Com ela

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Acordei mas ainda sem abrir os olhos me lembrei de tudo o que estava acontecendo. A morte do meu pai, meus turvos sentimentos a partir de tudo aquilo.
Quando finalmente levantei percebi que já era hora de eu me aprontar para o velório e o enterro do meu pai.
Levanto da cama com dificuldade, com a visão ainda embaça. Passo pelo corredor a fim de chegar até o banheiro e percebo que alguma pessoas já havia chegado, mas me concentro em me arrumar.
Durante o banho fico pensativo em como tudo seria sem meu pai, o que minha mãe fará, como eu vou lidar com tudo. Certamente esse é o momento mais difícil de toda a minha vida. A morte do meu pai me deixa verdadeiramente inseguro, imagino que é porque sempre que eu tinha algum impasse 'a minha vida eu recorria ao meu pai e agora ele não está mais aqui. A pura companhia dele era suficiente para mim, mas não terei nem isso mais.
Assim que termino meu banho, rapidamente vou para meu quarto e mando uma mensagem para Savannah para saber onde ela estava, ela me diz que já havia acordado e estava na sala. Saio dali e vou direto pra lá pra baixo para encontrar a todos.
Dentre familiares e amigos, recebi condolências de todos, muitos olhavam pra mim com tristeza, alguns me davam palavras de força e ânimo, minha mãe só chorava e meu irmão mais novo que havia chegado pela manhã não demonstrava muito sentimento, ele sempre foi meio frio. Já Savannah, percebi que ficou mais na dela, hora ou outra ela saia e ficava andando pelo campo ao redor da casa. Eu sentia muita gratidão por ela estar ali.

No fim daquele dia, o velório e o enterro do meu pai já havia acontecido, foi muito emocionante, mas novamente tentei manter-me forte pela minha mãe. E tive êxito nisso, sabia que se eu começasse a chorar minha mãe sofreria ainda mais.
Já era 17:00 da tarde, quando voltamos para casa do enterro e só estavam eu, minha mãe e Savannah.
— Vocês vão ficar mais essa noite? — Minha mãe pergunta
— Acho que não mãe, eu saí do meu serviço sem avisar, e preciso levar a Savannah de volta para casa
— Não se preocupe comigo Zane, eu vim porque eu quis, se precisar ficar mais tempo tudo bem
— Acho que precisamos voltar, senão seu pai ficará muito preocupado. Se tiver algo para arrumar, sugiro que organize para sairmos em poucas horas
— Ok, vou tomar um banho — Diz Savannah
Após deixar eu e minha mãe a sós, minha mãe cochicha para mim:
— Ela é belíssima, seria uma ótima namorada para você
— Somos apenas amigos mãe
— Não parece, ela veio até Kentucky com você...
— Acredite, de tratando dela, isso não significa muito
— Como assim?
— Savannah é um enigma para mim mãe
— Ela parece ser uma garota especial, diferente das demais. Se você enxerga isso, deveria persistir e ser o melhor homem do mundo para ela, assim como seu pai foi para mim.
Aquelas palavras de minha mãe me trouxeram certo conforto, eu sempre quis ser um homem como o meu pai, imaginar que eu havia encontrado a mulher certa para finalmente ser esse homem me deixava em êxtase.

Poucas horas depois eu e Savannah pegamos estrada. Combinei de visitar minha mãe o mais breve possível, já que ela não quis vir para Clarksville comigo. Não queria deixá-la mas precisava manter meu emprego para conseguir sustenta-la agora que meu pai havia morrido.
Assim que entramos no carro, olho para Savannah e vejo ela um pouco sonolenta
— Já vai dormir? — pergunto
— Acredite, mesmo não tendo feito nada eu fiquei exausta hoje
— Eu imagino
Um silêncio toma conta e logo em seguida é quebrado por ela mesma
— Como você realmente está?
— Eu vou ficar bem — Respondo
— Eu não perguntei se você vai ficar bem, perguntei como está agora
— Uau você não perde uma hein Savannah
Ela dá de ombros e me olha como se realmente esperasse uma resposta, cacete essa garota era inigualável
— Eu obviamente estou, mal mas preciso ser forte
— Entendo, mas eu acho que se você for vulnerável ajuda a passar pelo luto mais facilmente
— Eu imagino, e pretendo fazer isso, mas por enquanto eu preciso manter-me forte pela minha mãe. Todos os documentos, processos são complexos e eu agora sou o homem da família, preciso resolver tudo isso. Apesar de meu pai ter morrido, suas despesas médicas ainda geraram dívidas
— Se você quiser eu posso te ajudar
— Jamais
— Porque? Não seja machista ou orgulhoso
— Não é isso, acredite. Eu tenho minhas obrigações, e é importante para mim que eu as cumpra com meu próprio esforço. Mas de qualquer forma, obrigada pela disposição
— Entendi
Após algumas horas de viagem Savannah simplesmente adormece, e eu simplesmente não consigo parar de contempla-la enquanto ela dormia, hora ou outra eu tirava os olhos da estrada para poder ver seu rosto. Caraca eu estava muito vidrado.

Quando chegamos em Clarksville fui direto para a casa de Savannah para poder deixá-la. Ela devia estar exausta. Acordo ela:
— Savannah chegamos
Ela acorda lentamente, como se não fizesse a menor ideia da onde estava
— Chegamos?
— Sim
— Então é isso — Ela começa a se aprontar para sair do carro, ao que parecia ela iria sair sem falar nada além do que já havia dito. Então seguro-a pelo braço e digo:
— Espera, obrigada por ser minha companhia e ter ido até Kentucky comigo, não imagino quem mais faria isso por mim
— Não precisa agradecer, qualquer pessoa faria isso
— Não Savannah, não é qualquer pessoa que faria isso. Você é diferente e eu consigo perceber isso mais do que qualquer outra pessoa
— O que você quer dizer com isso?
— Eu olho pra você, e seu olhar traduz exatamente aquilo que você é pra mim. Mas você é trancada com um cadeado quase inquebrável. Se algum dia você me der a oportunidade de tirar desse mundo que você construiu ao seu redor, saiba que eu serei o homem mais feliz do mundo.
— Zane, você está blefando. Já falei que não sou a menina fofa e bela que você pensa
— Eu não entendo porque você insiste em dizer isso
— Porque é verdade. Eu não sei o que foi que você construiu na sua cabeça mas sem dúvidas é mentira
— Savannah eu olho pra você e vejo gentileza, humildade, paixão, simpatia, alegria. Mas parece que você trancou tudo isso pra si
— Então você está enganado porque eu sou conhecida por ser mimada, esnobe e sem educação
— Quem disse isso?
— Todo mundo
— E você é isso?
— Não, mas não é disso que eu estou falando
— Então me explica
— Não posso
— Confia em mim
— Apesar de eu não confiar em você, isso não é uma questão de confiança
— É o que então?
— Zane não me obrigue a dizer nada
— Eu não quero te obrigar a nada Savannah, eu só quero entender. Desde eu cheguei a Clarksville todos falam de você com certo temor, como se você tivesse algo a esconder. Na cabeça de muitos você é um grande mistério e eu, certamente, sou o cara que mais quer saber o que realmente aconteceu com você. Pois eu vejo nos seus olhos que você é muito mais do que o que as pessoas dizem
— Zane coloca na sua cabeça de uma vez por todas. Nós nunca vamos ter um romance, porque eu não sou o tipo de garota que beija e  recebe flores no dia dos namorados. Aquele beijo foi um equívoco enorme
— Não pareceu, você estava totalmente ciente do que estava fazendo e você também quis, porque você retribuiu o beijo fortemente. Ou você acha que eu não percebi sua respiração ofegante sobre minha boca?
Savannah para e fica em silêncio. Eu sabia que havia falado algo que era real, aquele beijo realmente balançou ela, e a mim também. Mas logo em seguida ela muda de expressão. Franze a testa e se ajeita ainda no banco do carro.
— Quer saber Sabe, eu vou te contar. Mas não diga que eu não te avisei — Ela diz em um tom um pouco enfurecido
— Ótimo!
— Você já deve ter percebido que eu falo muito sobre a minha mãe. Ela morreu num acidente, mas não foi tão acidental assim. Na verdade a culpa foi minha. A minha mãe está morta por minha causa!!!

Continua...

Somente Ela | Savannah/Zane Clarter/ZavannahOnde histórias criam vida. Descubra agora