Pesadelos

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"— Errado! — Sua mãe gritou do outro lado do cômodo.

De alguma forma ele sabia o que viria, antes de vir. Sua mãe nunca aturou muito bem erros.

Ele tentou não se concentrar no feitiço quando ele foi lançado, mas ainda possuía uma vaga noção de seus gritos, como se seus ossos estivessem sendo mutilados e depois retirados, sendo obrigados a crescer novamente e então mutilados até desaparecer.

Ele se percebeu no chão, as lágrimas escorrendo de seu rosto pálido, enquanto seu corpo tremia, ele queria que parasse.

Ele queria gritar para que ela parasse."

Regulus de fato gritou.

Ele se sentou em sua cama, segurando a varinha arfando pesadamente, enquanto o último grito escapava de sua boca, ele notou vagamente seus colegas o encarando enquanto tentava fazer suas mãos pararem de tremer.

Era uma característica adicional da maldição cruciatus, seus danos permaneciam mesmo depois de anos, quando usada muito frequentemente.

As mãos tremendo, sensação de inquietação, hiperventilação, despersonalização.

Em alguns dias, era como se ele não estivesse vivendo, como se tudo ao seu redor fosse uma simulação a qual ele assistia sem de fato participar.

Era estranho observar todos sendo capazes de sorrir tão livremente, agindo sem se preocupar em ser amaldiçoado a cada esquina e não poder compartilhar do mesmo sentimento.

Ele colocou o pé no chão, o contato do frio com o quente arrepiando sua pele, ele ignorou os chamados se trancando no banheiro.

Era cedo, muito cedo.

Ele observou seu reflexo no espelho e sentiu vontade de quebrá-lo, de assistir as juntas de seus dedos sangrarem enquanto aquela imagem era destruída, mas ele se resignou a respirar fundo, enquanto limpava o suor da testa.

Seus pés se moveram quase que automaticamente até a banheira, ele a ligou, esquentando sua água o máximo que conseguia, deslizando a roupa por seu corpo pálido e magro, tentando não se atentar as cicatrizes, tentando não pensar.

Ele não precisava pensar, ele precisava esquecer. Recolocar os pensamentos no lugar.

Lentamente ele subiu os muros de sua oclumência novamente e analisou a situação de uma forma fria.

Não era como se dormir com a varinha debaixo do travesseiro fosse um trunfo genial, não quando ele não possuía coragem para usá-la e certamente não quando seus pesadelos estavam no mundo real e não em seus sonhos.

Era apenas um conforto.

Um consolo de saber que se quisesse poderia se defender. Mas coragem nunca foi sua área...

Ele ficou ali por mais tempo do que achava necessário e então se levantou, sem se importar com a água caindo no chão.

Seus colegas tiveram a decência de fingirem estar dormindo quando ele saiu e momentaneamente ele agradeceu.

Não queria ter que falar com ninguém, explicar coisas que não poderia ser capaz de explicar, então ele apenas pegou sua capa e saiu.

Ele vagou por mais tempo que pretendia, suas pernas doíam quando ele percebeu onde estava. Ele quase gargalhou ao se perceber parado em frente ao armário de vassouras, mas não achava que fosse capaz de gargalhar.

Era como se o som fosse proibido em sua boca.

Ele estava sem varinha, não adiantaria de qualquer forma tentar voar, mas ele queria voar.

Abruptamente, ele ouviu o click da porta de dentro para fora antes de ela abrir.

Ele se viu a frente de James, seus cabelos revoltos bagunçados para todos os lados, seus óculos levemente tortos no rosto enquanto ele tentava colocar a luva de couro de dragão, segurando a vassoura debaixo do braço.

Ele corou fortemente quando o viu parado à sua frente, Regulus percebeu que ele estava se culpando por ter sido pego onde não deveria.

— Bom dia Reg — ele tentou ser cordial.

Era cordial demais, como se ele supusesse que apenas por ser amigo de seu irmão ele tivesse liberdade o suficiente para o chamar assim.

— Arrombando o armário de vassouras Potter? — ele perguntou debochado, analisando o garoto a sua frente, seus olhos se detendo levemente no nome bordado no uniforme de quadribol. Ele era parte do time.

— Como se não fizesse o mesmo — James devolveu em igual tom, sustentando o olhar antes de abrir um sorriso, sua covinha direita ficando à vista.

Regulus respirou fundo antes de se virar para ir embora.

Em qualquer outro dia ele poderia lidar com James e seus amigos, mas não hoje e não agora. Ele sentia como se pudesse socar seu belo rosto, apenas pelo prazer de ver seu sorriso vitorioso sumir, mas ele não o faria.

Ele se recusava a ser o mínimo que fosse parecido com Walburga nesse sentido.

Além do mais, bruxos não usam os punhos, eles lutam com varinhas e inteligência, ele não se rebaixaria a um trouxa.

— O campo é grande o suficiente para nós dois, se ainda quiser jogar — ele ouviu Potter falar atrás de si, seu tom era banhado em deboche, como se ele o estivesse o desafiando.

— Não quero correr o risco de ser derrubado pela sua incapacidade de voar — ele foi igualmente debochado, seus lábios se curvando em um sorriso maldoso enquanto se virava.

— Acho que está com medo — ele se escora no barraco, segurando a vassoura presunçosamente.

— De você? — Regulus perguntou descrente.

— Exato, Black.

Regulus o encarou por alguns segundos antes de andar até ele, a diferença de suas alturas apenas mais evidenciadas, e então desviou e entrou no barraco, pegando a primeira vassoura boa que encontrou.

— Vamos nessa, Potter — ele quase cuspiu o nome, enquanto andava até o campo de quadribol, deixando o outro garoto, que muito embora ele não pudesse ver, sorria confiante e feliz. 

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