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Marcela correu sozinha para a rua que César indicou. Havia um grande grupo de pessoas cercando uma viatura e algo no meio. A brasileira se segurou entre eles bruscamente, importando todos à sua frente. E apesar de saber o que encontraria, nada a preparou para o que viu. Geraldine, a doce idosa do centro comunitário sentada no chão aos prantos ao lado do corpo do filho que estava apenas coberto com um lençol simples de algum morador.

- MEU FILHO! MATARAM MEU FILHO! MEU MENINO! - A choro misturado com os gritos de dor da mulher causavam uma sensação de aperto em todos ali. A cena era devastadora.

Ao redor, pessoas não se continham e choravam. Outras filmavam relatando sua indignação e mostravam a cena do crime. A jornalista não teve nenhuma reação, sabia que devia fazer algo, devia perguntar a todos ali o que tinha acontecido, tirar fotos, mas não tinha coragem, não iria desrespeitar o momento. Aquilo era demais para ela.

Subitamente, algumas viaturas e uma ambulância apareceram. Um grupo de policiais mandou a população se afastar, entretanto, receberam retaliação de uma grande parte do grupo.

- VOCÊS MATARAM ELE!

- NÃO VÃO TOCAR NO GAROTO!

Em troca, os moradores de Freeridge receberam spray de pimenta em cima deles. A carioca teve de se afastar rapidamente para não ser afetada também. A chegar a uma distância segura com mais duas pessoas. A jovem pode ver os oficiais retirando Geraldine à força de cima do corpo do filho. A mulher estremeceu, de tristeza e raiva. Com outras pessoas não foi diferente.

- Eles vão limpar a cena e fingir que nada aconteceu! - A mulher ao seu lado reclama brava - ASSASSINOS! - Ela grita. Diversos outros moradores gritavam a mesma coisa. A jornalista conseguiu visualizar melhor a cena.

Ao lado do corpo de Manoel havia uma viatura aberta e tecnicamente "abandonada", no chão, diversos objetos escolares espalhados pelo chão. Alguns policiais que chegaram tomaram ela e começaram a mexer enquanto outros ainda dispersaram a população. Os paramédicos pegaram o corpo do menino e o levaram para a ambulância. Geraldine ainda gritava.

- MEU FILHO! MI HIJO! NÃO POR FAVOR! POR FAVOR NO!

Aquilo era horrível de se ver. Marcela se segurava para não chorar. A vida da moça passava diante de seus olhos. João Pedro, Heloísa, João Vitor e incontáveis nomes vieram em sua mente de uma só vez. Todos perderam sua vida prematuramente pela violência policial em seu país, deixando suas mães nessa mesma situação. [1]

A jornalista voltou a se aproximar do local. Notou um homem pegando os objetos do chão e guardando- os dentro de uma mochila. Ele estava mexendo na cena do crime. Ou seja, não seria mais uma cena de crime.

A jovem se aproximou já com celular em punho, tentando gravar o máximo que conseguia da situação. De repente, uma explosão. Uma cortina de fumaça surgiu. Marcela não enxergava mais nada em sua frente, seus olhos lacrimejavam. Com o efeito manada, ela e os moradores correram sem direção para longe dali.

Quando a moça finalmente conseguiu enxergar, ela estava no centro do bairro. Três pessoas desconhecidas estavam ao seu lado.

- Não acredito que fizeram isso com o menino! - A mulher exclamou

- A mãe dele estava devastada, coitada! - O homem respondeu

- Vocês sabem o que aconteceu? - A brasileira se intrometou no meio da conversa.

O homem e a mulher não souberem explicar muito bem, quando chegaram viram que um policial segurava o adolescente fortemente no chão. As pessoas que estavam na rua gritavam para o policial soltá-lo pois o garoto não se mexia mais. Uma dor crescia no peito da carioca, Manoel não merecia uma morte assim, não merecia morrer nas mãos de policiais. E pelo o que parecia, ele não teria justiça.

Exposed| Looking for a better world| - Oscar DiazOnde histórias criam vida. Descubra agora