Meu garoto

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Era patético, Éris sabia disso. Ele pedia tempo porque não sabia se podia suportar todo o ciúmes do Anthony, mas perguntava a todos os amigos de Anthony se ele estava com alguém e depois o atrapalhava.

Era puro e simples ciúmes, e era patético.

Éris olhava seu reflexo no espelho, se perguntando qual desculpa daria para faltar ao aniversário de casamento dos tios. Ele não queria ver Anthony, não queria estar no mesmo lugar.

— Iae garotão — Éris se virou e viu o pai parado na porta do quarto — Estamos apenas esperando você.

— Preciso de um conselho — Éris se voltou para o espelho, Jace encarava o filho pelo reflexo — Eu pensei em pedir a mamãe, mas não queria ver o olhar julgador dela…

— Pode falar — Jace sentou na cama.

— É sobre Anthony. Eu o amo, mas não sei se estou pronto para aceitar um relacionamento com ele, Anthony é ciumento e tem um ego maior que a fortuna do pai. Eu não sei o que fazer.

— Libera ele. Anthony quer algo sério com você, e apesar dele ser um garoto incrível ele é difícil de se lidar, ele possui as melhores e as piores qualidades dos pais. E apesar de saber que Anthony destruiria o mundo para te ver feliz, eu não posso lhe aconselhar a ficar com alguém sem que esteja certo disso, mas também não posso aconselhar você a continuar brincando com os sentimentos dele.

Éris queria estar pronto, queria dizer que estava certo dos seus sentimentos e do que queria. Mas não estava.

***

Anthony encarava a cena com ódio. Éris conversava animadamente com um estagiário qualquer.

Anthony jurou que acabaria com a carreira daquele homem. Quando ele acabasse não restaria nada para aquele se orgulhar.

— Você está tentando matar aquele cara com a força da mente ou algo do tipo ?— Eadlyn apareceu ao lado do garoto.

— Algo do tipo — Anthony se virou para a amiga — Achei que não viria…

— Eu também não, mas papai insistiu — Eadlyn ainda olhava para Éris — Minha mãe fazia com meu pai exatamente o que ele tá fazendo com você, ela sempre pedia mais tempo, até que meu pai levou um tiro no lugar dela. Depois disso ela deu uma chance a ele, e viveram a história que você tanto conhece.

— Então seu conselho é que eu leve um tiro por ele? — Eadlyn riu.

— Não, estou dizendo que Éris está confuso. E ou você faz algo para tirar todas as dúvidas dele ou se valoriza e vai atrás de alguém que realmente te queira — A garota pousou a mão delicadamente no ombro do amigo — Sim, eu estou falando do meu irmão e sim, ele está olhando para nós com a mesma sede sangue que você estava a alguns minutos.

Anthony olhou novamente para Éris, o garoto parecia alheio ao que o estagiário estava falando. Éris indicou o escritório com o queixo, Anthony apenas concordou.

— Acho que eu só precisava mostrar concorrência — a garota riu novamente.

— Gosta de ganhar joias em agradecimento — Anthony riu, óbvio que ela fez de propósito — Agora vai atrás do seu bebezinho enquanto eu vou atrás de uma foda.

Anthony caminhou calmamente até o escritório. Quando abriu a porta viu Éris andar de um lado para o outro com as mãos na cabeça. Anthony fechou a porta e encostou seu corpo contra a parede.

— Sério Anthony? A Eadlyn? Na minha frente? — Éris falou com ódio, o ciúmes corria suas veias.

— Sério Éris? Uma idiota qualquer? Na minha frente? — Anthony debochou, apesar disso havia uma nota de dor ali. E Éris percebeu.

— Ele só estava tentando conseguir conexões… — Éris falou com uma certa culpa.

— Sabe o que ele conseguiu? A demissão. Eu selecionei ele para essa vaga, eu aconselhei ele a fazer amizades com pessoas da chefia, eu o convidei para essa festa, mas eu também deixei a todos que você era proibido a eles, que eles não tinham o necessário para chegar perto de você.

— E você tem? — a pergunta soou como uma piada.

— Não, mas você me ama mesmo assim. E você sabe que sou egoísta o suficiente para querer você só para mim, mas parece que me priorizar parece escolher te perder. — Anthony se aproximou e acariciou a bochecha do menor — Não me entenda mal, eu me colocaria em segundo plano por você quantas vezes fosse necessário, eu me sacrificaria se fosse necessário. Mas não posso fazer por uma pessoa que não parece ligar para meus sentimentos, eu já brinquei com pessoas demais para saber quando isso está acontecendo.

— Anthony eu… — a culpa pesava no peito de Éris.

— Eu não acabei. Eu não tô pedindo que tome uma decisão agora, eu só quero que você me queira. Se você quiser a gente casa, namorar ou fica enrolando por anos, eu só quero que você me queira por uma vida inteira.

— Eu vim aqui disposto a colocar um fim nisso, eu estava disposto a te liberar. Então aquele idiota chegou e fez uma brincadeira, quando me apresentei ele pediu desculpas por importunar o namorado do senhor Lightwood. Aquilo soou tão bem, eu nem neguei. Eu percebi que ser seu namorado, ser feliz ao seu lado foi tudo que eu sempre quis — Anthony desfez a distância entre eles e beijou Éris com força e desejo. Era familiar e completamente novo. Era uma calmaria caótica.

A mente de Éris estava vazia, ele genuinamente não queria pensar ou calcular as consequências de nada. Ele só queria continuar sentindo essa combustão de sentimentos.

Quando encerraram o beijo, Éris deitou a cabeça no peito do maior, ele queria apenas ficar ali, em silêncio aproveitando o momento, saboreando a sensação de finalmente sentir que Anthony era apenas seu.

— Mas agora o que somos? — Éris perguntou sem sair de sua posição. Sentiu que o corpo de Anthony enrijeceu levemente.

— O que você quiser, você sabe que não me importo com isso. Ser seu ficante, namorado, noivo ou marido não faz diferença, eu tendo você não me importo como vai me chamar. O que você quer que sejamos?

— Eu quero encontros, eu quero flertes, quero conversas durante a madrugada, quero respeitar a regra do terceiro encontro e quero que peça a minha mão em namoro para os meus pais no Natal. Quero todos os clichês possíveis e impossíveis com você. — Anthony passou a mão pelas costas do garoto e se afastou olhando sério para ele, segurou sua com força.

— Certo, Éris Herondale quer sair comigo na sexta? — O deu um sorriso que pertencia apenas a Anthony.

***

Anthony encarava a pequena multidão e logo depois olhou para seus pais, sorriu para eles.

— Seguindo a tradição vamos ao discurso do filho favorito — As pessoas riram, parecendo não notar o nervosismo dele, Anthony ficava uma pilha de nervos todos os anos, era difícil falar sobre os pais — Cresci vendo um amor de contos de fadas, vi mais declarações de amor sinceras dentro da minha casa do que em casamentos, vi meus pais mostrarem que não existe relacionamento perfeito, mas a imperfeição é o que faz o amor tão precioso. Saber que alguém vai permanecer ao seu lado mesmo vendo todos os seus defeitos, mesmo depois de 18 anos. Meus pais são a prova viva que o amor existe.

Os olhos do Lightwood estavam presos no Herondale, e o coração gritava Meu garoto.

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