Prólogo

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Boa leitura!

Atena

Tudo aqui é uma lembrança dolorosa da minha vida. Essas paredes de pedra foram as testemunhas de algumas das minhas mazelas, esse chão já esteve coberto pelo meu sangue e minhas lagrimas. Foram os piores e melhores meses da minha vida, estava no inferno e fui levada ao paraíso e quando finalmente me acostumei com o amor, ele me jogou de volta nos braços do próprio demônio, meu pai.

As celas agora vazias demonstram que acabou. Não se podem ouvir mais gritos. Sangue não escorre pelo chão e corpos são tirados da arena como se fossem lixo.

Erámos treinados para matar. A morte de jovens inocentes era a maior diversão dos chefes do submundo, homens velhos e sem quaisquer escrúpulos se divertindo com a dor de inocentes. A arena de treinamento da família Costa, mais conhecida como Geena. Geena em uma língua antiga significa lugar de dor e sofrimento, é literalmente outro nome dado ao inferno.

Eu estive aqui. Meus gritos já ecoaram por esses corredores escuros e sujos. Como é possível que esse lugar detenha as minhas melhores lembranças? Porque ele estava aqui, minha mente responde à pergunta da qual eu tenho fugido por cincos anos. Eu ainda insisto voltar há esse lugar porque foi aqui que eu fui amada por ele. Mariano.

Posso ouvir ecoar por toda parte todas as vezes em que ele disse que me amava. Ao fechar os olhos posso sentir sua voz rouca sussurrar ao meu ouvido todas as juras de amor. "Vamos sair daqui, minha menina", ele dizia todas as vezes em que meu corpo era violado. O amor de Mariano foi o meu balsamo por todos aqueles meses.

Estar ao seu lado me mostrou uma face nova do mundo, uma versão que sempre me foi negada. Em seus braços eu conheci o amor, o cuidado, o carinho, todavia, foi com ele que experimentei o gosto amargo do abandono. Desde que ele partiu sou consumida pela dualidade dos sentimentos que ele causou, de um lado o as doces recordações de um amor em meio ao caos e do outro a dor da solidão. 

O som de passos vindos de um dos corredores me deixa em estado de alerta. Engatilho a minha arma e permaneço sentada no lugar onde um dia foi um ringue de lutas mortais.

—Mais um passo e você estará morto! —Minha voz cortante como aço, faz com o que o visitante pare de se aproximar e eu olho ao redor, mas a penumbra não me permite ver muita coisa, a única a nos iluminar é a luz da lua cheia. —Com cuidado, venha para luz, gosto de ver a vida se esvaindo nos olhos das minhas vítimas. —Me levanto apontando a arma em direção ao som de passos que ouvi segundos atrás. O intruso caminha lentamente para luz e quando finalmente posso vê-lo, sinto as batidas do meu coração vacilarem. Ele está aqui. —O que quer aqui, Mariano? —A arma se mantem apontada em sua direção e meus olhos me traem avaliando-o. O rosto dele adquiriu traços mais adultos, os cabelos escuros e brilhantes estão cortados de uma maneira que o deixa mais sério, a barba por fazer completa a imagem do homem que um dia eu amei.

—Precisamos conversar, Atena. —Sua voz rouca me causa sensações indesejadas, meu maldito corpo ainda anseia por seus toques. — Abaixa essa arma.

—Com medo de morrer, Mariano? —Um sorriso de puro divertimento surge em meus lábios. —Eu gosto da ideia de atirar bem no meio da sua testa ou eu devia atirar em seu coração? —Seus olhos me fitam se qualquer sentimento e ele se aproxima cada vez mais de mim até estarmos frente a frente, apenas com a minha arma em seu peito nos separando.

—Por que os escondeu de mim? —A dor em sua voz me deixa muda. Por que a mera ideia de causa dor a ele me machuca?  —Por que não me disse que estava gravida, Atena?

—Não fui eu quem fui embora, Mariano. —Abaixo a arma e fito a lua como se ela pudesse me dar forças. Eu não posso quebrar na frente dele, eu não posso permitir que ele me veja vulneravel, que ele sinta o que causa em mim. —Eu não entendo o porquê é tão importante saber da existência deles, eles carregam meu sangue em suas veias. 

—Eles são fruto do amor que um dia sentimos um pelo outro! —Ele diz alto e cheio de magoa e um sorriso sem humor brota em meu rosto.

—Eles são fruto da dor que compartilhamos um com outro! —Grito. —Nunca houve amor entre nós dois, Mariano! Não quando você me deixou na primeira oportunidade e antes que eu perca a chance, eu quero te agradecer por ter me dado as costas. Obrigada, Mariano! —Ele me encara confuso e eu ando pela arena. —Sem aquilo eu jamais teria me tornado quem eu sou hoje.

—Sua voz tem a mesma arrogância e frieza da voz dele. —O nojo em suas palavras me deixa com um gosto amargo na boca. E ser comparada com o Franco é pior do que levar um tiro.

—Eu sou a filha dele! A herdeira da Máfia Costa. —A minha frieza faz com ele dê uns passos para trás, surpreso. Ao longo dos anos eu criei aos meu redor uma armadura para me proteger de toda a dor que outros pudessem me causar e ela não permite que eu demonstre emoções. —O Heitor e a Nina são netos dele, meus herdeiros, futuro da familia. Você odeia o sangue que corre em nossas veias, por que finge se importar tanto?

—Você deu o nome dos meus irmãos a eles. —Seus olhos pela primeira demonstram um sentimento além de desprezo. Eles transmitem carinho. —Por que fez isso? Para a aplacar a culpa?

—Não fui eu quem os matou, Mariano! —Grito cansada de suas acusações sem fim. — O que eu fiz foi matar cada ser desprezível que machucou a sua família. Então, já chega de me culpar por coisas que eu não fiz. Quer me odiar? Odeie por pecados e transgressões que eu cometi, eu não matei a sua família, não puxei aquele gatilho, não te joguei no inferno, não me puna por crimes que não são meus.

—Atena... —Ele tenta se aproximar, mas eu ergo a mão pedindo para que ele não o faça.

—Você quer vingança? Quer expurgar da Terra a raça dos Costa? Ótimo! —Jogo a minha arma aos seus pés. —Comece por mim. Essa será a única chance que você terá de me matar. —Olho em seus olhos e a corrente elétrica que sempre pareceu nos unir ainda está ali. Os minutos passam lentamente e ele não mexe um musculo se quer. —Covarde! —Dou-lhe as costas e antes que possa dar o primeiro passo sua mão segura meu braço e me leva em direção ao seu corpo.

—Eu queria odiá-la! —Seu rosto paira a centímetros meu. — Eu devia despreza-la, mas... eu não sou capaz. —Seus lábios tocam os meus suavemente e meu coração dispara em meu peito, mas eu não posso me permitir tais sentimentos, nunca mais.

—Eu odeio você! —Ergo meu punho acertando um soco em seu rosto fazendo-o cambalear.

—Não foi isso que seu corpo pareceu dizer! —Ele me provoca limpando o filete de sangue que escorre por seu lábio. —Não pode me afastar de você, temos dois filhos juntos.

—Eu posso o que eu quiser. —Digo entre dentes. —E eu quero você longe dos meus filhos. —Meu tom soa como uma ameaça velada e ele me olha de maneira indecifrável.

—Mataria o pai dos seus filhos?

—Eu mataria qualquer um que pudesse ser um risco a eles e isso inclui você, Mariano!

—Eu jamais machucaria os meus filhos, Atena. É absurdo que pense que eu faria algo para feri-los! —Ele diz atordoado e caminha de um lado para o outro. –Ou ferir você!

—Você já o fez. Quando me deixou sozinha para lidar com as consequências de uma gravidez fora de um casamento. A família tem regras e eu senti na pele o peso de cada uma delas. —Minhas palavras o deixam em choque e eu dou as costas saindo da arena.

Eu não posso e não quero perdoá-lo, por mais que eu ainda o ame.




O que esperam desse novo casal? Me contem as expectativas de vocês!
Cometem e votem!
Até breve!

Atena - Serie Irmãos Valente (Livro 5)Onde histórias criam vida. Descubra agora