daddy issues; Johnny Depp

1.9

Lily-Rose nunca se considerou uma pessoa verdadeiramente difícil de lidar, como sua mãe, irmão e até mesmo seu pai as vezes faziam parecer. Ela era definitivamente mimada, sem sombra de dúvidas era, mas difícil de lidar já era um exagero. Quando algo não ia do jeito que esperava, as vezes ela esperneava e chorava até conseguir o que queria, mas geralmente ela respirava fundo e contava até dez mentalmente, do jeitinho que seu terapeuta aconselhou, e depois de contar até dez ela pensaria num jeito de resolver a situação pacificamente, sem precisar de um escândalo. A pergunta "Eu preciso mesmo perder minha paz com isso?" era frequente, e normalmente a resposta era "Não", mas daquela vez era diferente. 

Ela já tinha contado até dez cinco vezes, pensou em um jeito pacífico de resolver as coisas, ou pelo menos numa forma de manter a calma, mas nada lhe veio à mente. A resposta para a pergunta era "Sim, eu preciso perder minha paz com isso". Lily estava possessa.  

Assim que desceu do uber e entrou em casa como um furacão, sua mãe esperava aflita na sala de estar, usando um pijama de seda e pantufas engraçadas que teriam arrancado risadas da loira em qualquer outra situação. Já sabia o que tinha acontecido, Johnny havia contado por ligação. Vanessa sabia que uma hora ou outra aquilo aconteceria, pois estava ciente do relacionamento de Johnny e Emma, e também sabia dos sentimentos que sua filha nutria pela melhor amiga. Enquanto tentava acalmar o choro de Lily, a mais velha se perguntava se havia algo que podia ter feito ao invés de só observar calada o desastre acontecer. Se tivesse contado ao seu ex marido o que a filha nutria por Emma, isso teria mudado alguma coisa? Teria impedido toda aquela cena na noite de Natal? 

— Como ele pôde fazer isso, mãe? — Lily sufocou a dúvida entre um soluço e outro, olhando para a mãe com os olhos inchados de tanto chorar. — Emma é minha melhor amiga! Como ele... Ah! É tão nojento, eu não consigo nem falar! Eles estavam fazendo isso bem debaixo dos nossos narizes, como não suspeitamos de nada? — Ela fungou e passou os braços por cima dos olhos, tentando parar de chorar. — E você deve estar tão brava, né? Cuidou dela como se fosse sua filha, e agora ela tá transando com seu ex marido. — Disse com um nojo na voz e encarou a mãe, que se mantinha sem nenhuma reação além de preocupação no olhar. — Né? 

— Lily, meu amor, não vamos entrar nesse mérito agora... Vamos focar em você, em como você está se sentindo. O que eu penso ou não é indiferente...

— Por que você está tão calma? — Perguntou alarmada, ajeitando a postura e arqueando as sobrancelhas. Vanessa tentou formular algo que soasse convincente, mas logo desistiu. Isso bastou para Lily entender. — Você sabia, não sabia? 

Não adiantava mentir ou ocultar. 

— Sim, eu sabia. Soube quando ela ficou internada no hospital, já faz um tempo. 

Lily não sentiu só vontade de vomitar. Ela literalmente se inclinou e vomitou ali mesmo, no meio da sala de estar. E depois disso quis vomitar mais e mais, quem sabe assim todo aquele sentimento ruim também ia embora junto com o alcool e o jantar.

— E Jack? 

 — Ele suspeita. 

— Então eu era a única idiota que ainda não tinha notado? — Perguntou em choque. Se sentia a mais burra de todas, a última a saber. — E vocês estão bem com isso? Eu sou a única surtando? Só eu acho isso muito errado?

Vanessa procurou palavras que pudessem acalmar a filha, mas não as achou. Não é que não se sentisse nem um pouco incomodada: Se sentia sim. Mas o que podia fazer? Sim, ver a garota que ela cuidou como se fosse uma filha desde que era uma criancinha se relacionando com seu ex marido era sim estranho, pra dizer o mínimo, mas o que ela podia fazer? Lutou tanto para manter a maturidade e harmonia entre os quatro; ela, Lily, Jack e Johnny. Então agora não podia simplesmente jogar anos de esforço para o alto.