O Herói Enganado

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Por um momento Nala se esqueceu do irmão, seus olhos fitavam os de Ghedi, que brilhavam em lágrimas. Ela sabia que o irmão não resistiria — sabia que ele nem queria resistir, almejava a morte, ansiava reencontrar Nyuni ao findar da vida. Contudo ela não imaginava partir sem a companhia Ghedi.

— Você não pode estar falando sério — disse Nala —, como pode querer ficar? Vai me deixar ir sozinha? Vai deixar seu filho sozinho, cacete?!

— Eu não tenho muita escolha, ok — resmungou Ghedi se abaixando frente a Nala —, viu como H'ebimpa ainda está atrelado em mim? Eu dei a energia para que ele viesse para nosso plano físico, preciso cortar esse vínculo, tenho que encontrar o tio Akin.

— Isso é loucura...

— Loucura será se eu carregar uma entidade que se alimenta de cabeças humanas comigo para sempre, quantos cadáveres eu carrego nas costas desde que ele me acompanha? — argumentou Ghedi — Meu tio vai me ajudar, ele sempre conhece um jeito, ou conhece alguém, ou algum ser que conheça um jeito, eu vou atrás de vocês, guardei bem as informações, "Fazenda Lírio Negro".

— Você tem que ir logo Nala, tem mais gente vindo pra cá! — murmurou Dajan — Eu vou ficar bem Nala, sei que é difícil, mas tem de me deixar aqui, e salvar a pequena Amara, ela não merece morrer aqui, desse jeito nas mãos desses bárbaros, vocês têm muita vida pela frente.

Nala sorria mesmo que em lágrimas. Beijou o irmão, declarou seu amor por ele, pediu desculpas e o deixou ali, ajudando-o a se sentar apoiado a um móvel. A irmã se levantou, encarou o guia que tentava secar o rosto, mas não parava de chorar.

— Sabe que eu nunca deixei de amar você, né? — disse Nala, se aproximando de Ghedi.

— Quando sai de Vila Liberdade com minha mochila nas costas, estava decidido nunca mais voltar, não queria mais ver a cidade, e nem você — Ghedi fungou —, pois a vergonha me consumia, vergonha por tomar tantas decisões ruins naquela época... E, porque achava que você nunca me perdoaria, eu pensava que me odiaria...

Ghedi desdenhou da frase mais importante dita por Nala; "sabe que eu nunca deixei de amar você...". Depois da pergunta feita pelo filho na noite anterior, muitas dúvidas pairavam na mente do guia, e não queria dizer nada da boca para fora.

— Eu tentei, juro que tentei te odiar — interrompeu Nala, sorrindo —, mas mesmo depois da sua fuga, continuei tendo sentimentos por você, e quando voltou com a Dalji grávida, nossa, foi um baque forte pra mim, todos os sentimentos que havia matado, ressuscitaram, e me feriram gravemente.

Jamila pôs-se a buzinar a fim de alertar o casal que era hora de partir. Nala então Beijou Ghedi numa intensidade a qual, há tempos não o fazia, pensando na hipótese de aquele ser o último beijo.

— Eu te amo, e vou te esperar por três dias na casa da minha mão — instruiu Nala,  —, se não chegar a tempo, deixarei uma cópia do mapa com ela, e instruções para nos achar.

Talvez, as palavras de Nala fossem apenas efeito da adrenalina. Afinal, a última vez que havia dito a Ghedi que o amava, H'ebimpa não era uma realidade para eles. Ghedi contudo, sabia disso, afinal, do grupo de amigos, sempre fora um dos mais racionais, aquele que demorava tomar uma decisão por pensar demais, por isso, optava por não falar algo que poderia se arrepender nas horas seguintes.

— Tinha até me esquecido da sua mãe— Ghedi sorriu —, voltarei pra vocês antes do fim do prazo, prometo!

Beijaram-se novamente, um beijo curto dessa vez.

— Eu te amo irmão, não se esqueça disso — Nala beijou na testa —, descanse em paz, irmão, e dê um abraço no Nyuni por mim.

Após outro beijo no irmão, caminhou para a viatura, e entrou.

Covardes Não Tem Final FelizOnde histórias criam vida. Descubra agora