Abraços

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Vez ou outra Regulus era visto com Barty pelos corredores, se prestassem bastante atenção também veriam Evans no meio, rindo sobre alguma piada idiota que Barty tenha soltado.

Ele estava se estabilizando.

Durante dois anos ele não entendeu todo amor de sua família pela sonserina, pois tudo que conhecia, vinha de Sirius. Mas agora que estava aqui, ele conseguia entender.

Tudo era lindo e grandioso, como se o mundo girasse ao seu redor.

As pessoas não se intrometiam no que ele fazia.

Elas queriam fazer parte do que ele fazia e isso era incrível.

Regulus estava indo a caminho da biblioteca, ele precisava devolver um livro que pegara alguns dias anteriores.

Ele arrumou a capa melhor contra o corpo, o dia estava frio, enquanto segurava o livro debaixo dos braços, tentando não os deixar cair. Ele virou o primeiro corredor a direita, no caminho que já havia se tornado habitual, quando escutou o primeiro soluço.

Ele achou que pudesse estar enlouquecendo, não havia ninguém ali, mas os muitos anos na "Mui Antiga e Nobre Casa dos Black", o ensinou a sempre confiar em seus instintos.

Ele continuou seguindo pelo corredor, esperando escutar novamente o dono do barulho, não demorou muito para que viesse.

Segunda porta à esquerda, ele percebeu.

Era um barulho baixo, porém constante, quase irritante.

Regulus abriu a porta.

Era uma sala de aula vazia, que supunha pela poeira, não era muito utilizada, Hogwarts estava cheia delas.

Havia uma garota encolhida em seu fundo, seus cabelos loiros esbranquiçados tampando boa parte do rosto que não estava escondido entre seus joelhos. Ela estava chorando, ele percebeu.

Sirius era o irmão empático, quem sabia cuidar de feridas, quem acalmava Regulus depois de uma punição, quem o livrava dos problemas.

Não Regulus.

Geralmente ele apenas permanecia estático, parado, sem conseguir se mover, sem conseguir se impedir de chorar, sentindo seu peito queimar mais do que queimaria se estivesse em seu lugar.

Ele respirou fundo, pensando em sair da sala, ele realmente se virou para sair, mas ela soluçou mais alto, ele não poderia deixá-la assim.

Ele girou em seus calcanhares caminhando até ela, desviando de algumas carteiras antes de se abaixar à sua frente.

"E agora?", ele pensou.

Será que deveria encostar em seu ombro, ou puxá-la para um abraço como Sirius costumava fazer?

— Vai embora Black — ela choramingou de repente.

Regulus ficou quieto, quase podia sentir seus músculos estáticos.

Como ela poderia saber seu nome? Talvez ela achasse que fosse Sirius, fazia mais sentido que fosse.

— Eu... sou Regulus — ele disse incerto.

— Eu sei quem é — ela devolveu em igual tom, talvez com um pouco mais de confiança que Regulus pudesse dispor, mas ainda vulnerável. — Vai embora, não preciso da sua pena.

— Não estou — e de fato não estava, preocupado talvez, mas com pena, não. — O que aconteceu?

Ela a ouviu soluçar mais uma vez antes de seu choro se tornar mais audível e ela se encolher mais em si mesmo.

Regulus se sentou no chão ao seu lado, brincando com a poeira acumulada no chão, monstro provavelmente morreria se o visse naquele lugar.

— Eu sou um fracasso — ele a escutou sussurrar depois de um tempo.

— Por quê? — Ele tentava ser gentil, mas esse nunca foi o forte de um Black.

Eles eram criados para serem obstinados, agressivos e certeiros, uma arma de matar.

— Eu sou horrível em tudo que faço — ela soluçou novamente — Lene, me convenceu a tentar entrar no time de quadribol e eu não consegui, novamente...

— Lene? — ele perguntou, pensando em algo para tentar consolá-la. Droga, em momentos como esses ele gostaria de ser um pouco mais como Sirius.

— Marlene — ela virou para olhá-lo, seus olhos azuis intensos o pegando de surpresa, eram lindos, quase angelicais, como se não pudesse existir maldade ou tristeza dentro deles e ao mesmo tempo pareciam carregar um fardo inestimável.

— Entendi... — ele tentou se concentrar novamente — Você gosta de quadribol?

— Não muito, mas Lene é viciada, desde que aprendeu a jogar — ela respondeu um pouco mais animada — Treinamos por meses... desde o ano passado e eu... falhei.

Hesitante, ele estendeu a mão para tocar em seu ombro como uma forma de consolo. Se viu surpreso quando sentiu seu peso em seu ombro, ela o abraçava.

Apenas Sirius o abraçava.

Apenas Sirius podia o tocar assim e, no entanto, ela estava lá.

Ele se sentiu sufocado, como se seu simples toque fosse o suficiente para roubar todo ar de seu pulmão e ele não gostou disso.

Ele tentou não se desesperar, enquanto passava os dedos por entre seus cabelos ondulados.

— Eu sinto muito — ele conseguiu se obrigar a falar.

Parecia tão estúpido.

Pelo que ele estava se desculpando?

Não é como se ele tivesse sabotado seu teste, ou como se estivesse o julgando ou ainda, tivesse roubado sua vaga no time. Principalmente, ele se atentou, porque ela nem era da sonserina.

Mas, de alguma forma, ele ainda sentia como se precisasse se desculpar, como se assumir a responsabilidade pela dor dela, fosse fazer com que ela sumisse.

A garota não se levantou por um bom tempo, ela apenas ficou ali, chorando, até não estar mais.

Pandora, ele veio descobrir mais tarde.

Esse era o nome da segunda pessoa, primeira se descartarmos laços sanguíneos, que o abraçou em toda sua vida. 

My Pur StarOnde histórias criam vida. Descubra agora