O que é cadiaco?

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Três semanas desde que minha vida virou de ponta a cabeça, eu estava vendo Magnus em uma frequência assustadora, quase todo dia eu inventava uma desculpa para vê-lo, mas mesmo passando todos os momentos possíveis juntos o sexo não havia acontecido, Magnus sempre fica desconfortável quando estávamos quase lá, mas confesso que tenho meus contras a transar com ele agora. Magnus é jovem e apesar do medo está muito ansioso para fazer sexo com outro homem, tenho medo de decepciona-lo.

Nesse momento tudo que eu queria era tê-lo em meus braços, mas ele precisou ir levar o pai ao médico, e eu estava voltando para casa, eu deveria estar voando para outro estado para uma reunião, mas a esposa do meu cliente entrou em trabalho de parto e ele pediu para adiar. Isso me deixou mal, não por perder a reunião eu realmente não queria ir, mas por inveja mesmo, por não ter vivido isso.

Eu tinha duas opções: ir para casa e descansar um pouco ou voltar para o trabalho, decido voltar para a empresa, se eu ficar em casa vou assistir um filme e nada de produtivo acontece. Aviso ao motorista que deve me levar à empresa, para a minha sorte eu não havia dispensado minha secretária hoje. Eu só não imaginava ter a surpresa de ver a minha secretária com uma criança, eu reconheci o menino na hora, era o filho do Magnus.

Vênus estava concentrada em algo enquanto o menino mexi em um celular, ele mexia os pés frequentemente, apesar de nunca ter visto ele pessoalmente antes o menino me parecia extremamente familiar, não tinha muitos traços do pai, seus cabelos eram loiros e sua pele branca demais, provavelmente características herdadas pela mãe.

Então ele me olhou, sorriu e logo depois acenou, sorri de volta e ele tentou chamar a atenção da minha secretária que obviamente parecia surpresa a me ver, ela olhou para a criança como se pudesse escondê-lo a tempo.

— Você deve ser Anthony, certo? – o menino assentiu.

— E quem é você? – A pergunta veio de forma espontânea, eu realmente não lembro a última vez que alguém me perguntou isso.

— Sou o Alec, chefe da sua tia – então ele arregalou os olhos.

— Então você é dono disso tudo? – confirmei e os olhinhos dele brilharam — Tio Ale posso entrar na sua sala… minha tia não deixou

— Anthony a Titia já disse que não…

— Claro que pode – eu a interrompi e ouvi ela bufar — Vem com o tio.

Anthony olhou para a tia que assente, e disse para ele se comportar, o menino pula da cadeira e vem na minha direção me deu a mão e me olhou com expectativa. Abro a porta e ele olha tudo maravilhado, parece que o garoto gostou.

— Gostou da minha sala? – ele se vira completamente para mim e sorri.

— Sim tio – Ele virou e começou a andar até a minha cadeira — Posso sentar?

— Pode sim – ele pulou na cadeira e começou a rodar todo feliz, mas poucos minutos parou e ficou olhando as fotos na minha mesa, ele pegou um porta retrato que tinha uma foto minhas com meus pais na minha formatura, sem dúvidas uma foto bem antiga, mas eu ainda podia lembrar do segundo exato em que foi tirada, minha mãe estava tão feliz naquele dia.

Ele colocou a foto no mesmo lugar e pegou uma ampulheta, ele parecia tomar todos os cuidados para não quebrar, ele olhava atentamente para a areia que caia.

— Gostou dela? – ele se assustou e quase a deixou cair, e com todo cuidado do mundo a colocou no mesmo lugar

— Desculpa – ele fez um bico fofo enquanto escondia as mãos.

— Não há problemas, essa ampulheta eu comprei em uma viajem que fiz – ele me olhou atento esperando que eu continuasse a história — Eu tinha sofrido um ataque cardíaco naquele ano, e prometi a mim mesmo que não viveria apenas no trabalho, comprei ela para me lembrar que eu não sou imortal, mas não adiantou muito – Peguei a ampulheta e o entreguei a ele — É pra você.

— Obrigado tio – Ele disse olhando o objeto como se fosse um tesouro, então parou e olhou para mim confuso — O que é cadiaco?

— Cardíaco – repeti a palavra — E ataque cardíaco é quando algo atrapalha o fluxo do nosso sangue no coração e ele fica sem oxigênio – tentei explicar da melhor forma possível

— E oxigênio? – Quantos anos esse menino tem?

— É o que nós respiramos.

— Então ele ficou igual meu nariz quando tô dodói? Mas você tá melhor?

— Isso pequeno, mas agora eu já estou melhor do dodói, quase pronto pra outra – ele voltou a encarar a ampulheta,

— Melhor ficar sem outro dodói tio – apenas concordei com ele, e ele logo tratou de mudar de assunto, mas logo estava desenho em alguns papéis velhos. Ele fazia alguns rabiscos sem sentido, quando terminou me mostrou o desenho orgulhoso de sua obra de arte.

— Que desenho lindo – eu disse enquanto tentava entender o que tinha ali

— Tio, eu tô com fome – O garoto está apenas com fome, eu com certeza consigo resolver isso

— Só um segundo – saiu da minha sala, Vênus estava lendo alguma coisa — Ele tá com fome – ela começou a rir

— Eu já pedi a comida dele, tá quase chegando – Ela colocou a folha em cima da mesa — Pedi pra você também.

Sorri e voltei para sala, avisei a ele que a comida estava vindo e ele apenas voltou a desenhar despreocupadamente, não demorou muito e Vênus apareceu com a comida, foi fofo ver ele se preparar para comer, e quando eu achei que eu ou ela teríamos que dar a comida para ele, ele começou a comer sozinho, todo independente. Depois de comer ele ficou quietinho, aparentemente estava com sono, quando eu ia liberar minha secretária para levá-lo para casa o pai dele entrou pela minha porta.

— Papai – Anthony disse quando Magnus entrou, o menino se jogou nos braços do pai e se aconchegou no seu colo — Hora do soninho.

— Eu sei que tá na hora do soninho, vamos para casa? – Anthony apenas confirmou. Aquilo parecia a representação de um sonho, um desejo.

— Eu deixo vocês em casa – Falei e Magnus me olhou com uma certa vergonha que eu não via a muito tempo, mas antes que ele arrumasse uma desculpa continue — Não tenho nada para fazer por aqui, e será um prazer levar vocês.

°°°

Magnus tinha ido colocar Anthony no quarto, no caminho para casa ele me explicou que teve um problema na escolinha do menino e por isso não teve aula naquele dia. Eu estava sentado no sofá esperando ele voltar, nesse meio tempo cogitei a possibilidade de ir embora umas 16 vezes.

Então ele apareceu no corredor, estava usando outra roupa e seus cabelos estavam molhados indicando que ele havia tomado banho, será que eu deveria ter ido? Que porra, estou parecendo um adolescente.

— Desculpa a demora, eu estava fedendo a hospital – Magnus disse sentando ao meu lado, pousando suas mãos sobre minhas coxas, eu não deveria ter ido, minha mão vai diretamente para sua cintura puxando-o um pouco mais para mim.

— Sua amiga vai demorar?

— Provavelmente, ela aproveitou a folga para resolver umas questões no banco – Magnus acaba com o espaço entre nós com um beijo calmo — Achei que não te veria hoje

— Acho que não consigo mais ficar longe de você, estou completamente dependente dos seus lábios – volto a beijá-lo, não tinha intenções reais de ficar, queria apenas aproveitar um pouco.

Até hoje eu tentei negar que estava apaixonado, tentei pensar que era apenas tesão e que logo Magnus sairia do meu sistema, mas não adiantava mais me enganar eu estou completamente apaixonado por ele, apenas a ideia de tê-lo na minha vida já faz cada risco valer a pena, mas ele jamais saberá porque se amanhã não for nada disso caberá só a mim esquecer e o que eu ganho, o que eu perco ninguém precisa saber

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