O Pássaro de Quatro Asas

291 44 702
                                    

Os pés delicados escorregaram pelos lençóis até saírem dos limites da cama, em seguida foram as mãos, num espreguiço exagerado e espaçoso, descobriram-se os braços, depois os rosto, e num impulso lento e gracioso a mulher se sentou, os pés tocaram o chão frio de madeira polida, e o lençol caiu de seu busto.

Enfiou as mãos nos cabelos e puxou-os para cima, a fim de recuperar o volume e desamassá-los. Levantou-se, olhou em volta e catou algumas peças de roupas do chão, vestiu-as encarando o homem que ainda dormia.

— Bom dia, flor do dia! — disse a mulher num tom cômico, sorria levemente, enquanto abotoava a camisa branca de mangas compridas.

Encarava o homem com certo sentimento, não era nítido quais sentimentos moviam aquele olhar, se era amor ou apenas uma felicidade pelos atos recentes, que culminaram na bagunça do quarto, nas roupas pelo chão, nos cabelos bagunçados e nos corpos pegajosos pelo suor. A mulher estava tão distraída admirando seu parceiro, que ficou ali por um instante, segurando a saia com uma mão, enquanto a outra, como se tivesse vontade própria, escorregava corpo afora, estava tão desatenta que não notou o som de passos vindos do corredor.

A porta se abriu

— Pai, estou já in... Eita! — disse um garoto magrelo, com uma mochila nas costas — Desculpa, foi mal! Eu não vi nada, eu juro. — fechou a porta com rapidez.

O pai, rapidamente saiu do estado de sonolência, tomando um susto sentou-se na cama, no rosto transparecia um pouco de vergonha encarando a mulher semi- nua, que apenas sorria, segurando a boca para não fazer barulho.

— Tudo bem filho! — a voz saiu falhada, um pouco rouca e mais grave que o normal — Mas, já? — questionou ao olhar o despertador sob o criado mudo, que indicava 6:45.

— Sim, hoje é o dia da reportagem da Luena, nosso clube vai sair no jornal da cidade — respondeu o garoto aos gritos, assim como o pai.

— Tá certo então — o homem jogou os lençóis para o lado e se levantou.

A mulher que já havia terminado de vestir sua saia, catou o par de sandálias, vermelhas como o esmalte das unhas dos pés e sentou-se na cama para calçá-las.

— Você já tomou café da manhã?

— Sim pai, já tomei — respondeu o garoto —, e fiz ovos com bacon para você, eu não sabia que a Vanessa estava aqui, se quiserem posso fazer mais um.

O garoto tinha a voz quase idêntica a do pai, faltava apenas ficar um pouco mais grave, sua aparência também era semelhante, o porte físico, os olhos, o cabelo crespo, a pele escura como casca de cupuaçu, dentre outras coisas.

— Não filho, deixe comigo, pode ir, tenha um bom dia.

Agora era vez do pai procurar suas roupas pelo quarto

— Bom dia Pai — respondeu o garoto, ajeitando a mochila —, bom dia Vanessa!

Vanessa encarou o pai do garoto, aparentava estar surpresa com o que o garoto disse.

— Bom dia Kito! — disse ela, com certa hesitação — Divirta-se!

— Valeu, pode deixar! — gritou o garoto, a voz já não estava tão perto, logo sons dos passos descendo os degraus, por fim ouviu-se o rangido da porta da entrada, abriu e logo se fechou.

— Viu isso Ghedi, ele me deu bom dia — Vanessa se alegrou —, e ainda falou meu nome, geralmente ele me ignora totalmente — complementou ela.

O homem sorriu, caminhou pelo quarto e enfim achou um short jogado ao chão, quando se abaixou para pegar, um estalo, um tapa, virou-se e Vanessa estava rindo encarando o corpo do parceiro.

Covardes Não Tem Final FelizOnde histórias criam vida. Descubra agora