Mais Uma Cabeça

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Ao fim da tarde, Nala retornou a casa de Paki, estava acompanhada de Amara, e levou todo o dossiê deixado por Sandra. Após algumas minutos de conversa, Paki informou que partiria pouco antes do amanhecer, para evitar a ser visto pelos moradores de Vila Liberdade, disse também que as cartas de pedidos de demissões já haviam sido escritas e seriam entregues por um amigo – um guarda.

— Ok, eu mudei de ideia, é inútil ficar aqui, partirei com vocês — disse Nala —, os documentos de posse da propriedade estão no envelope, depois dê uma olhada, parece uma fazenda ou algo assim.

— Tudo bem, mas leve isso — Paki caminhou até o armário no fim da sala de estar, e de uma gaveta retirou um rádio comunicador —, Mila e eu usamos no canal 8, mantenha contato, ele é do mesmo modelo que a maioria da cidade usa, então o Ghedi deve ter um carregador compatível, se precisar.

Antes que Nala saísse, Luena a entregou a carta deixada por Luis, e falou sobre a morte do mesmo, a saber que, aparentemente ninguém tinha conhecimento daquilo. A policial deixou para ler a carta em casa, contudo não conseguiu, poucos minutos após terem chegado, foram surpreendidas com a visita, Ghedi e Kito estavam à porta, segurando algumas sacolas.

— Sei que não combinamos nada, mas que tal um jantar? — perguntou Ghedi.

Sem demora, pai e filho foram convidados para entrar, e como uma família comum, prepararam o jantar juntos, se divertindo dividindo as tarefas, ouvindo músicas num velho toca-fitas. Os adultos bebiam vinho, os adolescentes, licor de pêssego, isso porque se recusaram a tomar suco de uva, diziam já terrem idade para o álcool. Horas depois do jantar, após terminarem como todo o vinho da garrafa, Nala e Amara ajeitaram o quarto de hóspede, para Kito passar a noite.

— Pronto, daqui você faz o resto — disse Nala deixando a filha concluir as arrumações. — Boa noite, e juízo! — a mãe sorriu.

Amara não deu bola para o comentário da mãe, afinal, no ponto de vista da garota, ela estava entorpecida pelo vinho. Nala desejou boa noite, se despediu e foi até o quarto de Dajan, vendo que o mesmo dormia normalmente, apenas ajeitou o cobertor, e saiu. No quarto, foi direto para o banheiro, ligou o chuveiro e se despiu, entrando debaixo da cascata quente, que logo tornou o ambiente pouco visível, pelo nevoeiro acalorado do vapor.

Ghedi ainda terminava a última taça de vinho, o filho estava ao lado, findando o resto do licor que estava na garrafa. Pai e filho olhavam para frente de si, encaravam algum objeto qualquer, simplesmente por não quererem se olhar nos olhos, ainda estavam se evitando, desde o incidente no porão de Ivo.

— Filho... — Ghedi deu um gole no vinho, e decidiu quebrar o silêncio — Sobre o que aconteceu no porão, sobre sua pergunta.

— Deixa pra lá pai, eu não...

— Não, não posso deixar pra lá — interrompeu o pai se virando para o garoto —, eu te devo um pedido de desculpas.

Os olhos marejavam e a voz já tremia.

— Eu não estava bem naquela época, havia voltado para cá há pouco tempo, e todo o passado que lutei para esquecer, voltou de uma só vez e eu surtei — explicou Ghedi. — Eu vivia dopado para não ver coisas ou ouvir vozes, sua mãe tentou me tirar daqui — pausou —, nos tirar daqui, mas eu estava no ápice da minha paranoia e fiz o que fiz, procurei Dalji por toda a noite e não a encontrei, no dia seguinte fui nas cidades vizinhas e nada, só me restou esperar que ele voltasse como ela disse que faria, mas não aconteceu...

— Acha que ela está bem? A mamãe? — perguntou o garoto, se segurando para não chorar.

— Ela sempre soube se virar muito bem, ela me ensinou muito do que eu sei garoto — o pai sorriu —, eu não sei o que a impediu de voltar, mas acho que sim, ela deve estar bem...

Covardes Não Tem Final FelizOnde histórias criam vida. Descubra agora