Doze

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Noriaki Kakyoin.

Abri a porta com um sorriso nos lábios apesar do meu cenho franzido, observando a (nome), sentada no chão da varanda, com pés descalços sobre a grama do jardim, olhou brevemente em minha direção um tanto incomodada, e depois retornou o olhar para frente, provavelmente na tentativa de me ignorar.

— Ela não fez por mal... — Me aproximei bem devagar, e me sentei ao lado dela, notando um leve bico ser moldado em seus lábios.

— Eu sei que não, eu só... — Comprimiu os lábios, deixando os olhos perdidos nas flores um pouco a nossa frente.— Não achei que eu fosse tomar uma bronca por lavar alguns pratos.

Ela disse em um tom trêmulo, me fazendo perceber que estava abalada demais com uma simples repreensão, algo que ao meu ver, não passou de um pedido preocupado da Holly, quando exigiu que ela parasse imediatamente de fazer o que estava fazendo após pega-la no flagra, lavando a louça na cozinha. A loira tomou o cuidado de usar um tom doce, Holly sabe que a (nome) está se sentindo desconfortável aqui em casa, e agora está tão abalada quanto ela, ficou com o coração apertado depois de ver a (nome) abaixar a cabeça com o cenho franzido e sair da cozinha sem dizer nenhuma palavra.

Sobrou para mim, ter que consolar as duas, e a Holly só ficará bem se a (nome) estiver bem também. E além de eu não saber como lidar muito bem com esse tipo de coisa, não tenho intimidade o suficiente com essa garota, apesar de ajudar ela no banho e manter os pontos dela esterilizados quando o Jotaro não está por aqui.

E o Jotaro quase nunca aparece desde que trouxe ela, está ocupado com investigações a respeito de uma flecha de stand que pode estar fazendo uma grande bagunça no centro de Tóquio.

É uma situação constrangedora para nós dois, mesmo que eu já tenha o costume, mesmo que uma das minhas funções na fundação seja a de enfermeiro, é bastante claro quando ela fica envergonhada, e isso me deixa com vergonha também.

Suspirei, já estava calado por tempo demais, precisava fazer alguma coisa, por ela, pela Holly e por mim. Mas antes que eu pudesse formular alguma frase, notei ela tentar limpar desesperadamente as lágrimas que rolavam pelo rosto avermelhado, engolindo os próprios soluços, como se não quisesse fazer nenhum barulho, como se quisesse sofrer calada, sozinha.

— Sabe, é bom colocar pra fora algumas vezes. — Desviei o meu olhar, eu estava um tanto ansioso diante dela, sabia que eu não era bom com palavras, mas controlei o meu nervosismo, desde que eu estivesse ali para ouvi-la com atenção, tive a certeza que ela se sentiria melhor depois de desabafar. — Não só com lágrimas, falar em alto e bom som, alivia o peso no coração também...

Não contive o sorriso ao lembrar-me de quando eu acordei, depois de quase três anos em coma no hospital, me sentia sem rumo, foi difícil para mim ver que o tempo tinha passado, que meus amigos e todas as pessoas que eu conhecia tinham seguido seus caminhos enquanto eu havia ficado para trás. Passei um bom tempo remoendo isso sozinho, até o momento em que a Holly me disse aquela mesma frase, e eu me abri de imediato após ouvir ela, estava com tudo entalado na minha garganta, por isso foi tão fácil dizer.

— Eu não aguento mais... — Ela iniciou, deixando alguns soluços escaparem junto às lágrimas que ela ainda insistia em limpar. Meu coração apertou dentro do peito, saber que ela de fato estava tentando aguentar tudo calada, me desestabilizou um pouco. — Não aguento mais ficar quieta, deitada, em repouso, eu só quero que tudo volte ao normal, eu sei que você e a Holly-san estão fazendo tudo isso pelo meu bem, mas eu só quero ir pra casa, quero poder tomar banho sozinha, fazer comida, lavar os pratos. É horrível ficar dependendo das pessoas e não poder fazer nada, ter que ficar o dia inteiro na cama... Se eu soubesse que essa coisa iria me deixar tão inútil desse jeito... — A voz dela era trêmula, fraca, entristecida, e quando conseguiu controlar finalmente as lágrimas, direcionou o olhar para mim, ainda úmido. — E como se isso não bastasse, eu quebrei a confiança do Jotaro, tenho certeza de que ele tá com raiva, tenho certeza que ele vai terminar comigo quando eu estiver melhor... — Direcionei o meu olhar para ela ao ouvir a palavra confiança, um pouco confuso. Eu conheço o Jotaro, sei como ele fica quando está com raiva, quando perde a confiança em alguém. — Eu joguei fora a única chance que ele me deu quando decidi esconder o machucado, eu menti, disse que tava bem quando na verdade eu não tava...

In Love With The Wrong One (Imagine)Onde histórias criam vida. Descubra agora