Cap 14 - O melhor amigo

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O trajeto de táxi de volta ao meu apartamento depois do trabalho foi solitário enquanto eu me mexia inquieta no assento gasto de couro, sentindo falta da minha calcinha, principalmente porque o zíper da minha calça estava se esfregando na pobre Virginia. Normalmente, eu pegava o metrô para ir para casa, já que era mais barato e rápido, mas, naquele momento, não conseguia encarar o mundo subterrâneo de Nova York.
Podia me sentir começar a entrar em um vazio obscuro de negação. Passei uma boa parte da minha vida lendo livros sobre romance e nenhuma vez fui exposta a tal realidade deprimente que não fosse tão fácil quanto parecia, mas Sabina e Noah demonstravam facilidade quando se tratava de ter um relacionamento. Então chegava à conclusão do que eu era, era amaldiçoada, não havia outro motivo.
Talvez tivesse altas expectativas, talvez estivesse querendo demais?
Meu telefone começou a tocar na bolsa e, sem olhar para o número, atendi.
— Alô?

— Sina? — uma voz familiar perguntou.

— Sim? — Não consegui identificar a voz, mas sabia que já a tinha ouvido.

— Ei, é o Lance.

— Lance? — perguntei, um pouco surpresa em ouvi-lo do outro lado da linha. Depois da minha situação de calça rasgada, pensei que não tivéssemos mais chance. — Uau, não estava esperando uma ligação sua.

— Por que não? Eu falei que ia ligar — ele disse em um tom relaxado, mas eu não estava nada relaxada, porque, francamente, estava mais do que nervosa quando se tratava de homens agora. Era quase impossível relaxar.

— É, mas sem querer ter muita frescura, isso foi há alguns dias. Depois de não ter mais notícia sua, meio que desencanei da ideia de te ver de novo.

— Desculpe. — Lance suspirou de forma exasperada. — Não estava esperando gostar tanto de você.

— Nossa, obrigada — eu disse, revirando os olhos e olhando pela janela do táxi.

— Isso não soou bem — ele tentou justificar. — Eu só… fiquei com medo.

— Depois de falar que queria sair comigo? Depois de falar que queria ser colocado em outra sessão de fotos? Pare de brincar comigo, Lance. Não sou burra.

É, eu estava sendo meio ríspida, mas, naquele momento, não queria falar com ninguém, principalmente homens. Estava ranzinza, irritada, envergonhada e tudo que queria era colocar um moletom e afundar as mágoas em um pote de sorvete.

— Não estou brincando com você, Sina. Desculpe te fazer pensar o contrário. Sou um idiota e, sim, deveria ter ligado antes. Espero mesmo que me perdoe e que pense em sair comigo de novo. Desta vez, só você e eu, sem boliche nem oportunidades para rasgar sua calça. — Seu toque de humor amenizou a tensão no meu corpo. — O que me diz, Sina? Posso te levar para um passeio de barco no Central Park no sábado?

— Humm, depende. Você planeja virar o barco? Com minha sorte, isso poderia acontecer.

— Juro que o barco não vai virar.

Será que eu queria mesmo sair com ele de novo? Pensei nisso por um segundo e, sinceramente, queria. De todos os encontros, foi da companhia de Lance que mais gostei. Atticus era divertido, mas quebrei as bolas dele, então não tinha chance, Alejandro era um não com todo o gnu que crescia em sua calça, e Phillip, bom, certeza que não teria mais notícia dele.

— Acho que posso estar livre no sábado.

— Está bancando a difícil. — Ele riu no telefone.

— Talvez, está funcionando?

— Está. Estou começando a ficar desesperado. Adoraria te ver de novo, Sina.

— Seria legal te ver de novo mesmo — cedi. — Mas não vou remar.

Escritora de Romance e... Virgem | 𝙉𝙤𝙖𝙧𝙩Onde histórias criam vida. Descubra agora