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O mundo caía do lado de fora da mansão, e a cada trovão a garota se encolhia ainda mais na cama e abraçava os joelhos com mais e mais força. Mas não era só do lado de fora que chovia; lá dentro da casa, no quarto de Emma, em seu rosto. Ela estava deixando a tempestade de seu interior escapar em forma de lágrimas, soluçando tanto quanto podia soluçar.

Ela teria preferido ser surrada até a morte, mas não foi o que aconteceu. Quando chegaram em casa, seu pai dispensou os seguranças e a puxou para a suíte principal, a tocando como nunca antes. Como se estivesse com medo de machuca-la pela primeira vez na vida.

- Pai... - Ele a calou com um beijo, e Emma sentiu que ia vomitar. Não entendia porquê ele estava de tão bom humor. Estava assim desde que o médico o chamou para um canto do quarto e contou algo aos sussurros. - Papai, o que o médico disse ao senhor?

Ela perguntou tentando se desvencilhar dos toques do pai, mas ele a prendeu na cama.

- Você não sabe, meu tesouro? - Ela fez que não com a cabeca. Ele sorriu do jeito nojento de sempre e tocou a barriga da morena com a mão livre, acariciando de leve. - Finalmente terei meu garoto, meu herdeiro.

E agora ela estava ali, chorando sem parar, em pânico enquanto uma vida crescia dentro do seu corpo, algo que ela nunca quis, nunca cogitou que aconteceria. Jamais. Mas ali estava o fruto de um ato hediondo, um relacionamento nojento, um incesto e estupro.

E ela teria que lidar com aquilo pelo resto da sua vida.

Após invadi-la mais uma vez, Félix fez questão de avisar que se ela ousasse tentar abortar o bebê, ele a mataria. E seria uma morte lenta com muita tortura, e Emma não duvidou daquilo. Na verdade tinha certeza absoluta de que ele facilmente conseguiria fazer aquilo e ainda sair ileso, como sempre. E tudo isso por ter esquecido de tomar o anticoncepcional no dia que voltou para casa depois de Johnny tê-la expulsado.

Ela não lembrou, pois depois que seu pai quebrou a promessa e a tocou outra vez, ela só queria beber e se drogar, e assim fez.

Como queria poder se drogar naquele exato momento.

— Merda! — Esbravejou, jogando os travesseiros no chão e desarrumando todo o lençol da cama. — Merda! — Passou os braços pela cômoda, jogando tudo que estava sobre ela no chão.

O abajur caiu e se dividiu em alguns pedaços de vidro, e ela se agachou e pegou um deles, passando o polegar pela ponta afiada. Se eu morresse, pensou, sentindo o caco cortar seu polegar, eu não teria mais esse problema. Não teria mais nenhum problema. A dor, o medo, as crises... Tudo iria embora. Eu não seria mais um problema.

Ela deitou no chão e respirou fundo, segurando o objeto afiado contra sua barriga e fechando os olhos. Foi aí que lembrou de Johnny, podia dizer até que conseguiu escutar o tom de voz dele quando disse que toda vez que ela sentisse vontade de se machucar, falasse com ele. Então lembrou de Lily e Jack, e de Vanessa, e das risadas deles.

Lily-Rose sofreria. Conhecendo a loira como Emma conhecia, com certeza ia se culpar e passar o resto da vida pensando que podia ter feito algo para impedir. Não que Emma seja tão digna de atenção assim, mas o fato é que Lily-Rose é desse jeito. Ela é meiga, é amável. É o sol que ilumina tudo e todos, independente do quão escura a vida esteja. Ela é sua melhor amiga, e Emma queria vê-la mais vezes, abraçar e ouvir a risada mais vezes.

— Não posso fazer isso. — Disse para si mesma, jogando o caco de vidro para longe. Precisava se controlar, manter a calma.

Fechou os olhos com força e mordeu os lábios. Não iria fazer mal físico algum a si mesma, era uma promessa. Seria realmente difícil, porquê tudo o que mais queria era sentir o alívio da morte, mas aguentaria. Aguentaria pelos próximos 7 dias, e assim que seu pai viajasse ela correria para os braços de Johnny e choraria como uma criancinha.

daddy issues; Johnny DeppOnde histórias criam vida. Descubra agora