Rendição

Complicações

Algum tempo depois

Sean 21:44

Ela estava mal. Ela estava muito mal e eu não sabia a razão disso, o que me perturbava um pouco, prometi a mim mesmo parar de segui-la mas por ironia do destino acabei a encontrando por acaso numa madrugada no metrô. Em um primeiro momento pensei que ela só estivesse voltando de alguma festa ou balada, mas a expressão cansada em seu rosto denunciava outro motivo. Eu não planejava mas foi mais forte que eu, como um impulso. Só queria saber se ela estava bem e ainda bem que fui instigado por essa dúvida porque acabei descobrindo que não. Não sei porque mas agora além de ficar praticamente o dia todo na faculdade agora ela também trabalhava de noite servindo mesas e voltava para casa completamente cansada para aproveitar as 3 horas de sono que teria, e ter que levantar cedo e recomeçar o dia novamente. As vezes ela chorava, outras dormia, permanecia totalmente vulnerável sozinha num trem de noite, e é exatamente por isso que comecei a acompanhá- la mesmo que de longe, a protegendo enquanto dorme e as vezes me sentando ao seu lado para manter alguns mendigos atormentados e viciados longe dela.
  Vejo pelo seu olhar, medo, tristeza, vulnerabilidade e isso me deixa desconcertado, ela está tentando ser forte mas estou vendo que não está conseguindo, até mesmo nos momentos em que leva a Mina para passear, sua feição aparece triste e melancólica, até dá alguns sorrisos e brinca com a cachorrinha mas nada que dure mais de um minuto, eu precisava saber o que estava acontecendo para ela ficar assim, precisava achar um jeito de ajudá-la. Eu só não sabia como, mesmo tendo parte da sua vida em mãos não era o suficiente, pois algumas coisas as pessoas guardam para si mesmas. Principalmente ela, com tantas memórias dolorosas.

Blake 21:44

Já faz exatamente um mês que recebi uma mensagem do banco dizendo que meu financiamento havia sido suspenso por falta de crédito, o que me arruinou completamente. Estou tentando de todas as formas renegociar mas está muito difícil, o pouco dinheiro que eu tinha era graças ao meu irmão e estava sendo usado para meu aluguel esse mês, mas já estava no fim e agora eu teria que escolher entre faculdade ou casa, estou tentando não desanimar e ser mais otimista possível, mas tudo permanecia difícil, trabalhar exaustivamente estava sugando toda minha energia e persistência e minha falta de sono estava me atrapalhando na faculdade e nos meus deveres extracurriculares, sinceramente não sei até quando vou poder aguentar tudo isso e se vou aguentar.
    Mesmo cansada eu conseguia sentir sua presença, como uma sombra por todo lugar e não sei dizer se me incomodo por isso, sua companhia me faz sentir menos sozinha, me dá mais coragem para encarar a cidade de noite e me deixa um pouco menos tensa saber que alguém me espera todas as noites. Em casa, o que tem sido um alívio para mim é a Mina, sempre brincalhona fica muito alegre quando eu chego, mesmo não me vendo o dia todo me recebe feliz e graças a Deus achei alguém que poderia cuidar dela enquanto estivesse fora, os filhos do meu vizinho que são crianças proibidas de ter animais adoraram ela e se disponibilizaram para cuidar dela o que eu acho conveniente dada minha situação. Ainda é novo para mim esse negócio de cachorro, mas eu estou gostando, é bom ter uma companheira para dormir e é extremamente agradável ter um pouco de vida nesse lugar velho. Quando contei para Alyssa da Mina ela simplesmente amou e me disse que estava muito ansiosa para conhecê-la já que em toda sua vida só teve um cachorro, que morreu quando tinha 12 anos, a partir de então ela não quis mais, pois em suas palavras animais são bons demais para nós não poderia suportar outra perda o que eu concordo e fico triste ao constatar que Mina morreria algum dia, antes de mim.

14:34 AM

Já é de madrugada e o dia hoje havia sido bem cheio e ruim, eu não consegui terminar algumas coisas da faculdade no prazo e minha ansiedade estava me deixando cada vez pior, não se vou aguentar por muito mais tempo, sem apoio com tudo dando errado eu me sentia cada vez pior, tenho a impressão de que posso ter emagrecido um ou dois quilos, apresento olheiras profundas e meu cabelo está horrível o que faço questão de esconder através de um coque. Para complementar ainda mais meus problemas acho que eu estou começando a ficar ruim pois estava suando muito e as coisas ao meu redor estavam absurdamente altas, minha cabeça explodia e tudo que eu mais queria nesse exato momentos era chegar em casa ficar por baixo das cobertas e dormir até que não houvesse mais amanhã mas para minha infelicidade ainda faltava muito até minha casa, talvez eu pudesse tirar uma leve soneca no metrô, uma coisa rápida de alguns minutos. Quando encosto minha cabeça na janela meus olhos começam a pesar até eu dormir um pouco e acordar a cada minuto por causa do mal estar que estava aumentando até que em um momento ao inves da janela fria sinto minha cabeça se apoiar em algo macio, algo que tem um cheio que eu tinha a impressão de conhecer, algo que tornou meu sono mais pesado.

Quando eu acordo, estou no meu quarto e minha cabeça dói como nunca assim como minha garganta e fico tentando me lembrar como cheguei até aqui e tenho uma pequena surpresa ao ver Sean vindo em minha direção.

ー Você apagou no trem, eu te trouxe para cá mas você estava com muita febre e eu não sabia para quem ligar então fiquei.

Bom eu realmente estava muito ruim, e não poderia culpar o Sean pois mais que isso fosse problemático, eu não estava com a mínima vontade de pensar agora, minha atenção se volta para o relógio que diz que são quase 12 eu teria uma reunião importante com meu professor que não poderia faltar.

ー Que merda eu perdi...

Tento me levantar desesperada mas Sean me impede.

ー Não pode sair nesse estado, está frio lá fora e você está com muita febre.

ー Não posso faltar á essa reunião é muito importante ー Falo com uma voz rouca mesmo com uma dor de garganta fortíssima que arranha minha alma e não posso impedir as lágrimas que chegam de repente junto com minha ansiedade e do sentimento de falha.

ー Eles vão pensar que eu sou inútil. Minha voz saí ainda arrasada pela dor.

ー Porque você pegou febre e não pôde ir ? ー Sean defende encarando meus olhos enquanto coloca a mão no meu ombro. ー Liga para eles e diz que você não pôde ir porque estava muito mal, diga que você não estava nem consciente para fazer qualquer ligação avisando.

Ele me olha com preocupação.

ー Agora volta para cama que eu vou fazer algo para você, isso se ainda quiser que eu fique.

Olho para sua face e vejo que ele está sério e não posso deixar de pensar em seu trabalho de me trazer até aqui e cuidar de mim. E mesmo depois de tudo eu só queria um pouco de conforto, talvez alguém cuidando de mim não seja tão mal, além disso o sofrimento era demais para me opor,  o encaro de volta e balanço minha cabeça em concordância.

ー Fica.

Ele simplesmente vem até onde eu estou e me cobre delicadamente com um olhar que me deixou completamente consternada. Ainda se importava, e muito, eu só queria saber o que mais ele seria capaz de fazer.

O boy não tá feliz com o sofrimento da amada 😢.

* A música que recomendo para esse capítulo é Dark Paradise da Lana del Rey.