02.

1.3K 95 11
                                    


Falcão 📌

Abro o olhos, sentindo uns cabelos na minha cara. Olho para o lado e tinha uma loira do meu lado.

Papo que eu nem lembrava quem era, provavelmente era alguma que eu comi na noite passada e trouxe pro meu barraco.

Levanto da cama pegando meu calção e vestindo. Olho pra mina jogada na cama e começo a catucar ela.

Falcão: Acorda! — balanço o seu corpo, sem um pingo de delicadeza — Vaza! — falo assim que ela abre os olhos. Ela botou maior olhão pra mim, me olhou e fez cara de desentendida — Tá surda, caralho? Quer sair sendo puxada pelo cabelo? — ela levanta rapidamente, pegando sua roupa e vestindo.

— Não precisava disso tudo, grosso! — a loira fala com voz de quem acabou de acordar.

Falcão: E grande também. — chego perto dela, segurando no seu queixo forte — Me chama de grosso de novo, que tu vai ver o grosso! Te quebro todinha, arranco a porra do teu cabelo, rapá! — ela olha pra mim negando e vai saindo da minha goma.

Deito na cama olhando para o teto e pensando em altos bagulho. Saio dos meus pensamentos com meu radinho apitando.

Pego ele, escutando o que estavam falando.

Jacaré: Sobe aqui na boca, papo de cobrança pra tu fazer. — fala no radinho.

Falcão: Já é. — falo sem muita importância.

Jacaré é o dono da Rocinha, e eu, sou o braço direito dele.

Minha mãe mora aqui no morro, com a minha irmã, não se orgulha do que eu faço, mas também nunca foi de me deixar de lado, só não aceita o bagulho e me trata mal pra caralho desde que eu
matei meu irmão. Ele é um cuzão, igual o meu pai. Meu pai morreu, ele era morador e foi morto numa invasão policial aqui na Rocinha.

Eu entrei no crime por passar fome mermo, eu e minha família passava altas necessidades, minha mãe pegou até uma doença por não comer, ainda tinha meu pai, que era um viciado, nem pra tentar procurar um trabalho, só tirava de casa pra usar os bagulhos. Foi aí que meu pai morreu, minha coroa tava sem chão, tinha duas crianças pra alimentar.

Não tinha o que fazer, a coroa não achava emprego, tava grávida da minha irmã, um pivete de 8 anos, e eu, só tinha 10 anos de idade, não podia trabalhar, tive que entrar de cara nessa vida. Eu era criança, mas tava ligado que quando a pessoa entra no crime, só sai morto ou preso.

No começo minha coroa nem sabia, eu falava que ajudava os vizinhos a arrumar a casa deles e ganhava uns trocados. Ela só foi descobrir depois de um ano fazendo os corres pros vapor da boca. Lembro que levei um pau do caralho, foi a maior surra que eu levei na vida.

Ela chorava enquanto batia em mim. Mas ela não podia fazer nada, eu já tinha caído de boca no crime, já tinha virado até aviãozinho. Papo que foi difícil pra caralho ela aceitar, mas mermo assim não saiu do meu lado, ela tava ligada que eu só fiz isso por ela e pela minha irmã.

Ela só quis que eu fizesse uma coisa. Não parace de estudar. E foi isso que eu fiz, terminei a escola, mermo sabendo que aquilo não ia adiantar de nada na minha vida.

Agora a coroa endoidou quando eu fui preso pela primeira vez, foi no papo de uma missão indo roubar o banco, eu já era vapor nessa época, tinha acabado de fazer dezoitão e pá, passei papo de uns meses, porque era novo e a primeira prisão. Ela se sustentou com o dinheiro que eu deixava guardado. Mas muita das vezes o dinheiro não dava, por causa do cuzão do meu irmão.

Sobre Nós [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora