9. O sangue corre tão fundo quanto o pecado

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"Vulnerabilidade é uma fraqueza. E um Malfoy precisa ser forte."

A primeira vez que Lucius disse isso foi quando Draco caiu da vassoura aos quatro anos. Era a primeira aula particular de voo que seu pai havia pagado para que ele pudesse exibi-lo no próximo baile de primavera que Narcisa organizava para mostrar a evolução do seu jardim. As famílias mais influentes do sagrado vinte e oito que ainda defendiam a pureza de sangue eram convidadas para a mansão Malfoy e cada uma exibia seus talentos e feitos. Todo baile era a mesma competição de ego. Lucius Malfoy odiava perder e ele criaria seu filho para odiar perder também.

Então, desde o início da alfabetização de Draco, ele foi apresentado aos princípios da família. Infelizmente, os meios utilizados para o aprendizado e a memorização nem sempre foram muito pacientes e gentis com o menino, afinal, um Malfoy deve ser forte.

Quando Draco derrubou o vaso que seria a exibição principal da noite, já sabia o que aconteceria com ele assim que todos fossem embora. A planta era extremamente cara e só viveriam por algumas horas depois de florescer à meia noite, era óbvio que seu pai não deixaria isso passar em branco, era o trunfo mais importante para reafirmar o poder da família naquela noite.

Mesmo depois que os elfos limparam e consertaram o vaso, Lucius continuou irritado e o choro de desespero de Draco só piorou a situação. Narcisa tentou acalmar o pequeno menino, mas ele estava inconsolável, já sabia o que viria a receber assim que todos fossem embora.

Todos prestavam atenção na família anfitriã e o patriarca percebeu como alguns cochichavam sobre eles, tentando ser discretos. Mandou que Dobby saísse com o menino para o quarto e só o tirasse de lá na hora da apresentação com a vassoura. Draco ficou trancado no quarto com o elfo durante todo o resto da noite, Dobby fez um ótimo trabalho em distraí-lo, e ele só voltou a sair na hora de fazer os truques que havia praticado nos últimos meses.

Draco deu tudo de si esperando que isso acalentasse a ira do pai, mas com apenas um olhar buscando a aprovação de Lucius ele percebeu que nada o tiraria da sua lamentável situação.

Quando Malfoy completou sete anos, seu pai contratou vários professores particulares para trabalhar o conhecimento acadêmico de Draco e o desenvolvimento de várias habilidades extracurriculares apreciadas pela elite da sociedade. A partir daquele ano, Draco era responsável por tocar piano em todos os bailes formais e de negócios das famílias mais importantes.

Ele sempre verifica a reação das pessoas durante sua apresentação e toda vez que via o brilho de orgulho no olhar do pai se sentia finalmente aliviado, pois ele tinha feito algo certo e agiu como um verdadeiro Malfoy. Ele trazia honra para a própria família.

Nos últimos seis anos o treinamento que ele recebia só ficava mais difícil e os castigos pelos erros pioraram cada vez mais. Mesmo que as mãos não mostrassem as cicatrizes devido às poções e feitiços poderosos da elfa Smee, elas ainda doíam. Essa era uma exigência específica do Senhor Malfoy, que a dor nunca fosse esquecida para que ele também não esquecesse a lição que lhe foi dada. Mas isso era apenas amor, seu pai acreditava que era.

No seu aniversário de onze anos foi a primeira vez que ele respondeu contra uma ordem direta de Lucius.

Se sentiu injustiçado depois de tocar durante toda a madrugada para os Ministros da Magia que eram amigos próximos de seu pai e quando queria fazer uma pausa para comer, ir ao banheiro e finalmente dormir, Lucius o mandou se trocar rápido para começar a aula de duelos. Então ele decidiu desobedecer, faltou todas as aulas para dormir pelo resto da manhã.

Assim que Lucius descobriu, ficou furioso e o castigou mais forte do que o garoto estava acostumado. Com sua varinha-bengala acertou as costas, principalmente os ombros, de Draco repetidas vezes, sempre aumentando o nível de forças dos golpes. Nem Narcissa conseguiu acalmar a raiva do marido para que ele diminuísse o castigo do filho. O patriarca ameaçou que ela quem daria os golpes se não saísse da sala rápido, então tudo que ela fez foi esperar do lado de fora e ouvir o choro do filho desejando poder apanhar em seu lugar.

autodestrutivo × draco malfoyOnde histórias criam vida. Descubra agora