Cap 02

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Minha ideia era fazer o aquecimento na esteira e matar o restante do tempo me exercitando em alguns aparelhos, mas, quando vi que a aula de kickboxing para iniciantes estava para começar, decidi me juntar aos alunos que aguardavam.

Quando a aula terminou, senti que havia retomado o controle sobre mim. Meus músculos tremiam, e eu me sentia cansada na medida certa, com a certeza de que dormiria como uma pedra quando me deitasse.

— Você foi muito bem.

Limpei o suor do rosto com uma toalha e olhei para o jovem que havia falado comigo. Magro, embora com uma musculatura bem definida, ele tinha olhos castanhos bem vivos e uma pele morena impecável, café com leite. Seus cílios eram grossos e longos, de fazer inveja, mas os cabelos eram raspados bem rentes.

— Obrigada. — Minha boca se contorceu num lamento. — Está na cara que é a minha primeira vez, né?

Ele sorriu e estendeu a mão. — Acrebiano Araújo, mas pode me chamar de Bill.

— Juliette Freire

— Você leva jeito, Juliette. Com um pouco mais de treino ninguém vai ter coragem de encarar você. Em uma cidade como Nova York, saber se defender é fundamental.

Ele apontou para o quadro de cortiça pendurado na parede. Estava coberto de folhetos e cartões de visita. Apanhou uma folha de um bloco de papel fluorescente e ofereceu para mim.

— Já ouviu falar em krav maga?

— Vi em um filme da Jennifer Lopez.

— Sou professor e adoraria ensinar você. Aí tem meu site e o telefone da minha academia.

Gostei da abordagem dele. Foi bem direta, assim como seu olhar, e o sorriso era autêntico. Imaginei que estivesse querendo me paquerar, mas, se era essa a intenção, ele disfarçou bem o suficiente para me deixar em dúvida.

Bill cruzou os braços, exibindo seus bíceps bem delineados. Ele vestia uma camiseta preta sem mangas e uma bermuda comprida. Seu tênis tinha a aparência surrada dos calçados realmente confortáveis, e era possível ver as tatuagens tribais que se estendiam até pouco abaixo de seu pescoço.

— No site tem todos os horários. Você pode assistir a uma aula, só pra ver se gosta.

— Vou pensar a respeito, pode deixar.

— Muito bem. — Ele estendeu a mão e me cumprimentou com firmeza e confiança. — Espero ver você de novo.

Um cheiro maravilhoso se espalhava pelo apartamento quando cheguei, e a voz de Adele saía cheia de emoção das caixas de som, cantando Chasing Pavements.

Olhei para o outro lado da sala integrada com a cozinha e vi Camilla balançando ao som da música enquanto mexia alguma coisa perto dela. No balcão, havia uma garrafa de vinho tinto e duas taças, uma delas pela metade.

— Ei. — Eu chamei ao me aproximar. — O que você está fazendo aí? Dá tempo de tomar banho primeiro?

Ela serviu o vinho na outra taça e a arrastou pelo balcão até mim com movimentos seguros e elegantes.

Olhando para Camilla, ninguém seria capaz de dizer que ela passou a infância entre temporadas com a mãe viciada em drogas e lares adotivos, e a adolescência em reformatórios juvenis e centros de reabilitação estatais.

— Macarrão à bolonhesa. E deixe o banho para mais tarde, já está pronto. Se divertiu bastante?

— Lá na academia, sim. — Puxei um dos banquinhos de madeira do balcão e me sentei. Contei a ela sobre a aula de kickboxing e sobre Bill Araújo. — Quer ir comigo?

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