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Na manhã seguinte, Marcela mais uma vez acordou antes do despertador. Estava sendo rotina, sua ansiedade não a deixava descansar. Ela fazia um chá enquanto pensava em como ajudaria Flame, mas não fazia muita ideia de como faria. O Santo saiu do quarto.

- Bom dia! Chá? - A jornalista sugeriu e indicou uma das canecas a sua frente. O rapaz concordou e pegou a caneca não indicada, nela estava escrito: "World's Best Boss" e sentou-se na mesa com ela. A carioca subitamente ficou séria, aquela era a sua caneca favorita.

- Você que fez a pintura do quarto? - Flame tentou puxar conversa, ele se remexia na cadeira desconfortável.

- Não, foi o César! Foi assim que ele quis me agradecer! - A moça sorriu ao lembrar do dia. Ela pegou o chá que sobrou sem pestanejar, não deveria se estressar por tão pouco.

- Ele realmente gosta de você! - Flame disse em um estranho tom. Se remexeu mais, ele estava ansioso.

- Flame...

- José!

- O que?

- José... É meu nome... - O rapaz disse tímido. Marcel sorriu surpresa. O jovem com traços mexicanos, tinha um cabelo baixo, usava brincos e possuía algumas tatuagens pelo corpo, inclusive, a dos Santos. Ele tinha cara de tudo menos de José.

- Então, ¡José! - A moça disse com um forte sotaque espanhol - Precisamos de um plano. Com o César não teve plano e quando eu me dei conta, ele estava quase morrendo no território dos profetas. Então vamos pensar racionalmente, sem tomar atitudes precipitadas. Porque também, somos todos adultos! - Ela refletiu por um segundo - Você é adulto né?

- Quase, tenho, 19! - A brasileira franziu o cenho mais surpresa ainda, ele parecia ser um pouco mais velho - Desculpa perguntar, mas você entrou quando na gangue? - O jovem parecia ser um membro antigo da gangue que era respeitado pelos outros.

José começa a contar nos dedos.

- 6.

- Anos? - Ele concordou com a cabeça. A própria carioca fez as contas - Você tinha 13? - O moço concorda novamente.

Marcela estava incomodada. O que levou a um menino de treze anos se envolver nesse mundo tão cedo? A mulher teve receio de perguntar.

- Precisamos conversar com Spooky.

- Não! - Ele exclamou alarmado - Preciso conversar com meu padrinho primeiro. Ele me colocou na gangue, sempre cuidou de mim. Converso com ele, se todo o dinheiro que eu tiver e a casa, não forem o suficiente, ele pode me ajudar. Bom, eu espero que ele vá me ajudar...

- E a sua mãe? - A brasileira tentou perguntar delicadamente. O jovem suspirou.

- Eu abandonei ela. - A dor em sua voz era nítida - Ela não aceitava que o dinheiro que nos sustentava vinha da gangue, no meio de uma das nossas brigas constantes, eu saí de casa e comecei a morar sozinho.

- Sinto muito... - Era tudo o que a carioca podia dizer

- Tudo bem. Agora eu a entendo...

O clima pesou. Eles bebiam o chá ansiosos.

- Você pode ficar aqui o tempo que precisar. - A moça não contaria que não conseguia mais sustentar a ela mesma, imagina outra pessoa. Ele precisava se sentir acolhido. - E tenha certeza que eu vou estar lá quando for conversar com Spooky. Eu não consegui fazer isso pelo César, mas por você eu vou. E... pelo Manoel. - Os dois sentiram um aperto no peito.

- Ele sempre me disse para sair dessa vida... - O rapaz respirou fundo novamente - Ele precisou morrer para eu escutá-lo.

- Não pense desse jeito. O importante é que você vai sair e Manoel ficaria muito orgulho, e ele está, onde quer que esteja. - José sorriu, a frase estranhamente o consolou.

Exposed| Looking for a better world| - Oscar DiazOnde histórias criam vida. Descubra agora