O Urso de Pelúcia

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Na manhã de terça-feira o alvoroço na cidade começou bem cedo. Os clientes da padaria da Eleonor formulavam suas teorias a cerca de qual policial estava no chalé do Clube da Mata na noite passada. Os principais frequentadores no estabelecimento não estavam ali, nem Ghedi, nem Everton. Paki estava no hospital, passou a noite sentado em uma cadeira nada confortável junto a esposa.

Luís também não foi a padaria como de costume, isso pois chegou em casa exausto pela manhã, após ter passado a noite em claro a procura do marido. Por mais que a transmissão não citasse nomes, tinha certeza que o policial no chalé era Ivo.

Durante a noite Edgar e alguns policiais foram até o chalé, claro que, por pressão da população que se comunicavam pelo rádio:

"O velho de cabelo sujo deve estar bêbado!"

Comentou o delegado, caçoando dos dreads do senhor. Entretanto não houve conversa, não daquela vez. Hernandez era querido pelo povo de Vila Liberdade, conhecido pelo belo trabalho com as crianças e adolescentes no Clube da Mata.

Ao chegar no local, Edgar encontrou o corpo do velho desfigurado ao lado do rádio de comunicação. Um dos policiais não suportou ver a cena brutal, afinal não é comum na pacata cidade ver rostos irreconhecíveis por pancadas.

— Beleza, olha que grande merda aquele filho da puta fez — murmurou Edgar —, vou dar uma chance para aquele imbecil dar no pé, pra não falar que nunca fiz nada por ele. — tendo feito o sinal da cruz, Edgar saiu do chalé.

— O que vamos fazer com o corpo delegado? — perguntou um.

— Deixe esse pobre diabo aí mesmo — respondeu o delegado —, amanhã damos um jeito nisso.

— Mas e se um animal selvagem o devorar? — comentou outro.

— No passado, idosos da laia dele só serviam pra isso mesmo, alimento para animais, ele estará cumprindo seu propósito ancestral — Edgar gargalhou.

Os policiais se assustaram com aquilo, mesmo conhecendo o delegado e sabendo do histórico nada bom do velho manco, ainda sim se incomodaram por Edgar não ter respeito nem pela morte de um homem. Na manhã de terça-feira as buscas começaram, mas as ordens eram de não se esforçarem muito, afinal, Ivo era um deles, então merecia uma carta-branca. Mas no fundo, Edgar temia que, se Ivo fosse preso, ele poderia dizer a todos sobra a visita de Sandra a delegacia a fim de soltar a jovem Luena, o que não seria bem-visto pela população.

Por volta do meio-dia, quando Amara já havia voltado da escola, Nala levou a filha até o hospital. Minutos após a chegar no local, chegou também Kito acompanhado de seu pai, todos se preocupavam com Luena.

— Podemos conversar? — disse Ghedi a Nala.

— Outra hora, tenho que ir para o trabalho — respondeu a policial sem dar muita atenção, voltando para a viatura, ainda estava muito brava com a situação do dia anterior.

Ainda não era oficial – para o povo –, mas a corporação tinha Ivo como principal suspeito do homicídio. Edgar realizou uma lista de confirmação, e o único a não respondê-la foi ele. A comunicação de informações importantes como as posições dos agentes foram proibidas, afinal Ivo ainda estava em posse do rádio da viatura, o comunicador portátil do departamento e o de comunicação popular.

A busca se estendeu pelo resto do dia sem sucesso. Nala havia combinado de buscar a filha no centro da cidade ao entardecer. O plano de Amara era, ver a amiga no hospital, ir até a praça junto a kito, depois retornariam ao hospital. Contudo, as circunstâncias não cooperaram com o planejado.

Quando Nala deixou a filha no hospital, Luena ainda não estava bem para receber visitas, com isso tanto Amara e Kito, tanto Angela — que também estava lá para ver a jornalista — tiverem de esperar. Foi por volta das duas e meia da tarde quando Luena saiu da zona de perigo, deixando o quadro de instabilidade, daí em diante a visitação foi liberada.

Covardes Não Tem Final FelizOnde histórias criam vida. Descubra agora