos os cantos o dono não era contra certos modos de diversão como drogas. Laviticus era o lugar certo para lucrar, por ficar perto de campus universitários sempre lotava de universitários loucos para se divertirem de todas as maneiras. Por baixo da minha jaqueta eu estava suando como nunca antes, agindo em modo automático, ao embalo da música pensando seriamente em engolir um ou dois, talvez até três dos comprimidos que eu estava vendendo. Seria uma péssima idéia, me deixaria vulnerável e incapaz de terminar o que vim fazer hoje . Parei por um momento para tentar raciocinar melhor, o ambiente abafado estava me afetando muito, porém no local de entrada algo entrou na minha percepção, ou melhor alguém.

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