daddy issues; Johnny Depp

2.6

Após se despedir de Emma com a promessa de que voltaria assim que concluísse a reunião com Camille, Johnny desceu as escadas e seguiu rumo a cozinha de sua casa. O cheiro de bacon frito invadiu suas narinas e seu estômago roncou, anunciando sua fome até então despercebida. A advogada notou sua presença e sorriu, já estava se servindo.

— Espero que não se importe. — Comentou, limpando a boca com um guardanapo. — Emma insistiu para que eu me servisse.

Johnny sorriu largamente, achando aquilo uma besteira. Há tempos sua relação com a mulher havia superado as barreiras profissionais, ele a considerava uma amiga.

— Sabe que pode ficar a vontade. — Disse enquanto se servia. — Emma não vai se juntar a nós, está indisposta.

— Ah, sim, ela me falou. Enjoo, não é? Espero que fique bem logo. — O homem concordou em silêncio, dando a primeira garfada em seu café da manhã.

— Peço desculpas pelo meu atraso. Para ser bem sincero, eu estava tão cansado que esqueci que tínhamos marcado essa reunião hoje.

Camille gesticulou com a mão, dando a entender que não se importava nem um pouco com aquilo. Ela sabia que os últimos dias - meses, anos - não estavam sendo nada fáceis para o ator, e não implicaria por alguns minutos de atraso.

— Não é nada urgente, de qualquer forma. Apenas rotina. — Ela suspirou. Também estava cansada.

— Alguma novidade?

Sempre que Johnny perguntava se havia alguma novidade, a advogada notava um brilho de esperança em seu olhar. Era como se ele esperasse que tudo não tivesse passado de um pesadelo, que da noite para o dia todas as acusações contra ele fossem retiradas. Camille também desejava aquilo, mas sabia que era impossível. Ela apreciava a esperança existente no homem, mesmo que mínima. Também reconhecia que tal esperança era por conta de Emma, que de alguma forma dava forças para que o namorado não se desse por vencido.

— Acrescentamos mais um processo de difamação, mas não será fácil, você sabe.

— Foram acusações vagas. Fora Emma, não há outros nomes citados.

— O problema, Johnny, é que seu relacionamento com a Emma é uma grande prova de que a senhorita Heard está falando a verdade. — O estômago de Johnny roncou novamente, mas dessa vez de enjoo. — Sei que não quer tocar nesse assunto, mas precisamos. Eu preciso repetir mais uma vez todas as implicações que tornar esse relacionamento público...

— Camille, por favor. — O homem havia perdido o apetite. De repente ovos e bacon não pareciam mais tão apetitosos quanto há alguns segundos atrás. — Minha decisão é absoluta, e peço que a respeite. A Emma fica. Meu relacionamento com ela não é negociável. Aquela mulher não pode provar nada, se a justiça for absoluta...

— A justiça é falha, Johnny. As leis são falhas, há pontos cegos, há buracos que vão facilmente prejudicar você. Mesmo que se livre disso legalmente, a simples suposição à pedofilia pode destruir de uma vez por todas a sua imagem. A sua carreira. O seu sonho.

Ele sabia que Camille estava falando a verdade, e sabia que ela só queria protegê-lo da melhor forma possível como advogada e amiga, mas aquela não era uma verdade que ele queria ouvir. Ele não queria seguir o caminho "mais fácil", não queria deixar Emma. Estava ciente das implicações, sabia que jamais seria chamado para outro filme, que seria tratado como a escória hollywoodiana, pior ainda do que já estava sendo, mas pouco o importava. Estava disposto a abdicar de todas as suas regalias, fama, holofotes, dinheiro... Seu sonho. Ele estava disposto a abdicar de seu sonho por Emma.

— Eu a amo, Camille. — Ele esperou que ela rebatesse, mas a mulher se manteve em silêncio. — Eu sinto que a Emma é a única coisa boa em meio a todo esse caos. Ela me faz bem, ela me ama. O que eu sinto por ela não poderia ser descrito com nenhuma música ou arte, e qualquer declaração pública não chegaria ao pés de expressar todo esse sentimento. É genuíno. Eu seria capaz de abandonar a nicotina caso fosse da vontade dela. — Ele tentou brincar, mas o clima estava tenso demais para risadas. — Minha imagem jamais vai voltar a ser o que era antes de todo esse escândalo. Mesmo que façamos o que você quer, o que toda a equipe de engravatados recomenda, ainda assim há a possibilidade desses rumores destruírem tudo o que eu construí... E, caso isso aconteça, eu não quero ter perdido também a única pessoa capaz de me arrancar uma risada sincera.