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   Enfim, o final de semana chegou e Marcela sentia-se animada. Seus machucados haviam desaparecido. Era o dia da quinceñera de Olivia na qual Geny a tinha convidado. A mulher, de início, não ia, entretanto, Geny mandou diversas mensagens encorajando-a a comparecer, o que a fez mudar de ideia. A festa começava cedo, primeiro teria uma missa na igreja do bairro para a menina durante a tarde, seguida da festa em si apenas a noite. A brasileira não era uma pessoa religiosa, não gostava muito de cultos, porém estava curiosa para saber como eram as igrejas neste país, não tinha pisado em uma desde que se mudou. Então resolveu participar de todo o ritual da quiceñera, já que queria ver todas as diferenças que haviam entre típicas "quinceñeras" e "festas de 15 anos" brasileiras. Ela também precisava de um tempo para espairecer. Trabalho e estudo o tempo inteiro, estavam deixando-a louca.

   A caminho da igreja refletiu na situação das ruas. Embora seu último encontro com o líder da gangue a tenha deixado aflita sobre um possível problema que talvez estourasse, nada aconteceu. O bairro encontrava-se inusitadamente calmo. Isso a deixava um pouco preocupada. Ao chegar na igreja, avistou muitas pessoas entrando, o lugar parecia que iria lotar. Foi recepcionada por Ruby com um terno simples e Monse com um brilhante vestido roxo e seus cabelos agora estavam lisos. Os dois discutiam enquanto entregavam folhetos para os convidados em frente a um quadro de moldura branca com uma foto da aniversariante, bem comum nesses aniversários. Um ponto para a lista de coisas que eram iguais nas duas culturas. Monse nem percebeu quando entregou o folheto para Marcela pois estava ocupada demais falando sobre "precisar contar algo" enquanto Ruby se esgoelava sobre um erro na diagramação dos folhetos. Marcela observou o papel em sua mão e viu que na frente havia uma foto da Olívia, com seu nome logo abaixo. Dentro, havia uma breve história de vida da menina, coisas que ela gostava, como uma biografia. A mulher adorou isso.

   Ela sentou-se na ponta direita de um dos bancos do meio. O vão ao seu lado dava lugar ao tapete vermelho que se estendia até o altar, onde havia uma pequena estrutura para a pessoa se ajoelhar em frente ao padre. Percebeu naquele momento que se tratava de uma igreja católica, pelo padre que conversava com alguns fiéis, pelos vitrais e pelas imagens de santos que se encontravam ao seu redor; eram poucas comparadas com a quantidade que tinham nas igrejas católicas do Brasil, porém, suas fisionomias eram parecidas. Ao observar mais as imagens notou algo que a fez refletir durante o culto inteiro. O pequeno menino Jesus fazia um sinal de gangue. Os "Santos" tinham mais influência na cultura local do que parecia e Marcela com certeza interrogaria um dos padres sobre isso quando tivesse alguma oportunidade.

   Quando o culto começou, Monse, Ruby e outro menino sentaram nos lugares reservados à frente da brasileira. Monse finalmente percebeu a presença da garota e a cumprimentou timidamente. Ao prestar mais atenção, a garota percebeu que o outro menino era na verdade César. Não havia o reconhecido pois agora o adolescente tinha sua cabeça raspada. Marcela se preocupou, todos os santos tinham a cabeça raspada e agora ele certamente tinha se tornado oficialmente um.

   A cerimônia havia sido muito bonita e os joelhos de Olivia provavelmente devem estar doendo por passar tantas horas ajoelhada. Ao final, todos os convidados se dirigiram a uma pequena sala na igreja em que entravam e desejavam feliz aniversário para a consagrada. A mulher não entendia muito bem o porquê, todavia, seguia-os e teve a oportunidade de se apresentar à Olívia e a conhecê-la melhor. A garota morena com seus olhos castanhos carismáticos estava extremamente feliz em seu vestido rosa claro rodado e adorou conhecer Marcela, já que tinha ouvido falar um pouco sobre ela. Ao sair daquela sala, a jornalista cruzou com o jovem padre que vira mais cedo. Marcela o parou e perguntou sobre o menino Jesus. O padre não soube respondê-la muito bem. Aquela imagem estava na igreja a anos, desde que ele frequentava quando pequeno, muito antes dele ou de seus colegas exercerem suas profissões. Ele apenas sabia que representava os "santos". Ao se referir a gangue por esse nome o homem fez o sinal de cruz com as mãos como se pedisse perdão pelo pecado desses homens. Entretanto, os padres mais velhos talvez pudessem respondê-la com mais detalhes, explicando como a imagem foi introduzida e porquê o sinal de gangue e recomendou que a mulher viesse em domingos normais pois esses padres sempre fazem as missas pela manhã.

Exposed| Looking for a better world| - Oscar DiazOnde histórias criam vida. Descubra agora