O Hospedeiro

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Aquela madrugada fora talvez, a mais fria da estação, obrigou os solteiros a acrescentarem um cobertor a mais, e os casais a se agarrarem e entrelaçarem os pés, numa conchinha acolhedora. Paki e Jamila dormiram tranquilamente, estavam tranquilos quanto a decisão de ir embora.

O sono do guarda teria sido perfeito e tranquilo até o horário em que o despertador foi programado para o acordar, mas algo o despertou antes do previsto. Um barulho vindo do andar de baixo, parecia que alguém havia tropeçado em algo. Paki abriu os olhos e concentrou-se a fim de ouvir mais alguma coisa, mas não ouviu nada, com isso se ajeitou novamente e tentou voltar a dormir, contudo, ouviu-se outro barulho, não poderia ser enganado.

Levantou-se com calma, catou o revólver na gaveta da mesa de cabeceira, e foi de encontro a origem do som. Da escada, ouviu outros pequenos ruídos, ao descer até a metade, notou que a porta dos fundos estava aberta, forçou o pouco a vista e viu algo passar por ela. Um calafrio percorreu pelo corpo o homem, mas ele então apressou-se, contudo ao chegar na varanda dos fundos, não havia ninguém.

— Só me faltava essa agora.

Murmurou Paki, em seguida ouviu um carro dando partida e saindo apressado, correu para tentar ver pela janela da sala de estar, mas não conseguiu ver nada de útil. Aproveitando que estava de pé, decidiu preparar o café, faltava ainda uma hora para o horário marcado com Nala, mas Paki não conseguiria voltar a dormir.

Não tardou para que Nala chegasse acompanhada de Ghedi, Dajan e o casal adolescente, que não conseguiam de forma nenhuma conter a felicidade pelos atos recentes – a rebeldia silenciosa na madrugada.

— Se for analisar, estamos roubando duas viaturas da cidade — comentou Paki.

— Ah, que se dane — Nala gargalhou.

— Tenho que pegar a bolsa de armas — comentou Paki.

O guarda não comentou sobre a invasão a casa durante a madrugada, achou que não fosse importante, e não queria preocupar os demais. Estavam ajeitando as coisas nas caminhonetes, quando notaram uma "carreata" se aproximar, sendo que na frente, haviam três viaturas policiais.

— Isso não é bom sinal! — murmurou Ghedi.

— Lembra quando mencionei sobre uma possível represália? Parece que eu estava certa. — Nala observava a aproximação

Ao notar um policial pondo metade do corpo pela janela de uma viatura, dirigida por Edgar, e apontando uma arma de grande porte, talvez um fuzil, Nala arregalou os olhos, vendo que não se tratava de apenas uma intimidação.

— Droga, entrem, entrem, vamos logo! — Nala gritou em desespero, sacando a arma que trazia no coldre preso a calça.

Todos correram de volta para a casa de Paki, por sorte o guarda ainda não havia guardado a bolsa onde estavam suas armas. Catou o rifle, e empurrou a bolsa para Ghedi, que apressou em escolher uma pistola semi-automática, era a única que tinha o conhecimento para usar.

Os carros pararam em frente a casa, e logo as paredes foram acometidas por uma saraivada de tiros. As vidraças explodiam com violência assim como muitos móveis e itens decorativos da casa. Os mais jovens gritavam enquanto se protegiam, Kito protegia Amara, Luena acolhia Angela nos braços, ambos atrás do balcão da cozinha, ficando um tanto expostos para a porta dos fundos.

— Não adianta se esconder Paki, se entregue logo e tudo isso a acaba — gritou o velho Edgar —, ninguém precisa morrer — ironicamente também atirava contra a casa.

Além dos policiais que o acompanhava, havia também muitos civis armados, homens comuns que davam cobertura aos oficiais.

— Merda — sussurrou Nala —, se eu conseguir chegar na minha viatura, posso pedir ajuda ao Jamal, com certeza o informante dele não era de confiança e dedurou a gente.

Covardes Não Tem Final FelizOnde histórias criam vida. Descubra agora