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   Na manhã seguinte, Marcela acorda com barulhos vindos de algum lugar da casa. A mulher levanta com dificuldade, ainda estava escuro. Ela pega seu celular. 5:00 da manhã. A jovem sai do quarto e logo descobre a causa dos barulhos. César estava no quarto dele recolhendo os cacos de vidro do chão e colocando em uma sacola. Ele nota a presença da moça depois de alguns segundos levando um susto.

- Oi. Desculpa eu vou arrumar tudo, eu prometo que não faço mais isso, se você quiser me expulsar eu entendo completamente!- O adolescente dizia alarmado tentando se justificar.

- César, eu não vou te expulsar - Marcela disse seriamente em meio a um suspiro.

- Não?! - O garoto disse esperançoso mas confuso.

- Não. Entretanto, você sabe que passou dos limites, certo? Eu entendo que você deve beber desde cedo e descontou toda a sua frustração e tudo o que você está passando na bebida eu não vou deixar um adolescente se embebedar na minha casa e quase colocar a casa abaixo. Você me entende, não é? - O menino concorda com a cabeça - Eu quero te ajudar e você precisa se ajudar também, ficando longe do álcool. - César assente.

- Me desculpe mesmo, eu não vou fazer mais, eu prometo!

- Confio em você.

  Marcela diz e sai do quarto do adolescente. Ela queria muito dar esse voto de confiança para o garoto, ainda mais depois das coisas que foram ditas pelo menino na noite anterior. Ele havia feito bobagens, mas o adolescente estava quebrado, precisava de ajuda, de um norte, de esperança, ele ainda era só uma criança. Como estava cedo demais, a brasileira adiantou seus afazeres e deixou o jantar semi pronto. César estava extremamente abatido, o semblante cansado evidenciava a situação enquanto o menino. Subitamente, o garoto correu para o banheiro da casa, a brasileira podia escutar da cozinha o menino vomitando suas entranhas. Ela suspirou, ele acabou de sair de um estado de desnutrição e se embebedou no dia seguinte. A carioca aproveitou para fazer um chá para o adolescente e deixar alguns remédios de enjoo e dor de cabeça à vista para o menino durante o dia. O jovem observou César sair do banheiro e voltar a limpar o quarto, ele claramente estava se sentindo culpado pelo que havia acontecido. Marcela o chama e dá a devida ajuda ao garoto, ele descansa um pouco mas logo volta a arrumação.

Após um longo tempo, ela saiu para a faculdade. Enquanto esperava o ônibus, a mulher reparou em um carro preto próximo ao ponto, a janela do carro estava aberta, e dela, poderia se ver um homem negro olhando para onde a brasileira estava. Os olhares se cruzaram, o homem logo desviou o olhar e saiu com o carro. A moça teve um mal pressentimento, mas tentou ignorar.

Na faculdade, as aulas foram extensas e estressantes. Havia duas garotas que não paravam de interromper o professor com afirmações supérfluas sobre a aula para se mostrarem inteligentes e superarem uma à outra. Ninguém mais as aguentava. A jovem andava rapidamente pelos corredores da universidade. Sua aula terminou mais tarde e iria se atrasar para o trabalho. Ao virar um corredor, a jornalista trombou com um homem branco e loiro com uma barba loira avantajada.

- Desculpa! - A moça fala no mesmo momento em que bateu no homem.

- Atenção, ¡mono! - O homem reclama e continua a andar.

Marcela também não parou seu caminho, continuando a andar rapidamente. Todavia, ao assimilar as palavras do homem, ela parou bruscamente. "Mono". Macaco em espanhol, falado por racistas da Espanha para ofender uma pessoa preta. A mulher apenas respirou fundo e continuou a andar. Não era a primeira vez que passava por aquilo e não era a última. A carioca saiu de sua universidade, viu um carro preto idêntico ao que viu pela manhã. A mulher se sentiu apreensiva, talvez seja uma coisa da cabeça dela, talvez apenas um carro igual, provavelmente não era nada, mas a mulher não queria se aproximar para descobrir.

Exposed| Looking for a better world| - Oscar DiazOnde histórias criam vida. Descubra agora