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   Marcela Rodríguez se encontra melancólica. A mulher preta e brasileira de estatura mediana, com olhos e cabelos cacheados pretos, sai dos dormitórios de sua faculdade com muitas malas e diversos caixotes. Dois amigos tentam ajudá-la a levar todos os seus pertences ao carro que a está esperando. Ninguém fala nada, apesar de todos quererem expressar sua raiva pela universidade, porém sabem que não irá fazer diferença alguma à esta altura. Quando finalmente chegam ao carro, Olavi — um homem filandês, alto, com cabelo castanho claramente tingido — coloca as caixas que levava no chão com um grande esforço, parecendo extremamente cansado, mas em compensação, Izabel — uma mulher latina, igualmente alta, com seu cabelo curto — e Marcela põem suas coisas de forma tranquila.

— Bom dia! — Marcela diz para o motorista do táxi que já estava com o porta-malas aberto esperando a passageira, e ele responde com um aceno de cabeça. — Obrigada por me ajudarem, se dependesse de mim não iria conseguir arrumar e nem tirar tudo a tempo. Obrigada mesmo!

— Imagina, amiga, estamos aqui com você! E não poderíamos deixar de ajudá-la em um momento como esse! — Izabel diz colocando a mão no ombro da amiga.

— Aaaahhh! Eu não consigo não falar, a universidade não poderia ao menos ajudá-la a arrumar tudo? Ou no deslocamento? Ou até para achar um lugar decente Eles te dão um dinheirinho e te largam como se estivesse tudo bem!

Olavi ainda se encontrava com raiva com toda a injustiça da situação, entretanto, as duas meninas só olham para ele, exaustas de todo o assunto sem o responder.

— Desculpa, mas eu precisava dizer!

Após todas as malas serem colocadas no carro, Marcela se despediu de seus amigos e avisou que mandaria mensagem quando chegasse em sua nova casa.

Durante todo o trajeto, a jovem apenas pensava que sua vida estava voltando a colapsar e se perguntou se fez as escolhas certas. Saiu do Brasil há dois anos e meio, em busca de uma vida melhor. Conseguiu aplicar seu curso de jornalismo para uma boa faculdade nos EUA, dando assim continuidade nos estudos e depois de muitos transtornos foi aceita com bolsa de 100%, ganhando auxílio da universidade e ainda havia conseguido um estágio remunerado.

Tudo parecia perfeito. Apesar das dificuldades, o futuro se iluminava com oportunidades maravilhosas, como ela chegou nesse ponto? A moça saiu do conforto dos dormitórios da para mudar-se para um bairro parcialmente perigoso chamado Freeridge que ficava à 1h30 de distância da universidade. Teria que acordar horas mais cedo, pegar ônibus e andar algumas quadras para chegar até a faculdade, depois pegar outro ônibus ou metro para seu trabalho e pegar outro ônibus para voltar para a casa.

Ela sabe que a vida ainda está um pouco melhor do que se estivesse no Brasil. Apesar de não obter plano de saúde e não ter ido ao médico em todos esses anos, tem condições de vida melhores e ganha bem mais apenas com seu único emprego e ainda tinha o auxílio que a faculdade havia mantido, mas, ainda sim, voltar a uma rotina minimamente parecida com a que tinha em seu antigo país a faz sentir que sua vida estava desmoronando e talvez só se deteriorou a partir de agora.

O pior de tudo é que a culpa não era dela.

"Se minha faculdade não me expulsasse do dormitório apenas para dar lugar a uma menina rica, filha de um senador que 'molhou a mão do reitor'...Eu não estaria nesta situação."

Sim, isso é injustiça, não podem a expulsar por "ser uma imigrante que dá prejuízo a faculdade, por não pagar a mensalidade e viver de auxílio-estudantil". Não podem a expulsar por esses motivos, é contra a lei e contra o contrato que assinou ao ingressar na universidade, porém, nada disso importa se eles têm dinheiro.

Exposed| Looking for a better world| - Oscar DiazOnde histórias criam vida. Descubra agora