Cap 2 - O Projétil da Virgem

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- Juro por Deus que, se não parar de se lamber, vou pegar essa sua língua que parece uma lixa e cortá-la com uma tesoura e, sabe de uma coisa, vou gostar de fazer isso! - gritei para o sr. Se-Lambe-Muito, o malhado laranja que insistia em ficar na minha sala lá pela uma da tarde todos os dias para sua rotina de banho.

- O que eu te disse sobre falar com os gatos? - Heyoon, minha colega de trabalho, perguntou, parada na minha porta. - Não é saudável, Sina.

- Nada neste escritório é saudável - eu disse enquanto encarava o sr.
Se-Lambe-Muito. - Pare de me encarar com metade da língua para fora. É assustador!
Como se ele fosse dono da minha sala e de tudo nela, se sentou ereto enquanto mantinha contato visual comigo, estufou o peito e vomitou uma bola de pelo bem na minha mesa.
- Eca, que nojo! - gritei ao me afastar da bola de pelo laranja.
Com um olhar desafiador, ele ergueu a pata, limpou a boca e pulou da minha mesa.

- Você viu isso? - questionei Heyoon, que estava no chão, rindo de mim.
- Acho que ele me mostrou o dedo do meio enquanto limpava a boca.

- Gatos não têm dedos - Heyoon corrigiu entre as risadas.

- Garra do meio, então. Ele me mostrou alguma coisa, isso é certeza.

- Vai limpar isso? - Heyoon perguntou enquanto levantava e sentava em uma das cadeiras arranhadas por gatos que ficavam em frente à minha mesa.

- Não, estou planejando guardar para o jantar - anunciei sarcasticamente.

- Você é nojenta.

Com um lenço umedecido que eu mantinha numa pilha ali por esse exato motivo, peguei a bola de pelo e a joguei na lata de lixo, detestando cada aspecto da minha vida no processo.
Aliviada, me recostei na cadeira e disse:
- Você não se cansa deste escritório? Os gatos estão começando a me enlouquecer. Não é possível que isso seja higiênico.

- Ei, fique feliz de não ser estagiária, cujos deveres são alimentar os gatos, arrumar os gatos e se certificar de que as caixas de areia estejam sempre limpas na sala de merda.

A sala de merda.

Só tinha ido lá uma vez e foi porque era meu primeiro dia e estavam me apresentando ao escritório inteiro. O cheiro ofensivo de xixi de gato era tão terrível que não cheguei perto daquela sala desde então. A sala de merda era onde ficavam todas as caixas de areia, e não estou falando sobre caixinhas de areia, estou falando sobre caixas de areia do tamanho de uma nave espacial da Battlestar Galactica. Elas ficavam em diferentes prateleiras em diversas alturas. Era o pesadelo de um estagiário.
- Como conseguimos manter estagiários por tanto tempo?

- Universitários desesperados - Heyoon respondeu, olhando para suas unhas. - Eles fazem de tudo para entrar em uma editora de revista impressa ultimamente, mesmo que signifique ser um poste arranhador ambulante.

- Isso me lembrou... chegou uma encomenda da Cat Emery Boards para mim? É para eu fazer um tipo de exposição deles, mas ainda não recebi a caixa.

- Não que eu saiba, mas você pode perguntar para Susan da recepção, é ela que cuida de todas as encomendas que chegam e, falando nisso, você viu a roupa dela outro dia? Ela estava totalmente no modo vovó safada.

Susan era nossa recepcionista, a própria imagem da louca dos gatos, e tinha a maior queda pelo cara do correio. Quando sabia que ele viria, chegava com um batom vermelho que sempre acabava em seus dentes, uma sombra azul no olho, que era para mulheres uns sessenta anos mais novas do que ela, e uma blusinha bem decotada que sempre parecia causar uma devastação com seus sutiãs velhos.

- Não. Eu estava entrevistando um abrigo no centro da cidade. O que ela estava usando?

Heyoon se inclinou para a frente e olhou por cima do ombro para Susan, que palitava os dentes. Em uma voz sussurrada, ela disse:
- Uma blusinha da Hannah Montana bem decotada na frente que ela deve ter feito para si mesma e calça de corino roxa.

Escritora de Romance e... Virgem | 𝙉𝙤𝙖𝙧𝙩Onde histórias criam vida. Descubra agora