Olhos de coruja

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Nas mediações do centro da pequena cidade o movimento era grande como de costume nos fins de semana. Destaque maior para o bar Lótus Brilhantes, estabelecimento que Vanessa administrava, desde que herdou da falecida patroa, Dona Lurdes.

A boate estava animada, pessoas sentadas às mesas ou ao balcão, outras dançavam no meio do salão, casais subiam e desciam pelas escadas.

Edgar estava sozinho, bebendo cerveja, e em uma mesa próximo ao balcão, já havia seis garrafas vazias, e a sétima estava pela metade. Nala estava em uma mesa mais ao fundo, acompanhada de um homem de cabelos castanho-escuros, e nariz proeminente. Conversavam e riam, enquanto bebiam. Era costumeiro passar no bar ao fim do expediente para uma cerveja, e uma vez ou outra, conhecia algum forasteiro por quem se interessava.

Numa outra mesa próximo ao balcão, Everton, contrariava muitos de seus fiéis, mas não deixava de frequentar os bares da cidade, dizia que, "se Jesus gostava de um vinho, ele também podia".

O sutil sino na porta avisou a chegada de mais um cliente. Ghedi caminhou pelo salão, desviando de algumas mesas e alguns casais que dançavam por ali, foi até o balcão e pediu uma cerveja, e enquanto esperava, tirou um cigarro, de uma caixa que tinha os escritos "Kumbaya Calmante", e ascendeu.

— Sério que vai fumar erva na presença de um delegado? — bradou Edgar encarando o guia turístico, tentando arregalar o olho bom que não obedecia, permanecia caído.

— Estou vendo várias pessoas por aqui fumando suas ervas, até você , por que eu não posso? — rebateu Ghedi após soltar fumaça.

— Sabe que o meu cigarro, e os demais são tabacos, já o seu todos sabem que não é tabaco...

— Isso porque "todos" sabem — enfatizou —, que meus cigarros são de camomila e erva-doce — deu outro trago —, e "todos" sabem que isso não dá onda, e nem é proibido — Ghedi concluiu, se virando para o balcão novamente.

— Abusado! — murmurou o delegado entre um gole de cerveja.

A garçonete se aproximou com uma garrafa de cerveja e um copo de vidro sextavado, colocou o copo sobre a mesa e serviu, mas antes de deslizar o copo para Ghedi, o pegou e de um gole, deixando o vestígio de sua boca, devido ao batom vermelho que estava usando.

— Aqui está — disse a garota sorrindo, em seguida, foi atender outro cliente.

— O que está fazendo aqui? — Vanessa, que estava no caixa se aproximou — Sabe que hoje eu não vou pra sua casa, é sábado, tenho que ficar e administrar esse lugar, lembra?

— Sim, eu me lembro — respondeu Ghedi após um gole —, só passei pra uma cerveja mesmo, digamos que o dia não foi nada fácil.

— Entendo, percebi mesmo que alguma coisa aconteceu — sussurrou a dona do bordel —, mas assim, somos amigos certo?

Ghedi concordou com aceno de cabeça.

— Amigos que transam às vezes — Vanessa continuou —, gostamos de ser amigos, e gostamos de transar, eu tenho que te dizer uma coisa, mesmo administrando o Lótus Brilhante, não me relaciono com mais ninguém de Vila Liberdade, você é minha única exceção...

— Eu sei de tudo isso Nessa...

— Estou reforçando — a mulher continuou —, para caso esteja pensando em ficar aqui por toda a noite na esperança de passar a noite ou algo parecido.

Ghedi encarava os olhos castanhos de Vanessa, e sorria acompanhando também o movimentos dos lábios da mulher ao falar.

— O quê temos é um lance casual, então não me importo se quiser subir com uma de minhas garotas, a Júlia por exemplo, te acha um gato.

Covardes Não Tem Final FelizOnde histórias criam vida. Descubra agora