46. Um abismo chama o outro

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Draco

— Pritchard! — chamei ao perceber a sua sombra se elevando pela minha visão periférica. Encarei seu rosto marcado por linhas de preocupação, os cílios ruivos tremiam por causa dos olhos inquietos que, por sua vez, estavam opacos - completamente sem vida.

— Existe algo acontecendo sem que eu saiba? — perguntei.

A verdade é que as coisas estão agitadas pela mansão há alguns dias. Muitos comensais e outras criaturas mágicas estão saindo e entrando da mansão ininterruptamente, muitas reuniões privadas entre um grupo de três ou quatro pessoas, contando com Voldemort, nada além disso. Se isso não fosse um comportamento atípico, diria que as coisas estão mais quietas que de costume, o que seria outro comportamento atípico.

— O que poderia acontecer sem o seu conhecimento? — respondeu com uma voz indiferente, mas havia algo mais disfarçado sob a superfície, algo pior. De repente tive um pressentimento ruim, eles estavam tramando algo e eu estava propositalmente sendo deixado de fora, naquele momento temi por minha mãe.

Como se fosse uma interferência divina, um trio de vampiros subiu as escadas da masmorra fazendo um barulho consideravelmente alto. Nós olhamos para eles que sorriam da maneira mais vil que conseguiam e assim que saíram do nosso campo de visão, me virei para Pritchard mais uma vez. — Como você explicaria isso?

— Eles tiveram uma reunião particular com o Lorde das Trevas — respondeu sem emoção. Essa com certeza era a sua tática, não fazer nada além de responder perguntas diretas, mas eu tenho uma estratégia melhor: pressionar até conseguir o que eu quero. — Quando o Lorde quiser falar com você, ele mesmo vai chamá-lo.

Ele estava sendo agressivo, eu sabia disso e ele também, mas nenhum dos dois realmente se importava com a atitude tanto assim. Ele usou uma voz contida e educada, mas que transbordava algo mais, um sentimento pior. Entretanto, o que ele sente não é do meu interesse, apenas queria saber sobre o que estava acontecendo e se ele não me responder, ele não é útil.

— Certamente — disse impassível e observei a forma como ele engoliu em seco e desviou o olhar para qualquer outro lugar.

A noite passada foi a mais silenciosa em meses e não seria incorreto assumir que a mansão estava completamente vazia. Uma ou duas vezes durante a madrugada, a risada histérica de Bellatrix cortou o ar como lâminas afiadas, minha mãe também despertou algumas - muitas - vezes durante a noite, atormentada por pesadelos e espasmos constantes.

E, quando a manhã seguinte chegou, tudo continuou tão tranquilo quanto o dia anterior, na verdade, era mais bem mais calmo agora. Voldemort não saiu do seu covil pessoal nas masmorras como sempre e Bellatrix ficou atrás dele durante toda a manhã e só saiu duas únicas vezes. A primeira durante o almoço "em família" do qual minha tia fazia muita questão, o segundo momento foi algumas horas depois do sol se pôr.

A calmaria era inquietante, como o anúncio de uma forte tempestade. A noite continuou densa e silenciosa a maior parte do tempo, mas, por volta das onze, vários gritos agudos rompem o habitual silêncio da mansão, eles são frequentes, prolongados e muito dolorosos - aparentemente. Soavam como se uma mulher estivesse finalmente quebrando depois de passar por uma intensa sessão de tortura que durou horas e horas a fio.

No desespero de que fosse a minha mãe lá embaixo, então desci as escadas correndo, seguindo os sons até a entrada das masmorras e quanto mais eu adentrava naquele lugar escuro e abafado, mais alto os gritos ficavam. Não pensei além da minha mãe, estava completamente cego pelas imagens de tudo o que ela poderia estar sofrendo para gritar daquele jeito.

autodestrutivo × draco malfoyOnde histórias criam vida. Descubra agora