|2|

1.8K 197 45
                                    

  Marcela acordou cedo na manhã seguinte, era domingo, entretanto, ainda tinha muito o que fazer. Não havia nada para comer e ainda era cedo demais para conseguir comprar algo. Viu as informações do mercado mais próximo e notou que poderia ir andando, enquanto esperava chegar o horário do estabelecimento abrir, Marcela aproveitou para tomar um banho e voltar a organizar seus pertences. Lembrou de ligar para seus pais e avisar como estava e como a mudança estava indo bem e assim o fez. Desde que veio para os EUA não voltou para o Brasil nem para as férias, sentia falta de seu irmão mais novo e de sua mãe e de alguns amigos que ainda tentava manter contato, mas não do resto.

   Os seus pais não sabiam da real situação de Marcela, pensavam que a menina vivia uma vida perfeita, todavia, enfrentava dificuldades em todos os lugares que frequentava. Ser imigrante nos EUA não é algo fácil, principalmente para latinos, os quais, não são aceitos, sempre duvidam da capacidade desses e os mandam "voltar para os seus países". Cada dia parecia que se tornava mais difícil, não sobreviver, mas sim lidar com tudo isso. Se não tivesse uma rede de apoio, os seus dois amigos, a mulher tinha a certeza que estaria perdida. Quando finalmente o horário chegou, a jovem se arrumou e saiu.

   Marcela voltava satisfeita após ver o quão barato o mercado do bairro é em compensação ao que ia perto do seu campus. Segurava duas "ecobags" que ela havia personalizado e estava ansiosa para cozinhar na nova casa. Quando, de súbito, um carro preto antigo, parecido com um impala, anda devagar ao seu lado e um homem alto, magro, com cabelo bem pequeno, cavanhaque, uma pequena tatuagem de uma escrita no pescoço e meio baseado na orelha, se apoia na janela do veículo e começa a falar com ela.

-Ei bebé, como estás? É nova no bairro? Nunca te vi por aqui!- Ele fica apoiado na janela do carro com todo seu tronco para fora.

   A mulher continuou andando como se aquilo não estivesse acontecendo.

-Ei bebé, não me ignore! Não é todo dia que se vê uma hyna como você! Só quero te conhecer - Continuou a ignorá-lo e em seguida escutou dois homens que também estavam no carro, caçoarem do homem.- Butterass, me deixa aqui. - Ele dá duas batidas na lataria.

   O carro para, o homem desce e parte logo em seguida. Marcela apressou o passo e avistou várias pessoas na rua. "Ele não é maluco de tentar fazer alguma coisa comigo na frente de tanta gente! Ou é?" A mulher começou a se angustiar, porém ao mesmo tempo tentava se acalmar. "Esse homem não vai fazer nada comigo hoje."

- Bebé, para com isso, viu? Até desci do carro para falar com você.- Ele andou mais rápido e fica atrás da moça enquanto fala.- Nossa, mas você anda rápido!- Ela nem o olha- É pq eu tenho que me apresentar? Me desculpe bebé, sou o Sad Eyes.

   Após ouvir esse nome a garota fez uma careta. "Que tipo de nome era aquele? Pode até ser seu nome de rua, mas que coisa horrorosa."

-Olha, finalmente uma reação, agora me fala quem é você e o que está fazendo por aqui! - Ele diz e segura forte uma das bolsas da moça.

   Marcela parou e o fitou da cabeça aos pés. Ele usava uma blusa branca por baixo de uma blusa preta, sua bermuda era cinza e larga com meias de cano alto. Ele era um cara magro, não parecia ser tão forte e possuía traços mexicanos, além de falar espanhol. O homem se encaixava na descrição que Monse tinha dado na noite anterior, e tirando a cor, o carro que o deixou também. Parecia ser um gangster. "Talvez não seja tão bom o ignorar." A mulher respirou fundo, precisava se acalmar pois a raiva estava prestes a tomar lugar do medo que sentia a alguns segundos atrás.

-Sou uma nova moradora no bairro - A brasileira dá um sorriso forçado que logo desaparece. Ela puxa sua bolsa para si de brutamente e volta ao seu caminho. O homem continua a segui-la.

Exposed| Looking for a better world| - Oscar DiazOnde histórias criam vida. Descubra agora