Vinte e Três

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(Nome) (Sobrenome)

Não faço a menor ideia do que está acontecendo agora, ela recuperou algumas memórias, não apenas a da praia, ou a do Jotaro me carregando nas costas depois que eu acordei na casa abandonada achando que ele tinha me deixado sozinha lá. Parece que ela se esforçou, está conseguindo relembrar de coisas antigas, como a primeira vez que o Jotaro cozinhou para mim, ou quando dei a ele aquele chaveiro, e também coisas recentes, como a última viagem que ele fez antes de vir para Morioh. O estranho é que elas estão pausadas, como a lembrança na praia, e também, com rachaduras pelo chão ou pelas paredes, durante o caminho que ela seguiu, conectando essas memórias fora de uma ordem cronológica. Não sei sei isso é normal, mas estou seguindo o mesmo caminho na esperança de encontrar ela, e até agora, nenhum sinal.

E eu também perdi a perspectiva dela, tudo o que eu tenho são os meus próprios olhos e os próprios ouvidos.

Será que o motivo é esse lugar?

— Por que você não trás ela pra cá?

Reconheci a minha voz de imediato, eu havia acabado de entrar em um corredor, dei alguns passos para trás e encontrei a entrada do apartamento, por onde eu podia ver a sala de estar, e no fundo, a porta do meu quarto aberta, onde eu podia enxergar claramente a figura idêntica a mim.

— São quatro horas daqui até lá, vou levar oito horas pra trazer ela aqui, mais oito horas para levar ela de volta e depois vir embora.

Não pensei em conter minha curiosidade, eu ouvi a voz do Jotaro, caminhei até lá enquanto ele dizia aquelas palavras, e antes que eu pudesse alcançar a porta, ela olhou em minha direção, fazendo com que eu interrompesse os meus passos.

— Eu sei que vai ser demorado... — Deixou um leve sorriso de canto enaltecer os lábios, e desviou olhar do meu, fixando-os em algo a frente dela. — Mas eu não sei eu vou me sentir confortável lá...

— Eu já te disse, o apartamento onde a gente vai ficar é meu, não é perto da casa dela, você nem vai ver ela, pode ficar me esperando lá enquanto eu pego a Jolyne.

Observei ele se posicionar diante dela, com um ar sério, vestindo só uma calça confortável, e os fios livres do quepe. Tocou o queixo dela e ergueu o rosto, deixando um delicado selar sobre os lábios dela antes de suspirar.

— Ou você pode ficar aqui, vou voltar na segunda, eu prometo.

Ela assentiu, e ele veio na minha direção, passando por mim como se eu não estivesse ali, e de fato, eu não estava, era apenas uma lembrança, que pausou naquele instante.

Eu me lembro bem daquela proposta, de irmos para a cidade onde ele morava antes de se divorciar, tudo porque ele não queria gastar oito horas a mais trazendo a Jolyne, para depois ter que levar ela de volta. Ele conseguiu me convencer, com a promessa de que eu não veria nem o rosto da ex mulher dele, mas quando você está sozinha, no supermercado, com a filha do seu namorado, existe a possibilidade de que a mãe da criança esteja por lá, e que ainda, tenha um motivo bem óbvio para falar com você.

— Eu estou conseguindo recuperar as minhas memórias... — Ela disse, removendo-me dos meus devaneios.

— É, eu... — Dei uma breve olhada para o Jotaro. — Estou vendo.

— Bem, eu queria mesmo me encontrar com você. — Ela se aproximou, levemente incomodada. — Só queria dizer que eu acredito nas palavras do Josuke, sei que é meio difícil depois do que ele tentou fazer, mas ainda prefiro acreditar que há uma saída, e se eu tiver que ficar pra você sair, eu não me importo...

In Love With The Wrong One (Imagine)Onde histórias criam vida. Descubra agora