Introdução

216 47 289
                                    

O Assovio em Meio a Mata 

Como toda cidade pequena dos interiores do Brasil, Vila Liberdade era um lugar carregado de uma atmosfera mística desde sua fundação, quando o povos nativo daquela região foram dizimados e expulsos dali. Houve uma grande resistência, é claro, mas no fim de tudo, os homens brancos conseguiram tomar o lugar em nome da coroa portuguesa, e ali levantaram uma vila.

Na época, a vila não se chamava Liberdade, até porque, só pessoas brancas possuíam esse privilegio. No entanto, a dominância da branquitude não durou muito, pois, segundo as histórias contadas pelos mais velhos, uma mulher forte, membro da família real do reino do Congo.

As histórias contam que essa mulher, unida a um ser poderoso – vindo de outro planeta –, assassinou "seu senhor" e todos da fazenda, libertando assim os escravizados que "viviam" ali. A fazenda então foi chamada de "Fazenda da Liberdade", e quando todas as fazendas da região foram tomadas pelo povo preto, todo o lugar se tornou Vila Liberdade.

Mas como a ganância dos homens não tem limites, houvera muitas investidas dos "colonizadores" contra aquela vila, contudo, todas foram um fiasco, e vendo que a força bruta não adiantaria, os europeus desistiram das batalhas e propuseram alianças, o que também não funcionou, pelo menos não quando e como eles queriam, isso, pois, a liderança da princesa libertadora não era só forte, mas muito inteligente, a ponto de não cair nas armadilhas dos inimigos facilmente.

Entretanto, a princesa não era imortal, e um dia a morte a alcançou. Novas gerações se ergueram em Vila liberdade, e os descendentes da princesa não eram nem tão fortes, nem inteligentes, tampouco compromissados com a liberdade de seu povo. Na época, a escravidão já havia sido abolida – em tese. A modernidade alcançava o país com rapidez, e logo, os grandes homens – brancos – de muitas posses naquela região, se infiltraram e Vila Liberdade como amigos, como pessoas pacificas, mas queriam apenas terem de volta aquelas terras.

E assim aconteceu, com a modernização dos maquinários de agricultura, o povo de Vila Liberdade foram perdendo espaço, pois, produziam bem menos que os grandes fazendeiros da vizinhança, e assim, um a um, os descendentes da revolução que havia conquistado aquelas terras, foram vendendo seus lares, de modo que a cidade – num breve período – voltou a ser dominada pela população de descendência europeia.

Décadas se passaram desde então, e nunca mais surgiu um líder para salvar os oprimidos da opressão moderna. Na verdade, como foi feito em todo o país, o apagamento histórico sumiu com muitos registros, fazendo com que o povo não conhecesse suas origens, deixando-os ainda mais fáceis de serem manipulados e explorados.

No início da década de 90, uma onda de assassinatos brutais chocaram a cidade de Vila Liberdade, um jovem de nome Malik foi preso pelos crimes ditos na época como, demoníacos. Muitas famílias foram embora daquele lugar jurando nunca mais voltarem, contudo, algumas voltaram. Aquele era um lugar pacato parado no tempo, território onde a modernidade não chegava. Contudo, 30 anos após o massacre de Malik, a cidade já havia voltado a normalidade.

Por ser uma cidade "histórica", houve um alto investimento na captação de turistas, a corporação da guarda-florestal foi ampliada a fim de restabelecer e preservar a mata que cerca a cidade. E muitos outros projetos foram retomados, como o grupo de escoteiros chamado de Clube da Mata, onde crianças e adolescentes eram instruídos ao respeito a natureza e sobrevivência em situações extremas.

Todos os sábados os membros do Clube da Mata acordavam cedo e caminhavam mata adentro em direção à sede, onde viva o líder – um velho simpático de dreads grisalhos, chamado Hernandez. Contudo, às vezes acontecia de um ou outro membro faltar aos afazeres do clube e se embrenhar em meio a mata, geralmente para namorar as escondidas.

Covardes Não Tem Final FelizOnde histórias criam vida. Descubra agora