Romeu e Julieta

171 28 419
                                    

O pássaro voou sobre as redondezas da delegacia, logo tomou rumo a floresta. Após passar pela parte que banhava a rodovia a ave observou um homem vestido de branco, caminhando pela clareira.

Alguns quilômetros a frente havia uma viatura da polícia estacionada em meio a mata densa, a visão era prejudicada pelas grandes árvores que se entrelaçavam, mas era possível ver e ouvir um homem branco, fardado, cavando um buraco. O pássaro seguiu adiante, e mergulhou em alta velocidade mata adentro, desviando-se dos galhos e outros animais voadores, logo ouviram-se vozes ecoando na mata, a ave então escolheu uma árvore, e pousou.

— Mais a frente temos o Gigante Vermelho, um pau Brasil com seis séculos de vida — era Ghedi gritando, guiando um grupo de turista —, ele tem quarenta metros de altura, e cinco de diâmetro, acho que uns sete de vocês conseguirão abraçar ele.

Brincou o guia que estava a alguns metros de distância dos demais do grupo, que estavam maravilhados com a mata, tirando inúmeras fotografias.

— Esperem aí!

Ghedi gritou ainda mais alto, num tom desesperador.

— Não venham aqui, por favor, não venham! — ele ordenou.

— Por quê? — questionou uma turista.

— Tem... Tem um — gaguejou —, tem um, bicho, isso! Tem um bicho silvestre, se alimentando — mentiu rápido —, não temos permissão para nos aproximar nem registrar isso, vou chamar os guardas-florestais.

O quê estava vendo era algo mais sangrento que um animal selvagem se alimentando, haviam dois corpos aos pés da enorme árvore de tronco vermelho e raízes expostas. Era uma garota e um garoto, ambos com uniforme do clube dos escoteiros, e os dois corpos estavam decapitados.

— Puta que me pariu! — sussurrou o guia espantado, porém, aparentemente calmo — E o dia conseguiu piorar muito, e nem meio-dia é ainda.

Ghedi não conseguia tirar os olhos dos corpos, murmurava a todo instante, "não pode ser, isso não está acontecendo, que merda, que merda". Após tando coçar os olhos, a barba, até cabeça como se tivesse tendo uma crise alérgica, apanhou o rádio portátil.

— Alguém sabe me dizer qual a temperatura de hoje? — perguntou o guia — Vamos logo, alguém — sussurrou esperando uma resposta rápida.

— Sol o dia todo — respondeu uma voz feminina — máxima de vinte e sete graus.

— Ah, sim, obrigado Jamila, está um baita calor — comentou Ghedi, trocando de canal logo em seguida — Agora vamos, anda logo.

O guia não suava frio, ainda sim não tirava os olhos dos corpos. O vento que balançava as folhas, sacudia também seu colete verde desabotoado, e refrescava-lhe o rosto que mais parecia queimar naquele momento.

— Ghedi? — outra voz feminina chamou pelo rádio, era Nala — Aconteceu alguma coisa? Já faz um bom tempo que não usamos esse truque.

— Até que enfim — sussurrou o guia —, aconteceu sim, uma coisa muito séria, grave.

— Então fala.

— Não posso — respondeu Ghedi —, preciso que você venha pra cá urgente, e o mais rápido que conseguir, não é seguro falar sobre isso pelo rádio, não dá pra saber se mais alguém está nesse canal, e é melhor você ver o que estou vendo antes de qualquer pessoa.

— Ok — concordou Nala —, onde você está?

— No lugar do nosso primeiro beijo, onde...

— Entalhados nossos nomes — ela completou.

Covardes Não Tem Final FelizOnde histórias criam vida. Descubra agora