05.

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Falcão 📌

Terminei meu turno e comecei a dar uma volta pela favela, ver como tá o movimento, mas sempre com a contenção do lado.

Pego um baseado e fico de marolinha. Passo por um beco, vendo a filha do Paulo, andando e chorando pra caralho. No começo eu ignorei, até ela sentar numa cadeira da praça e colocar a mão no rosto chorando mais.

Eu fiquei meio assim. No começo quis ignorar. Mas depois deu uma pena do caralho.

Bufei indo lá nela, toquei no ombro dela, e a olhei de cima a baixo que tava toda vermelha, cheia de aranhão e roxo pelo corpo. Até o seu olho tava meio roxo.

Falcão: Qual foi? — ela me olha com os olhos pequenos, vermelhos e os cílios molhados — Aconteceu algum bagulho? — tava até preocupado.

Ela levantou e veio até mim me abraçando e começando a chorar pra caralho, me fazendo ficar sem reação. Eu nem abracei de volta, só deixei ela lá, mas na realidade eu queria tirar ela de perto de mim.

Ela saiu do meu abraço e me olhou. Encaro seus olhos pequenos de tanto chorar. Mina era toda ingênua, toda bonitinha, não sabia como era o mundo de verdade.

Falcão: Pera, aí. — saio de perto dela, pegando o radinho — Tá na linha, Foguinho? — falei no radinho.

Foguinho: Passa a visão.

Falcão: Tua amiga tá aqui na praça chorando pra caralho.

Foguinho: Filha do Paulo?

Falcão: Ela mermo.

Foguinho: Tô indo aí. — desliga o radinho. Guardo meu radinho na cintura e vou pra perto dela.

Falcão: Quer contar o que aconteceu com tu? — coço a cabeça.

— Paulo, ele me bateu e disse que o que aconteceu com ele é minha culpa, Cátia também, depois eles me expulsaram de casa. — ela falou e eu até senti um bagulho no meu peito, tava com pena dela, a voz dela tava falhando, ela tava mal.

Falcão: É a primeira vez que acontece isso? — ela negou.

— Eles sempre me batem, mas hoje foi bem pior e eles nunca me expulsaram de casa. — falou limpando as lágrimas.

Falcão: Tu tem alguém por tu? — ela negou.

— Até tem, minha irmã, mas ela mora com o marido, e ele não iria deixar eu morar lá.

Falcão: Foda. — olho pro lado, passando a mão pelo cabelo — Como é teu nome? — volto a olhar para ela.

— Gabriela. — seu nariz tava vermelho, seus cílios molhados, ela tinha sardas no rosto que estavam bastante amostra, tinham marcas de tapas na sua cara, sua boca estava com uma ferida na lateral e o seu olho meio inchado.

Olho para seu corpo que estava vestindo uma calça e uma camisa preta, seu cabelo estava todo bagunçado e solto, nos pés tinham dois pares de sandália. Ela não era tão alta, era da altura do meu queixo, mas também não era tão pequena.

Olho para o seu rosto de novo e suas bochechas estavam rosadas, ela olhava para cada parte do meu rosto.

Escuto um barulho de moto e olho para trás, vendo Foguinho vindo.

Foguinho: O que foi que aconteceu? — ela saiu de perto de mim indo abraçar ele.

Gabriella: Eles me bateram e me expulsaram de casa. — começou a chorar novamente.

Foguinho: Respira. — tirou ela do seu abraço — Vou te levar pra minha casa, pode ser? — ela ficou um pouco pensativa, mas assentiu — Fica aqui, é rápido. — veio pra perto de mim, falando baixo — Como é que tu achou ela?

Falcão: Eu tava dando uma volta, quando eu vi ela andando e chorando, ela chegou aqui e sentou, começando a chorar mais.

Foguinho: Vida dela é complicada, da uma pena do caralho. — coça a cabeça — Vou levar ela pra minha casa e depois eu vejo esses bagulho.

Falcão: Vou falar com o Jacaré, pra dar uma coça nos pais dela. — ele assentiu fazendo toque de mão comigo, e saindo.

Respiro fundo e saio de lá, hoje eu tava afim de ficar em casa de boianha. No caminho eu não tirei Gabriela da minha mente, papo que a menina vinha na minha mente o tempo todo.

Ignoro esses bagulho e vou seguindo meu caminho.

Sobre Nós [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora