26 - O Sequestro

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(Aviso: contém violência sexual, se não se sentir à vontade em ler, pule o capítulo.)

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Alex acordou sufocada novamente. Demorou algum tempo para ela se acalmar. Várias vezes, quando despertava, a reação era a mesma, sentia que estava morrendo. Não tinha como ser diferente, fazia um mês que não via a luz do dia, estava constantemente mergulhada nas trevas. Tentou se ajeitar, talvez conseguir uma posição mais cômoda, mas era muito difícil. O lugar onde se encontrava presa não tinha nem um metro de altura, não havia espaço nem para ficar sentada.

Nos primeiros dias, demorou a entender onde estava, pois, aquela pessoa a mantinha sempre algemada com as mãos às costas, e suas correntes eram presas a uma viga, o que limitava muito seus movimentos. A pessoa fez o mesmo com seus pés. Ela não conseguia ter certeza nem das dimensões do seu cativeiro. Além disso, Alex era mantida amordaçada o tempo todo, e com uma espécie de touca grossa que cobria todo o rosto, deixando apenas o nariz livre para respirar.

Era uma sensação de claustrofobia constante, mergulhada na escuridão, mal conseguindo se mexer e sem conseguir falar, gritar ou simplesmente soluçar nas mil vezes em que chorava. O calor sufocante e o cheiro de pó causavam-lhe náuseas, o corpo e a cabeça doíam o tempo todo. Ela era mantida nua, o que fazia a sujeira grudar em seu corpo ao longo do dia.

Depois de um tempo ouvindo os barulhos de passos acima de sua cabeça, Alex se deu conta de que estava em algum lugar embaixo da casa. Aquela pessoa arrumou uma forma engenhosa de escondê-la sob o piso de madeira, de forma que ela não sufocasse, mas também nunca fosse encontrada.

Em duas ocasiões Alex percebeu a movimentação logo acima e teve certeza de que a procuravam. Ela gemeu, resmungou, mas não tinha como gritar, a mordaça tinha uma bola de plástico no meio que ficava enfiada dentro da boca. Aquilo era sufocante, e impedia-a de emitir qualquer ruído.

Quando entrou naquela maldita praça naquela noite fatídica, Alex cometeu um erro fatal, relaxou ao ver um rosto conhecido. Estava preparada para enfrentar um zumbi, não um amigo. Quando viu quem era, baixou imediatamente a arma, sem jeito, com medo de ser indelicada ou pior ainda, causar um incidente por causa de um mal-entendido. Todo o resto aconteceu muito rápido.

Alex foi golpeada no rosto, e deixou a arma cair. Em seguida, apanhou com a própria pistola, levando diversas coronhadas. Tentou gritar, mas uma pesada e ao mesmo tempo macia mão cobriu sua boca, enquanto a outra apalpava seus seios, suas coxas e seu sexo, finalmente arrancando sua blusa com violência, deixando seus seios expostos.

Por fim, um último golpe deixou-a praticamente desacordada, o que permitiu àquela pessoa violá-la ali mesmo, no meio da praça. Mesmo grogue, foi a experiência mais dolorosa de toda a sua vida.

A primeira de muitas.

Desde aquela noite, a rotina se repetia, cruel e implacável. A pessoa chegava em casa e, depois de alguns instantes, retirava-a do seu cativeiro. Deitava-a nua numa cama e limpava seu corpo com um pano úmido, retirando o pó misturado com suor. Depois, a possuía, como se fosse uma boneca que estava à sua disposição quando quisesse.

Ela resistiu no começo, esperneava, chutava, tentava se virar, fazia de tudo para impedir. Mas era pior, quando fazia isso apanhava até cansar, e quando ela não tinha mais forças para resistir, o ato de violá-la era consumado repugnantemente. Era a forma de fazê-la entender que resistir era um erro e uma grande perda de tempo. Por isso, passadas algumas semanas dessa rotina, Alex se entregou. Quando era retirada da sua cela improvisada, ela se odiava ao se sentir grata por aquilo. Sair daquele lugar sufocante, ser deitada numa cama macia, ter seu corpo lavado, comer alguns pedaços de pão ou um sanduíche e tomar água. Tudo isso era um alívio tão grande. Mesmo que nesses momentos uma arma estivesse encostada na sua nuca o tempo todo, ela já não ligava por ser estuprada.

Alex estava sofrendo da Síndrome de Estocolmo (situação em que a vítima começa a se tornar dependente do seu algoz, por mais terrível que ele seja), e esperava ansiosa que aquela pessoa chegasse logo em casa para que seu sofrimento fosse aliviado por uma hora ou duas.

Naquela noite não foi diferente. Ao chegar, retirou-a do seu buraco, preparou-a com aquele pequeno ritual de limpeza, e como das outras vezes, borrifou um pouco de perfume nela, uma enjoativa fragrância floral; e depois usou seu corpo dolorosamente.

Nesses momentos, Alex se transportava para outro lugar. Ela se imaginava numa casa bonita, com uma varanda aconchegante e um belo quintal gramado. Via algumas crianças brincando também, os filhos que ela cada vez mais achava que nunca ia ter. Imaginava também um cachorro ou um gato correndo de um lado para o outro, e um belo pôr do sol no horizonte. Naquele pequeno mundo perfeito, ela se imaginava segura, protegida e amada.

Ela nunca imaginava nenhum homem, homens eram proibidos no seu mundo ideal. Apenas ela... E aquele ser de olhos azuis.

Por fim, ela foi levada de volta para seu esconderijo, sem que ela oferecesse resistência. Alex não conseguiria lutar nem se quisesse; estava fraca demais, com o corpo rígido pelo excesso de tempo imóvel. Mesmo que ela tivesse uma chance de fugir, Alex sabia que não conseguiria. Trinta dias sem praticamente nenhuma atividade física a deixaram debilitada. Algumas vezes a pessoa a arrastava de volta para o cativeiro, pelo simples fato de ela não conseguir andar de fraqueza, e pela dor por conta dos abusos diários.

Quando fechou o alçapão, trancando-a de novo, Alex chorou mais uma vez. Chorou de medo, de tristeza, de raiva. Queria ter feito muitas coisas diferentes, queria ter tomado atitudes diferentes. E agora era tarde demais, nunca mais teria a chance de realizar o que agora era seu maior desejo, ter uma última conversa com uma pessoa muito importante.

Até a noite em que foi transformada em um mero brinquedo sexual, Alex estava muito confusa quanto aos seus sentimentos, mas finalmente ela via tudo com muita clareza. Se Deus ouvisse suas preces, se ela tivesse mais uma chance...


***


Alex nem se deu conta de quando pegou no sono, e acordou assustada quando aquelas mãos macias mexeram com ela. O que era aquilo? Seu raptor queria se divertir mais? Ou será que mudou de planos? Libertá-la era algo que talvez nunca faria, porque ela conhecia sua identidade fazia muito tempo, desde que entrara naquele Shopping.

Alex entrou em pânico. A forma urgente e estranhamente preocupada com que mexia nela mostrava um alto grau de nervosismo e preocupação. Ela estranhou aquele cuidado, a pessoa respirava depressa como se tivesse corrido. Será que iria matá-la? Ela sentiu o coração disparar; apesar de tudo, não queria morrer, não estava preparada para deixar este mundo, ainda mais com tantas coisas para fazer e falar.

De repente, a pessoa com aquele cheiro que ela logo reconheceu, pois passou um bom tempo próxima a ela quando havia se ferido no acidente com o ônibus arrancou a touca da sua cabeça, e ela pôde finalmente voltar a enxergar. Num primeiro momento, a luz ofuscou seus olhos que havia tanto tempo desacostumados com a claridade. Mas depois, ela conseguiu enxergar o rosto da pessoa à sua frente.

Ela por fim enxergou o rosto de Enid Sinclair.

E ela estava completamente transtornada.

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Capítulo difícil, pessoal. Mas é necessário para a continuação da trama.

Obrigada pela leitura e não esqueçam de votar <3

Até o próximo capítulo!

Survive - WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora