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O mundo ao meu redor era um borrão. Instalado no fundo da cela, o corpo relaxado contra o concreto frio, mas minha mente estava longe. Perdida em algum ponto do passado ou do vazio, um lugar onde o tempo não me alcançaria.

As palavras deles chegavam até mim como um eco distante. Um zunido, vozes entrecortadas. Não me incomodei em acompanhar. Não porque eu não me importava, mas porque minha mente não podia se mover da breve prisão inerte na qual enclausurei meu raciocínio. Ficar preso era um conceito familiar para mim. Ainda que a porta estivesse aberta, algumas celas continuavam dentro de nós, e a dissociação era meu eterno exílio.

Não importava o quanto eu treinasse, por quantos treinamentos traumáticos passasse, ou que eu tenha aprendido a driblar as distrações em momentos de tensão. A qualquer momento, ela sempre me venceria. Contudo, uma frase cortou tudo. Algo diferente no tom, algo que arranhou a camada espessa de distração que me envolvia.

- Eu preciso conhecer o meu filho.

Minha cabeça ergueu-se lentamente, os olhos voltando ao foco. A cela ainda estava ali, os homens ainda estavam ali, mas agora havia uma nova peça no tabuleiro. Eu vi Ghost ali, os ombros tensos, a voz grave e crua, quase desesperada. Vi Soap reagir primeiro, surpreso, depois animado, depois solene. Vi os olhares ao redor mudando, como se algo importante tivesse sido revelado, algo que, de alguma forma, fazia toda a situação ganhar um novo peso.

Alma está grávida, sozinha em Manchester, longe disso tudo. Longe de nós. Ghost não tem medo da morte. Não como os outros. Mas agora ele teme. Ele teme porque existe algo esperando por ele do outro lado disso, preso à vida de uma maneira que nenhum juramento ou missão jamais prendeu. Observei o modo como os outros absorviam a notícia. A surpresa. O respeito. O humor nervoso de Soap. O alívio estranho no rosto de Nikolai. E então percebi que, apesar de tudo, uma faísca de algo parecido com esperança havia surgido ali. Um propósito diferente do simples sobreviver. Algo maior que guerra e vingança.

Por um instante, apenas um, me permiti sentir aquilo também.

Quando seus olhos me encontraram, quase como se buscassem por qualquer reação minha, senti-me feliz, um pouco de esperança atravessada no futuro de um de nós. Uma luz, e uma salvação. Ele não tinha culpa por sua irritação, por seu instinto em começar a evitar todos os riscos para si mesmo.

Havia honra nisso, e agora eu compreendia.

- Parabéns, Tenente - digo, e acredito que é o suficiente.

Os outros comemoram, mas não houve tempo para que esse momento se prolongasse. As vozes do lado de fora ficaram mais altas. Passos ecoaram pelo corredor, ritmados e firmes. Então as sombras projetadas pela luz trêmula da lâmpada se alongaram na parede diante da cela.

Ghost se levantou, parando na frente das grades e encarando o lado de fora, todos fazem o mesmo, impedindo-me de ver o que se aproximava. Não faço questão de levantar, se nos quisessem mortos, já o teriam feito.

- Para trás! - as vozes ecoam em inglês arrastado - Se afastem das grades! -

Todos lentamente recuam, sei que só esperam uma oportunidade para agir em uma ação furtiva combinada para desarmá-los. Agora sim, me ergo do chão. As trancas foram destravadas com um ranger metálico. A porta se abriu apenas o suficiente, mas ninguém entrou. Três fuzis apontados para o lado de dentro, e todos erguemos vagarosamente as mãos.

O da frente, alto, e com o rosto completamente coberto por capacete, balaclava e óculos tático, olhou diretamente para mim.

- Você, austríaco.

Ninguém se moveu. Ninguém sequer respirou. Olhei para os outros, como se de alguma forma esperasse uma reação diferente daquela que já conhecia. Price endureceu o olhar, vejo um suave estranhamento em suas feições. Soap inclinou-se ligeiramente para frente, pronto para reagir se eu demonstrasse resistência. Ghost... encarava os homens como um tubarão farejador de sangue, mas mantinha-se contido, estático, como se pudesse captar os movimentos deles em milissegundos.

edelweiss | a könig storie.Onde histórias criam vida. Descubra agora